A China está em franco processo de financiar ou construir grandes projetos de infra-estruturas na Argentina. O objetivo é, primordialmente, expandir a influência chinesa na América do Sul. Um porto, uma usina nuclear, uma central elétrica e um radiotelescópio estão entre os projetos.
Apesar de serem obras aparentemente inofensivas, para os especialistas, entretanto, os projetos são na verdade motivo de preocupação.
“Ser ‘parceiro’ da China é um jogo perigoso”, disse Juan Belikow, professor de Relações Internacionais da Universidade de Buenos Aires .
Segundo o especialista, o risco é que a China empreste dinheiro a países com dificuldades econômicas sabendo que não terão condições de pagar. Assim, os projetos são frequentemente dotados de contratos não transparentes que podem levar à perda de soberania ou à utilização militar de instalações científicas. Isso já aconteceu com a Estação Espacio Lejano, cuja antena gigante de 35 metros de diâmetro é operada por militares chineses na província de Neuquén, na Patagônia argentina.
A antena foi instalada em 2017, mas as atividades que as autoridades chinesas realizam ali ainda são desconhecidas.
Aspecto estratégico importante
A China também participa da construção do maior radiotelescópio da América do Sul, o Radiotelescópio China Argentina, conhecido como CART. O CART possui uma estrutura de 1.000 toneladas e 40 metros de diâmetro que ficará localizada no Complexo Astronômico El Leoncito, na província argentina de San Juan.
Os chineses também pretendem construir duas grandes instalações na província argentina da Terra do Fogo. Uma delas será um porto com vista para a Antártida. Já a outra, uma central elétrica.
“O documento afirma que o Shaanxi Chemical Group investirá 1,2 bilhão de dólares na província para a construção de uma planta industrial com capacidade anual de 600 mil toneladas de amônia sintética, 900 mil toneladas de ureia e 100 mil toneladas de glifosato”, informou o diário argentino Clarín. “Isso envolverá a construção de um terminal portuário polivalente com recinto interno, para a atracação de navios de 20.000 toneladas, ou seja, um porto chinês na Argentina e uma usina de 100 MW”, acrescentou o jornal.
Belikow sublinhou que o porto e a central têm um aspecto estratégico importante: o controle da travessia bioceânica. “O Ártico torna-se uma alternativa muito atraente para o comércio internacional à medida que as calotas polares derretem.”, disse Belikow. “Mas é precisamente por isso que está é objeto de atritos político-militares entre as grandes potências que querem controlá-lo.”
Segundo Belikow, o porto e a central elétrica que a China quer construir na Terra do Fogo têm outro significado: “a projeção da China sobre a Antártida em questões científicas, potencialmente económicas, turísticas e, sobretudo, de soberania e militares”.
Usina Nuclear
Os chineses também pretendem financiar a construção da usina Atucha III, que será a quarta central nuclear da Argentina. Em fevereiro de 2022, o governo argentino anunciou um contrato com Pequim no valor US$ 8,3 bilhões para a construção da usina. Desde então, a Argentina tem pressionado a China para financiar integralmente o projeto.
Em agosto de 2022, Jimena Latorre, deputada da província de Mendoza e secretária da Comissão de Energia e Combustíveis, expressou sua preocupação com o acordo. “[Trata-se de um] financiamento, que não é o mesmo que investimento. Financiamento chinês com um reembolso cuja viabilidade financeira não é conhecida”, disse Latorre ao canal TN .
Segundo Latorre, o custo final da usina nuclear poderá chegar a US$ 14 bilhões, considerando os desenvolvimentos que recairão sobre a Argentina e que não estão contabilizados no contrato. “É um contrato fechado e chave na mão, o que dificulta a transferência de tecnologia e know-how para que mais tarde [Atucha III] possa ser operado”, declarou a deputada.
Fontes: Dialogo Americas / Todo Noticias / Clarín