Em artigo para escrito para o site Diálogo Américas intitulado “A influência da China destrói a América Latina”, a jornalista Julieta Pelcastre revela o que na sua visão são os pontos negativos de os países da América do Sul negociarem com a China. Para ela, por meio de sua política de “Uma China”, o Partido Comunista da China (PCC), busca pressionar os países latino-americanos a não reconhecerem Taiwan, estendendo sua hegemonia na região.
No entanto, essa busca por influência levanta preocupações sobre as políticas e práticas da China, que incluem subornos, controle de setores estratégicos e impactos ambientais negativos.
O site indiano Firstpost, por sua vez, afirma que a China tem utilizado sua força econômica na América Latina para obrigar nações pequenas e em desenvolvimento a romper relações com Taiwan e aceitar a hegemonia chinesa. Atualmente, apenas 13 países reconhecem Taiwan, sendo sete deles na América Latina. Antes de Honduras, Panamá (2017), El Salvador (2018), República Dominicana (2018) e Nicarágua (2021) sucumbiram à pressão chinesa e romperam relações diplomáticas com Taiwan.
Essa região é considerada crucial para Pequim impor sua hegemonia, e a China se recusa a estabelecer relações diplomáticas com governantes que reconhecem a ilha como independente.
A estratégia chinesa
A estratégia chinesa na América Latina envolve o estabelecimento de regras e padrões de acordo com seus interesses, o que levanta preocupações sobre a falta de freios e contrapesos em seu modelo de desenvolvimento.
“Pequim usa sua força econômica na América Latina para pressionar e atender a seus interesses geopolíticos e usa subornos para quebrar as decisões de alguns governos de se relacionar com Taiwan”, disse ao Diálogo Jorge Serrano, membro da equipe de assessoria da Comissão de Inteligência do Congresso do Peru.
Pelcastre menciona ainda o alerta de especialistas acerca da busca da China de assumir o controle direto de setores estratégicos, como energia, portos, aeroportos e minerais, usando práticas corruptas, subornos e espionagem industrial. Isso tem sido observado em países como o Peru, onde empresas chinesas ganham contratos de construção de infraestrutura de forma corrupta.
Além disso, a crescente demanda da China por recursos minerais e agrícolas na região tem levado a uma dependência excessiva em relação a um único parceiro, envolvendo as paisagens locais e causando impactos ambientais. Vários projetos chineses na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru e Venezuela têm sido criticados por graves abusos aos direitos humanos e impactos ambientais negativos.
Estagnação econômica, apesar dos investimentos
Embora a China tenha concedido subsídios para países latino-americanos, isso não tem melhorado a qualidade de vida das pessoas, como visto na Bolívia, Cuba e Venezuela. Os governantes dessas nações são acusados de terem suas “almas compradas” pela China, conseguindo, em seus governos ditatoriais, apenas crises frustradas e poucos benefícios reais para a população.
“Não há dúvida de que o objetivo da China é devorar completamente a presa […] comê-la completamente, essa é a nova forma de Pequim agir na região”, disse Serrano. “A China sabe que muitas empresas latino-americanas são fracas e está caçando essas empresas, jogando sujo e usando muita espionagem industrial.”
“O resultado da intromissão chinesa pode ser visto na Bolívia, Cuba e Venezuela. A China comprou as almas dos governantes dessas nações”, acrescentou Serrano. “Deu-lhes empréstimos para o futuro, mas no final não melhorou a qualidade de vida das populações.”
“Estamos vendo uma amostra de todo o pacote negativo que os países que se aliaram à China estão colhendo. Essa é a mensagem que se passa com esse vínculo com o regime chinês: governos ditatoriais, antidemocráticos e crises econômicas terríveis”, concluiu.
Além da economia
Segundo o Firstpost, os interesses da China na América Latina vão além da esfera econômica, envolvendo também interesses militares. Segundo relatórios, a China tem vendido armas para países como Venezuela, Bolívia, Equador e Cuba, estabelecendo laços militares significativos por meio de vendas de armas, programas de intercâmbio e treinamentos.
Além disso, a China tem expandido sua influência militar na região por meio de programas de educação militar profissional e intercâmbio de oficiais, visando doutrinar as forças armadas latino-americanas na política e doutrina militar chinesa. Essas ações têm resultado em um aumento significativo do treinamento militar de militares latino-americanos pela China, superando os Estados Unidos desde 2015.
Impacto no Brasil
Voltando ao Diálogo Américas, no artigo é mencionado que o Coletivo de Finanças e Investimentos Chineses, Direitos Humanos e Meio Ambiente (CICDHA) apresentou às Nações Unidas preocupações sobre os “graves abusos” dos direitos humanos e impactos ambientais de 14 megaprojetos chineses em diversos países da América Latina, incluindo o Brasil. Esses projetos podem estar relacionados a investimentos chineses em infraestrutura, energia, mineração ou outros setores estratégicos.
Os detalhes específicos sobre esses projetos, porém, e suas consequências, não foram mencionados no artigo, mas é possível inferir que o CICDHA tenha levantado questões relacionadas à violação dos direitos humanos, deslocamento forçado de comunidades locais, degradação ambiental e impactos socioeconômicos negativos decorrentes desses projetos.
Fonte: Diálogo Américas e Firstpost