A permanência de Ruja Ignatova, uma mulher reconhecida como de boa aparência e com boa oratória, na lista dos dez fugitivos mais procurados do FBI, desde 30 de junho de 2022, mantem a atenção sobre um dos maiores esquemas de fraude financeira da história recente, com repercussões globais, incluindo no Brasil. Conhecida como a “CryptoQueen”, Ignatova é acusada de liderar a OneCoin, uma empresa de criptomoeda que prometia retornos exorbitantes, bem acima do que se pode ter em investimentos tradicionais, mas que se revelou um esquema de pirâmide que prejudicou milhões de investidores ao redor do mundo. A questão também chama a atenção pelo fato de que, mesmo em um planeta extremamente conectado e vigiado por toda espécie de equipamentos, a Búlgara permanece enganando os órgãos de inteligência.
A fraude da OneCoin e seu impacto mundial
A OneCoin, fundada em 2014 por Ruja Ignatova, atraiu investidores com a promessa de uma nova criptomoeda revolucionária. Entretanto, ao contrário de outras muitas criptomoedas comprovadamente legítimas, a OneCoin não tinha uma blockchain real, o que tornava impossível rastrear ou verificar as transações feitas. Ignatova e seus associados utilizaram muitas táticas de marketing agressivas e falsas declarações, muitos usando a natural cobiça do ser humano, para induzir investidores a comprar pacotes de OneCoin, transferindo bilhões de dólares para contas controladas pela empresa que administrava.
A fraude não se limitou a um país ou continente. Ignatova organizou eventos extremamente luxuosos e viajou pelo mundo para promover a OneCoin, acumulando bilhões de dólares em investimentos fraudulentos. A operação da OneCoin foi cuidadosamente planejada para parecer legítima, com seminários, materiais de marketing profissionais e até mesmo uma plataforma online para “minerar” OneCoins. Ao longo do esquema, acredita-se que a OneCoin tenha fraudado as vítimas em mais de $4 bilhões, o que equivale a cerca de 21 bilhões de reais.
Vítimas brasileiras e a amplitude do impacto local
No Brasil, muitos investidores foram atraídos pelas promessas da OneCoin. Um exemplo notório é o casal Paula Cristina Lopes da Silva e Roberto Bulat, que começaram a investir na OneCoin em 2016. Eles viajaram pelo Brasil e pelo mundo para promover a criptomoeda, convencendo outros a se juntarem ao esquema. Entretanto, com o colapso da OneCoin, os investidores brasileiros, assim como milhões de outros ao redor do mundo, foram deixados desamparados e com prejuízos significativos.
Paula e Roberto, em entrevista à Pública, estavam bastanet convencidos, afirmaram que pensavam estar comprando algo semelhante a um “apartamento na planta”, esperando que o investimento levasse tempo para maturar. Mesmo após o colapso, eles mantiveram uma rede de filiados da OneCoin no Brasil, agora apenas para manter os investidores informados.
A caçada global por Ruja Ignatova, que conseguiu desaparecer completamente em 2017
Ignatova desapareceu em outubro de 2017, após viajar de Sofia, Bulgária, para Atenas, Grécia. Ela tem conseguido permanecer escondida mesmo sendo procurada pelas maiores agências de inteligência do planeta. Acredita-se que ela possa ter alterado sua aparência por meio de cirurgia plástica e que viaje acompanhada de guardas armados. Suas possíveis localizações incluem os Emirados Árabes Unidos, Alemanha, Rússia, Grécia e outros países da Europa Oriental.
A mulher fala vários idiomas, entre eles inglês, alemão e búlgaro, seu idoma natal. Um mandado de prisão foi emitido pelo Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York em outubro de 2017, seguido por uma acusação suplementar em fevereiro de 2018.
O FBI, em colaboração com o Programa de Recompensas para Crimes Transnacionais do Departamento de Estado dos EUA, está oferecendo uma recompensa de até $5 milhões (R$ 27 milhões) por informações que levem à captura e/ou condenação de Ignatova. Esta quantia reflete muito bem o tamanho e a gravidade dos crimes dos quais ela é acusada e a extensão do impacto de suas ações.
O impacto duradouro da fraude OneCoin, consequências persistem após anos em vários países
Enquanto a busca por Ruja Ignatova continua, os efeitos de suas ações fraudulentas ainda reverberam globalmente. No Brasil, como em muitos outros países, os investidores continuam a lidar com as consequências financeiras e emocionais da fraude OneCoin. A história de Ignatova é um lembrete sombrio dos riscos associados a investimentos sem a devida verificação e da importância de uma supervisão financeira rigorosa.
A caçada global por Ruja Ignatova continua, com as autoridades determinadas a levar a “CryptoQueen” à justiça. O caso destaca a obvia necessidade de vigilância contínua e cooperação internacional para combater fraudes financeiras de grande escala, protegendo investidores e mantendo a credibilidade e integridade dos mercados financeiros globais.
Robson Agusto – Revista Sociedade Militar