Com o aumento das tensões devido a uma disputa de décadas sobre o território rico em petróleo de Essequibo, entre Venezuela e a Guiana, muito se especula sobre como um eventual conflito se desenrolará envolvendo os dois países.
Principalmente após a aprovação do referendo realizado na Venezuela, onde os venezuelanos apoiaram a criação de um novo estado na região de Essequibo, o clima esquentou, com muita gente se questionando se haverá, ou não, de fato, uma guerra entre guinanenses e venezuelanos. Até mesmo o Exército Brasileiro está preocupado com a escalada das tensões.
De acordo com as autoridades eleitorais da Venezuela, mais de 95% dos eleitores aprovaram as questões elaboradas pelo governo. No entanto, a Corte Internacional de Justiça já decidiu, na semana passada, que a Venezuela não pode tentar anexar a região disputada, independente do resultado do referendo.
Contudo, a Revista Sociedade Militar decidiu investigar: se houver realmente uma eventual guerra entre os dois países, quão bem preparados Venezuela e Guiana estarão pra se enfrentar?
Davi X Golias
A Força de Defesa da Guiana é um serviço unificado com Exército, Corpo Aéreo, Guarda Costeira e Milícia Popular da Guiana, ou reservistas. A FDG tem aproximadamente 3.000 membros ativos.
O estoque limitado das Forças de Defesa da Guiana é composto principalmente de plataformas usadas de diversos fornecedores estrangeiros, incluindo Brasil, China, a antiga União Soviética, Reino Unido e EUA. Desde 2000, a Guiana recebeu pequenas quantidades de equipamento militar do Brasil, China e Reino Unido.
Já as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas é composta por diversos ramos. Além do Exército Bolivariano, os venezuelanos também tem a Marinha Bolivariana, que inclui fuzileiros navais e Guarda Costeira, a Aviação Militar Bolivariana, a Guarda Nacional Bolivariana e a Milícia Bolivariana.
As Forças Armadas da Venezuela contam atualmente com 123000 militares da ativa, sem contar a Guarda Nacional e as Milícias. Esses números podem incluir um adicional de até 30.000 homens.
O inventário da FANB é principalmente de origem chinesa e russa, com um mix menor de equipamentos de países ocidentais como França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Reino Unido e EUA. Desde 2010, a Rússia é de longe o principal fornecedor de equipamento militar para a Venezuela, seguida pela China, Espanha e Ucrânia.
A diferença entre os orçamentos militares dos dois países é gritante. Os gastos militares da Guiana são pouco menores que 90 milhões de dólares anuais. Os venezuelanos gastam o equivalente a U$4,8 bilhões.
Guiana dependente de ajuda internacional
A esperança da Guiana em caso de emergência militar repousa, em grande parte, na presença robusta de empresas estrangeiras explorando seus recursos naturais, com a ExxonMobil. A ExxonMobil, uma empresa americana, lidera as operações para extrair petróleo em Essequibo. Em resumo, a estratégia geral é esperar que os EUA intervenham, por assim dizer.
No entanto, a perspectiva de um conflito militar parece mais alinhada às fantasias da esquerda e da direita radical da América Latina do que à realidade. A ideia de que os russos, apoiadores da ditadura de Caracas, teriam interesse em um conflito na vizinhança geopolítica dos EUA é, na prática, questionável.
Apesar da desigualdade que sugere uma incursão sem interferência externa, há outras considerações a serem feitas, especialmente de natureza geográfica. Grande parte dos 800 km de fronteira entre Venezuela e Essequibo está em território de selva densa, praticamente intransponível, a menos que por pequenas unidades. Operações com blindados, consideradas padrão para conquistas territoriais, são impraticáveis.
A estratégia mais lógica para o ditador Nicolás Maduro seria um ataque aerotransportado aos centros urbanos de Essequibo, combinado com um desembarque anfíbio pelo Caribe. Para isso, ele conta com cerca de cinco C-130H Hércules mais antigos e oito Y-8 chineses mais recentes, aliados a sete navios de desembarque anfíbio.
Sem ajuda externa, a capacidade de resistência da Guiana a um ataque é praticametne nula. Na marinha, eles têm apenas dois barcos de patrulha costeira, em comparação com uma frota que, embora não seja poderosa, é significativamente maior do que a do rival. Os venezuelanos contam com duas fragatas, um submarino e nove navios de patrulha.
Fonte: Montedo / Index Mundi