No dia 23 de maio, em Pequim, o assessor especial do presidente Lula, Celso Amorim, assinou um acordo com o governo chinês, esclarecendo a proposta de um “clube da paz” para resolver a guerra entre Rússia e Ucrânia, uma das marcas da política externa da gestão Lula 3.
A iniciativa, ainda vaga em seus detalhes, foi descrita anteriormente por Lula como uma analogia a uma conversa de bar.
A proposta de paz de Lula parte de sua interpretação do conflito. Diferente da visão da maioria das nações que distingue a Rússia como agressora e a Ucrânia como vítima, Lula equipara ambos os lados, atribuindo responsabilidade igual pela guerra.
Em entrevista nos Emirados Árabes no ano passado, Lula afirmou: “A decisão da guerra foi tomada por dois países. O presidente Putin não toma a iniciativa de parar, o Zelenski não toma a iniciativa de parar. A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra.”
O acordo com a China reflete essa postura. Sem condenar a invasão russa, o documento sugere que ambas as partes observem três princípios: evitar a expansão do campo de batalha, impedir a escalada dos combates e evitar provocações.
Segundo Amorim, a busca é por uma “paz possível”, e ele destacou que há sinais de abertura ao diálogo por parte do governo russo.
Em recente entrevista, Putin declarou estar disposto a retomar negociações, mas insistiu que estas devem ser baseadas na situação atual do terreno, ou seja, nas condições estabelecidas pela ocupação russa.
Esse posicionamento suscita críticas, pois a “paz possível” de Amorim não se alinha aos princípios consagrados pela Constituição brasileira, como a independência nacional e a autodeterminação dos povos.
Observadores apontam que a complacência ocidental após a anexação da Crimeia em 2014 incentivou a nova invasão da Ucrânia em 2022. Há temores de que o Brasil, ao normalizar a ocupação atual, possa encorajar futuras agressões de Putin.
A China, interessada nessa normalização, tem se beneficiado economicamente, comprando commodities russas a preços reduzidos e expandindo sua influência sobre a economia russa. Paralelamente, prepara-se para um possível conflito com Taiwan, desgastando as nações ocidentais.
Críticos argumentam que o Brasil não necessita de tal alinhamento geopolítico para manter e expandir o comércio com China e Rússia. A política externa brasileira, tradicionalmente baseada no soft power e nas vantagens comparativas do país, é vista como mais eficaz em um mundo regido por regras internacionais, e não pela força bruta.
A assinatura do acordo em Pequim levanta questões sobre os rumos da política externa brasileira e seu alinhamento com potências que priorizam o hard power.
Fonte: Estadão