A Argentina está definitivamente em um estado econômico alarmante. Dia após dia, notícias de inúmeros jornais e portais do mundo todo demonstram que o país está a beira do caos, senão, já totalmente mergulhado nele.
A inflação anual atingiu patamares superiores a 140%. Até o próximo ano, espera-se que atinja pelo menos 200%. Pior: hoje, quatro em cada dez argentinos vivem na pobreza. A economia aproxima-se da sexta recessão da década. Para o presidente recém eleito, Javier Milei, certamente, haverão inúmeros obstáculos e desafios.
No entanto, apesar da crise, como atualmente vivem, de fato, os argentinos? Se comparados com o resto do mundo, qual sua posição nos âmbitos econômicos e sociais? Afinal, o país tem salvação?
A Revista Sociedade Militar resolveu investigar os números mais recentes sobre a sociedade e a economia argentinas. Os resultados foram, sem dúvida, surpreendentemente diferentes do que se poderia imaginar.
Índice de Desenvolvimento Humano
O Índice de Desenvolvimento Humano, ou IDH, foi estabelecido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, ou Pnud. O índice serve para pontuar as condições sociais, educacionais e econômicas de um país. Trata-se de uma ferramenta indispensável para avaliar o bem-estar de uma determinada população, de forma simples de compreender.
Nesse quesito, contrariando as notícias e o pessimismo generalizado, a Argentina certamente surpreende.
De acordo com os dados do Pnud, em 2021, por exemplo, o Brasil tinha uma avaliação de 0,754 no índice, descendo da 86ª para a 87ª posição no ranking de IDH. O. Já a Argentina, que ocupa a 47ª posição, tinha 0,842, considerado muito alto.
Segundo o índice, Argentina tem surpreendemente uma pontuação similar até mesmo a alguns países europeus considerados desenvolvidos. Portugal possui uma avaliação de 0,866 no IDH. A Hungria, apenas uma posição acima da Argentina, é avaliada no índice com 0,846.
Quando se fala em América Latina, a Argentina só pede mesmo para o Chile, o 42º colocado no ranking, com avaliação de 0,855.
Criminalidade
As taxas de criminalidade variam muito de país para país e são influenciadas por muitos fatores. Por exemplo, elevados níveis de pobreza e desemprego tendem a inflacionar as taxas de criminalidade. Por outro lado, a aplicação rigorosa da lei e penas severas tendem a reduzir o crime. Existe também uma forte correlação entre idade e crime, com a maioria dos crimes, especialmente crimes violentos, sendo cometidos por pessoas com idade entre os 20 e os 30 anos.
A taxa geral de criminalidade é calculada dividindo o número total de crimes denunciados pela população total. Em seguida, multiplica-se esse número por 100.000, resultando no valor do índice.
Nesse quesito, por exemplo, a taxa geral de criminalidade nos Estados Unidos é de 49,2, de acordo com dados do Numbeo. Já o Brasil, por sua vez, com números excepcionalmente altos de crimes violentos, tem a décima terceira maior taxa de criminalidade do mundo, 66,1.
A Argentina, no entanto, tem uma taxa de criminalidade geral ligeiramente menor, 64,0.
No entanto, se formos calcular apenas homicídios, os argentinos tem uma taxa quase 6 vezes menor que a brasileira. Por lá, há cerca de 5,32 homicídios a cada 100.000 habitantes. No Brasil, são 27,38.
O país considerado o pior no ranking é a Venezuela, com uma taxa de criminalidade de 82,1. O mais seguro do mundo, talvez surpreendentemente, é o Qatar, com a mais baixa taxa de criminalidade de todas, 14,5.
Alfabetização
A capacidade de ler e escrever é indiscutivelmente o fator mais importante para determinar sobretudo o futuro de um cidadão. Ser alfabetizado em um mundo cada vez mais digital é, mais do que uma simples habilidade, uma questão de sobrevivência, principalmente em áreas urbanas.
No geral, a taxa de alfabetização global é elevada. No mundo todo, meninos e meninas com até 15 anos já estão cerca de 86,3% alfabetizados. Quando comparamos país por país, no entanto, podemos encontrar enormes diferenças.
Alguns dos países mais alfabetizados do mundo incluem, não surpreendentemente, Finlândia, Noruega e Luxemburgo, com uma taxa de alfabetização considerada, para fins estatísticos, 100%. Países do antigo bloco soviético, como Uzbequistão, Letônia, Estônia, Lituânia, Azerbaijão e até mesmo Cuba tem similarmente taxas de alfabetização elevadíssimas, na casa dos 99%. O mesmo ocorre com países desenvolvidos na Europa e América do Norte, todos também com taxas em torno de 99%.
Na América do Sul, no entanto, as coisas mudam. No Brasil, 92,59% da população pode ser considerada alfabetizada. No Chile, 96,62%. A Argentina, contudo, aparece como segundo colocado regional: 98.09% da população é alfabetizada. Em toda a América Latina, somente o Uruguai tem taxas maiores de alfabetização, com 98,44% dos seus habitantes sabendo ler e escrever.
Economia
A Argentina hoje é considerada o quarto pior país do mundo no ranking de inflação. De acordo com o WorldData, somente Líbano, Sudão e Zimbábue tiveram resultados piores que os argentinos no ano passado.
No entanto, o país ainda consegue surpreender em alguns quesitos econômicos, entre eles, o chamado PIB PER CAPITA. No PIB per capita se calcula o produto interno bruto dividido pela quantidade de habitantes de um determinado país. O PIB é soma de todos os bens desse país e, ao menos na teoria, quanto maior o PIB, mais esse país é desenvolvido.
A Argentina teve diversas variações negativas de PIB nas últimas décadas. Surpreendentemente, são menores do que as variações no PIB brasileiro, conforme mostra gráfico do próprio Banco Mundial.
Quando se fala em PIB per capita, os argentinos estão acima de muitos países com economias maiores, até mesmo do Brasil. De acordo com dados do Banco Mundial, o PIB per capita argentino é de U$ 13,686. Esse valor é muito acima do brasileiro, de apenas U$ 8,917. Semelhantemente, a Argentina está a frente da China, com U$ 12,720 de PIB per capita.
O maior PIB per capita do mundo é o de Mônaco. Esse valor por lá é de surpreendentes 234.000 dólares.
Esperanças de um futuro melhor
Hoje, a Argentina tem a inflação mais elevada do G20. Os extraordinários problemas fiscais e monetários do país desafiam soluções fáceis.
Contudo, com a formação de um novo governo após as eleições, é possível que se trace um novo paradigma para os argentinos. E, quiçá, se recupere primordialmente das incontáveis crises, voltando a ter crescimento e prosperidade.
É claro que quaisquer soluções que o governo argentino institua devem ser sobretudo congruentes com o mercado. O dinheiro flui para onde os investimentos são inegavelmente mais promissores e menos voláteis, e a Argentina não é um lugar assim há muito tempo. Na verdade, reavivar a sua vitalidade económica após quase um século de reveses e estagnação exigirá principalmente habilidade e liderança nos domínios fiscal e monetário tão grandes como Messi demonstrou em campo na última copa.
Fontes: Numbeo / Banco Mundial / PNUD / ONU / Ocindex / Our World In Data / World Population Review / World Data / Brasil Em Mapas