Uma reportagem publicada há algum tempo na Revista sociedade Militar mostra em destaque uma bandeira da Central Única dos Trabalhadores (CUT) estendida em – pasmem – uma audiência pública na Comissão de Legislação Participativa com a presença de militares das Forças Armadas e membros do Ministério da Defesa. Ainda por esses dias há comentários e questionamentos sobre a suposta relação com a CUT e a sindicalização dos militares, se os militares que servem ao atual governo são de esquerda etc.
Caso tal fato ocorresse há pelo menos 10 anos, possivelmente os militares presentes, sendo da ativa ou mesmo da reserva, sairiam dali direto para uma cela escura em algum quartel. Entretanto, as coisas mudaram rapidamente nos últimos anos.
A audiência pública que discutiu mudanças legislativas apontadas pelos militares como tendo gerado um aumento de salário indireto ou disfarçado para membros da cúpula das Forças Armadas e algumas poucas categorias, contou com a presença de políticos de esquerda e direita, advogados e militares da reserva remunerada e ocorreu em 25 de abril de 2024, repercutindo ainda meses depois por conta da bandeira da CUT estendida na tribuna da Comissão de Legislação Participativa.
O aspecto mais impactante da audiência pública, entretanto, foi pouco mencionado pelos veículos de comunicação. Durante seu discurso, um militar da reserva remunerada, advogado e presidenet do Sindicato dos Militares, apresentou indícios da existência de um grave conluio, que, segundo o mesmo teria ocorrido entre o governo anterior e oficiais generais membros da cúpula armada. Ele afirmou ainda que oitivas na Polícia Federal poderiam comprovar uma “barganha de golpe” entre as partes.
Na época as negociações entre Congresso Nacional e Forças Armadas tiveram como protagonistas oficiais generais como o General de Exército Fernando Azevedo e Luis Eduardo Ramos. Almir Garnier, Almirante de Esquadra que comandava a Marinha do Brasil, chegou a dizer em uma entrevista que militares que ficaram de fora seriam depois compensados porque “militar é assim, ninguém fica pra trás”.
Aumento para os generais e oitivas na polícia Federal
As declarações foram feitas na presença de parlamentares, advogados convidados e alguns membros do Ministério da Defesa, acrescentando uma boa camada de gravidade à audiência. Os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica não comentaram os dados apontados pelo militar da reserva na Câmara dos Deputados. Entretanto, solicitações de informações foram encaminhadas por diversos parlamentares que tentam entender a situação.
George Brito, que é militar da reserva e presidente do Sindicato dos Militares, disse em sua fala que houve toda uma dinâmica ocorrida antes da efetivação do movimento em 8 de janeiro: “O golpe não iniciou em 8 de janeiro, pra trás tem toda uma dinâmica… ja na iminencia, o golep estava em curso, o Ministério da Defesa apresenta o projeto de lei 1645… aumento injustificado de 12.664,47 para os generais.. o aumento foi dado para na hora que ele perdesse nas urnas fosse utilizado o alto escalão, a alta cúpula para dar o golpe. E isso tem em oitivas na polícia federal que é público e todo mundo consegue ver.”
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar