Nesta terça-feira, 9 de julho, começa a cúpula do aniversário da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), criada em 4 de abril de 1949 com 12 membros.
Poderia ser um motivo para comemorar uma grande e forte aliança se não fosse uma emblemática coincidência: a Otan foi criada justamente para enfrentar as ambições expansionistas da União Soviética. Algo bem parecido com o momento atual, quando Rússia ocupa a Ucrânia e China e Venezuela pensam em fazer o mesmo com Taiwan e Guiana.
Um líder europeu ouvido pela AFP disse que a atmosfera para a cúpula é sombria, principalmente por ocorrer em um momento muito crítico para a segurança europeia.
“A Rússia está hoje em uma situação muito confortável. Eles acham que podem apenas esperar”.
Max Bergmann, estrategista internacional, disse à AFP que a cúpula ocorre tanto no melhor quanto no pior momento.
“O melhor dos momentos, no sentido de que a Aliança sabe o que está em causa: dissuadir a Rússia. Os membros da Aliança estão gastando mais (…) Mas também estamos no pior dos momentos, obviamente por causa da guerra na Ucrânia, dos desafios do aumento dos gastos europeus com a defesa, das preocupações com a confiabilidade dos Estados Unidos”.
Pesa para o clima o favoritismo, ainda que com pouca vantagem, de Trump nas eleições norte-americanas em relação ao atual presidente Joe Biden. O republicano é crítico da Otan e a considera um fardo injusto para os Estados Unidos, que gastam mais do que qualquer outro aliado. Trump também já manifestou admiração pelo presidente russo Vladimir Putin.
Em 2015, em um programa televisivo, Trump declarou: “É um líder forte, é um líder poderoso. Representa seu país”.
Já em 2022, Trump teceu elogios a Putin quando ele invadiu o leste da Ucrânia. “É um movimento genial. Ele vai entrar lá como um pacificador. Esta é a força de paz mais poderosa que já vi. Poderíamos fazer algo parecido em nossa fronteira sul. Isso é maravilhoso”.
A reunião da cúpula acontece após a incorporação de 2 países, antes neutros, à Otan: Finlândia e Suécia. Além disso, deve contar com a presença do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy.
Outro diferencial será a presença de Austrália, Japão, Coreia do Sul e Nova Zelândia, num claro sinal de atenção aos movimentos expansionistas da China na Ásia.
Hungria visita Rússia e irrita Europa
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, irritou as autoridades europeias ao fazer uma visita surpresa ao presidente Vladimir Putin, em Moscou. A visita aconteceu no dia 5 de julho, exatamente o quinto dia em que Orbán ocupava o posto da presidência rotativa da União Europeia, na qual permanece até dezembro. As informações são da Folha de São Paulo.
No encontro, Putin afirmou que está pronto pra discutir o que chamou de nuances de propostas de paz para acabar com o conflito na Ucrânia.
Além de fazer parte da União Europeia, a Hungria também integra a Otan.
Aliado de Trump e Bolsonaro, Orbán é considerado autocrático e já sofreu sanções internas na União Europeia por perseguir o Judiciário local.
Úrsula Von Der Leyen, presidente da União Europeia, afirmou que o apaziguamento não vai parar Putin.
“Só a unidade e a determinação abrirão caminho para uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia”.
O chefe de diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse que a visita de Orbán foi representante apenas pra relação bilateral entre Hungria e Rússia, uma vez que ele não tem legitimidade pra negociar nada em nome do bloco.
“O premiê Orbán não recebeu nenhum mandato do Conselho Europeu para visitar Moscou”.
A Ucrânia, em nota emitida pelo Ministério de Relações Exteriores, afirmou que “não há acordos sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”.