Matéria recente da Revista Sociedade Militar revelou aos pagadores de impostos em torno de que eixo realmente orbitam as preocupações do comandante da Marinha do Brasil, almirante Marcos Sampaio Olsen.
Segundo falas do próprio almirante “em função do quadro orçamentário a Marinha tem perdido capacidade de atuação”. Acontece que, conforme apuração feita pela matéria, a Marinha não deixou a “crise orçamentária” que a assola entrar na cozinha nem estragar a festa.
Lotes de utensílios de fino cristal a R$ 172,89 cada unidade. Um lote com 20 unidades de taças custou aos cidadãos brasileiros, que arcam com os impostos, a quantia de R$ 3.457,80. Até os copos adquiridos para o consumo de água no gabinete do Comando da Marinha são de altíssimo nível, custando R$ 167,88 cada.
DADOS RAROS
Números sobre evasão de militares das Forças Armadas.
É possível que este seja o tipo de informação que os comandos militares tendam a deixar no fundo da gaveta, não só por questões de vaidade, mas também por segurança. Não que tais dados sejam reservados, mas sem dúvida são intrinsecamente sensíveis. Nem no Portal de dados abertos (https://dados.gov.br) conseguimos obter tal informação.
Porém, como o dever do jornalismo é em essência informar, mesmo que a informação esteja em dados brutos, contornamos a dificuldade de encontrá-la pronta, “criando” através de pesquisa e tratamento dos dados os números referentes às evasões de oficiais da Força Aérea Brasileira.
Selecionamos uma faixa específica da hierarquia militar. Pesquisamos nos órgãos governamentais quantos oficiais entre primeiro-tenente e major pediram demissão entre os anos de 2019 e 2023. É dentro desse intervalo de postos que ocorrem mais frequentemente as demissões a pedido, isto é, quando o militar voluntariamente “pede para sair”.
Mas, o leitor pode se perguntar: “qual a relevância disso?” “Por que eu preciso saber quantos militares saem de uma Força Armada e com que frequência?” Simples. A resposta é que evasão tem relação, ainda que indireta, com a gestão mais ou menos eficiente dos nossos impostos.
Pela matéria que publicamos na RSM soubemos quanto custa um general no Brasil. Pouco mais de 10% dos tenentes aviadores alcançarão o posto máximo de tenente-brigadeiro, e até chegar lá a nação terá investido enormes (e infelizmente imensuráveis) recursos na formação desse militar. Imaginamos ser de interesse da sociedade saber se os comandos militares estão administrando bem esse aporte gigantesco de dinheiro.
O ideal, já que temos Forças militares, é que o profissional não precise (pois as demissões, em sua maioria, costumam ter motivações financeiras) procurar outro emprego, jogando no lixo todo o investimento que foi feito em seu aprimoramento.
Tanto a tabela quanto os gráficos podem ser consultados no link https://github.com/veteranistao/RSM (tabela “evasão_fab”). Vamos aos números, que falam por si mesmos.
OS NÚMEROS
O nosso universo de pesquisa são 253 oficiais, de 1T a Mj, entre os anos 2019-23, das seguintes especialidades Aviador (Av); Intendente (Int); Infante (Inf); Médico (Med); Engenheiro (Eng); Dentista (Den); Outros (Out).
No intervalo pesquisado (2019-23), 253 oficiais (de 1T a Mj) pediram demissão do serviço ativo da FAB. Sendo 186 1T, 57 Cp e 10 Mj. Se classificarmos por especialidade, os números são os seguintes:
Pela tabela 1 acima, os médicos e engenheiros lideram as baixas com quase 40% das evasões. Embora não represente muito em números absolutos, chama a atenção o número de aviadores, que somam 16% das baixas. E é muito provável que, apesar de serem poucas saídas, algum futuro comandante de Força, possa estar entre esses 41 evadidos.
A tabela 2 acima nos fornece o seguinte. Há um crescendo de evadidos à medida que a idade diminui. Essa tendência é o que se espera. Majores e capitães evitam correr risco, pois normalmente já são chefes de família. Os jovens têm naturalmente menos compromissos.
Porém, na segunda parte da tabela 2 a tendência se inverte, quando se trata dos aviadores. Observamos que 40% das evasões entre os aviadores são de majores. Entre os capitães são 28%. Já entre os primeiros-tenentes (que são praticamente o triplo da soma dos dois postos superiores) apenas 11% pediram demissão.
Muitas análises podem ser extraídas desses números, que podem ser abordados sob diferentes perspectivas. Muitos direcionamentos e políticas para uma melhor administração das Forças Armadas também podem emergir desses números tão simples. Lamentavelmente dados desse tipo não são disponibilizados (se é que existem!).
JB Reis – Revista Sociedade Militar