No coração da instituição militar mais tradicional, a Marinha do Brasil, uma velha polêmica parece estar em momentos decisivos. Sargentos e cabos concursados enfrentam por anos uma barreira aparentemente insuperável: a negação de promoções até as graduações de primeiro sargento e suboficial. Esse cenário, de frustração e revolta para alguns, acabou gerando denúncias para parlamentares e – driblando o Comando da Marinha – um apelo direto ao Ministro da Defesa, intermediado pelo Deputado Federal Albuquerque, do Republicanos de Roraima.
Denúncias e pressão política
A situação financeira dos sargentos se agravou recentemente quando ficaram de fora dos benefícios da última lei de reestruturação das carreiras, aprovada em 2019 e que teve como principal consequencia o aumento dos salários dos militares das cúpulas das instituições. Os militares da base alegam que estão sem reajuste e correção inflacionária desde o governo Dilma.
A indignação entre os militares de baixa patente do Quadro Especial de Sargentos da Marinha e suas pensionistas é palpável, levando a uma mobilização intensa para pressionar as autoridades a mudarem o plano de carreira. A própria Câmara dos Deputados promoveu uma enquete para coletar opiniões e votos sobre o tema, mais de 3 mil pessoas já participaram.
Opiniões na enquete promovida pela Câmara dos Deputados.
Um dos comentários mais enfáticos veio de Felipe da S.A., que destacou o impacto histórico das mudanças nos benefícios militares: “Nós, militares, fomos muito prejudicados ao longo do tempo, em 2001 o Sr. FHC tirou vários benefícios que possuíamos, como licença prêmio a cada 10 anos de serviço, e 1 promoção quando passasse a inatividade”. Felipe parabeniza a iniciativa do projeto, mesmo sabendo que não será beneficiado diretamente, mas que outros companheiros o serão, refletindo um senso de justiça e camaradagem.
Outro ponto de vista extremamente relevante foi apresentado por Marcelo R. P., que discorda do projeto e aponta um conflito entre a meritocracia e as novas propostas de promoção apresentadas pela Câmara: “O teor do projeto ferirá a meritocracia, que é um dos balizadores da gerência de Pessoal Militar… é como se invalidássemos os esforços dos que estudaram com dedicação na época”. Marcelo reconhece a insatisfação, mas defende o sistema meritocrático tradicional.
José C. G. da Silva ressaltou a qualificação dos militares e a negligência da Marinha em reconhecer os concursados: “Temos excelentes profissionais dentro do QESM… a Marinha sempre soube que os militares oriundos das escolas de aprendizagem de marinheiros são concursados, mas ignorou esse fator”
Anderson Morethson De Oliveira expressou sua gratidão a Deus e sua esperança de que a proposta melhore sua vida: “Obrigado por me ajudar a sobreviver com menos de 1 salário… que o Senhor possa abençoar cada voto positivo e que seja posto em prática logo para mudar a minha difícil realidade e de muitos outros que fizeram muito por esta amada nação”.
Proposta de reajuste e promoção
Em resposta à pressão, deputados encaminharam propostas ao Ministro da Defesa, que além de solicitar a promoção esperada há anos, de acordo com o Portal Militar, pode gerar um reajuste de R$ 2,8 mil nos soldos, o que poderia aliviar parte da insatisfação.
Além disso, o projeto que prevê a promoção de cabos e sargentos do quadro especial da Marinha estipula um prazo de 90 dias para a efetivação das promoções de quem ainda está no serviço ativo, uma medida que pode ser vista como um alívio rápido para muitos desses militares, que esperam ansiosamente pelo reconhecimento.
O apelo ao ministro da defesa para apresentar o novo projeto de reestruturação
Com a situação atingindo um ponto crítico no que diz respeito à esperança de que as coisas podem ser resolvidas, os sargentos – por meio do parlamento – estão apelando diretamente ao Ministro da Defesa, José Mucio Monteiro Filho, para que intervenha e resolva a questão. Em uma recente entrevista, o Ministro destacou a necessidade de previsibilidade orçamentária para continuar com os investimentos estratégicos nas Forças Armadas, incluindo os projetos que visam melhorar a carreira dos militares.
A pressão agora está sobre o Ministério da Defesa para que tome medidas decisivas que não apenas reconheçam o mérito desses sargentos, mas também de certa forma restaurem a confiança e o moral para esse nicho da tropa.