A situação diplomática do Brasil com Israel está seriamente abalada desde as últimas declarações do presidente Lula, nas quais comparou as ações de guerra israelenses ao método de extermínio de judeus praticados durante a Segunda Guerra Mundial pelos nazistas.
Então, no dia 1º de março, o Senado Federal publicou através do Diário Oficial da União a Resolução nº 1 de 2024 que instituiu o grupo parlamentar Brasil-Líbano. Apesar das poucas notícias veiculadas sobre o assunto, isso não poderia passar despercebido aqui na RSM, pois há alguns problemas embutidos nessa parceria, principalmente diante do atual cenário bélico entre Israel e a união Hamas/Hezbollah.
A Resolução nº 1 foi assinada pelo senador Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal.
Por que agora?
A interpretação de fatos políticos e o senso crítico sobre certas notícias é algo que demanda muito tempo de leitura e uma boa dose de conhecimento geopolítico. Entretanto, essa notícia sobre a parceria entre os parlamentares dos dois países é uma ação que pode ser interpretada pelas lideranças israelenses como mais uma afronta.
O Hezbollah é hoje visto no Líbano como uma força política, tal como aconteceu na Colômbia com as FARC, mas é indiscutível que sua vertente extremista oferece perigo real a Israel e outros países alinhados com os israelenses.
Frente ao atual clima de tensão diplomática entre nosso país e Israel, o ideal – do ponto de vista estratégico – seria evitar novas ações que denotem descaso com a crise bélica que atinge Israel, um histórico aliado do Brasil.
Não há como afirmar quais são as reais intenções por trás dessa atitude do Senado Federal – e que também englobará a Câmara dos Deputados -, porém é preocupante assistir políticos tomando ações que mostram pouco tato diante de situações diplomáticas e políticas.
O que fará esse grupo parlamentar?
De acordo com a Resolução em pauta, o grupo parlamentar (composto por membros voluntários do Congresso Nacional) estabelecerá uma relação de parceria e troca de informações com os parlamentares libaneses, o que inclui visitas de ambas as partes.
Assim está estipulado no artigo 3º, parágrafo único da resolução:
O Grupo Parlamentar poderá manter relações culturais e de intercâmbio, bem como de cooperação técnica, com entidades nacionais e estrangeiras.
O que é o Hezbollah?
Famoso grupo terrorista financiado pelo Irã e Síria, o Hezbollah tem poder político não apenas no Líbano, mas em outros países como Iraque e Iêmen. Alguns países temem o poderio bélico do Hezbollah, fato que o colocou entre os mais perigosos do mundo.
Dentre os países que classificam o grupo como terrorista estão: EUA, Israel, Alemanha, Reino Unido, Canadá, Argentina, certos países da Liga Árabe, entre outros. Recentemente uma célula do grupo tentou recrutar brasileiros para executar um atentado terrorista contra judeus em nosso país, conforme noticiado no G1.
O Hezbollah ganhou força ao conseguir a saída dos israelenses do Líbano, fato que lhe concedeu grande prestígio junto aos xiitas (grupo muçulmano). Também ajudou a Síria contra o Estado Islâmico.
Ataques terroristas.
Os mais famosos atos terroristas do grupo Hezbollah contam com ações como o atentado a bomba em Istambul, em maio de 2011, que feriu oito civis turcos. Atacou também um ônibus na Bulgária no ano de 2012, resultando em sete mortos, dos quais cinco eram israelenses. Recebeu acusações formais do Tribunal Especial para o Líbano que atribuíram a morte do líder político Rafik Hariri, morto em 2005 por um ataque a bomba, que também vitimou mais 21 pessoas.
O líder do grupo, Hassan Nasrallah, já elogiou publicamente seus asseclas que se suicidaram e mataram consigo cidadãos israelenses em diversos atentados terroristas, fato que ganha em veracidade ao termos o recente episódio dos integrantes do grupo presos no Brasil por recrutar pessoas com o intuito de matar israelenses em nosso país.
Consequências da parceria entre os dois países.
Inicialmente, o esperado desconforto entre Brasil e Israel ganhará ainda mais vulto. Mesmo diante de uma parceria puramente política, a atitude do Senado pode trazer ainda mais animosidade entre nós e os israelenses.
A longo prazo, por sua vez, devemos relembrar que Israel é um país aliado às maiores potências militares e políticas do mundo. Não há lógica em buscar “troca de informações” com um país que acoberta terroristas, assim como não há perspectivas diplomáticas benéficas para o Brasil, visto que o Líbano é um país politicamente instável, cuja representatividade política por parte do Hezbollah é pequena.
Apesar da pertinência do Líbano dentro da região, ter uma parceria com esse país não trará – ao menos em um breve período – melhorias ou ensinamentos que sejam suficientes para pôr em risco a já abalada diplomacia com Israel, este um país muito mais poderoso e importante no cenário geopolítico mundial.