O envolvimento da China no mais recente conflito na Faixa de Gaza segue na contramão de países como os Estados Unidos, que se apressaram em condenar o ataque terrorista do Hamas. Os americanos chegaram a enviar dois grupos de ataque de porta-aviões para o Mediterrâneo Oriental. Além disso, preparam o envio de 2.000 soldados para dissuadir quaisquer outros intervenientes de ampliar a guerra na região.
Biden também visitou Israel numa demonstração de solidariedade. Uma reunião chegou a ser marcada entre o presidente americano e vários líderes árabes, mas infelizmente foi cancelada após uma explosão no Hospital Al Ahli, em Gaza, na qual centenas de pessoas foram mortas.
Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, e o presidente francês, Emmanuel Macron, também visitaram Israel, enquanto a ministra das Relações Exteriores do Japão, Yoko Kamikawa, viajou para Israel e Jordânia.
Pequim, no entanto, se comporta de maneira diferente.
Posição cautelosa
Em contrapartida, nem Xi Jinping nem o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, visitaram a região do conflito desde o início dos combates.
Xi apelou a um cessar-fogo, enquanto Wang disse que a origem do conflito “reside no fato de que a justiça não foi feita ao povo palestino” e que a “punição coletiva” dos palestinos deve acabar.
Tais declarações seguem o manual básico chinês quando surge um conflito entre israelenses e palestinos, de acordo com William Figueroa, professor assistente da Universidade de Groningen. O professor conduz pesquisas sobre a relação da China com os países do Médio Oriente.
“A China inicialmente assume uma postura muito cautelosa e depois apela à paz e condena a violência contra civis, concentrando-se principalmente nas queixas palestinas”, disse o professor à Al Jazeera.
Israel-Palestina na estratégia de Pequim para o Médio Oriente
Imediatamente após o ataque do Hamas a Israel, o governo chinês foi acusado de responder apenas em termos vagos e de adotar um tom evasivo. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês apelou à calma, ao exercício da contenção e absteve-se de condenar o grupo terrorista Hamas.
Pequim tem tradicionalmente priorizado as relações com os palestinos no conflito.
Durante a era de Mao Zedong, Pequim considerava a luta palestina pela terra como parte do movimento de libertação nacional mundial, de acordo com Hongda Fan, professor do Instituto de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai.
“A compreensão da Questão Palestina ainda decorre em grande parte desta percepção”, disse Fan à Al Jazeera.
Em 1965, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) foi autorizada a abrir uma missão diplomática na China e transformada em embaixada em 1974.
No entanto, a China também expandiu os seus laços com Israel.
A China estabeleceu relações diplomáticas plenas com Israel em 1992 e desde então investiu milhões na sua economia – sendo os seus investimentos nos territórios palestinos insignificantes em comparação.
Opondo-se aos EUA
A posição evasiva colocou o governo chinês em conflito com os EUA.
Embora tenha havido uma ausência de liderança diplomática chinesa no conflito, segundo analistas, a China tem sido mais aberta nas suas críticas a Washington.
Num editorial no China Daily, controlado pelo governo, o jornal acusou os EUA de “colocar lenha na fogueira ao apoiar cegamente Israel no conflito em curso”. O jornal estatal Global Times disse em seu próprio editorial que os EUA estavam “manchados com o sangue de civis inocentes” depois que os EUA vetaram, em 18 de outubro, uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, redigida pelo Brasil. A diplomacia brasileira pedia uma pausa humanitária no conflito para permitir a entrada de ajuda em Gaza.
Em 27 de Outubro, uma resolução apresentada à Assembleia Geral da ONU, redigida pela Jordânia, recebeu o apoio de 120 países. Os EUA votaram contra, enquanto a China votou a favor.
Antes disso, a China, juntamente com a Rússia, vetaram um projeto de resolução dos EUA que afirmava o direito de Israel a defender-se. Além disso, a resolução americana exigia que o Irã deixasse de exportar armas para grupos de linha dura.
Pequim é o presidente do Conselho de Segurança deste mês e disse que a guerra Israel-Gaza será uma prioridade.
Fontes: Al Jazeera / China Daily / Global Times