Em uma decisão que promete causar intensas reações e debates, três dos acusados de planejar os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos chegaram a um acordo judicial com o Departamento de Defesa dos EUA. Khalid Sheikh Mohammed, Walid Muhammad Salih Mubarak Bin Attash e Mustafa Ahmed Adam al-Hawsawi, detidos na base da Marinha dos EUA em Guantánamo, Cuba, há anos sem julgamento, aceitaram se declarar culpados em troca da exclusão da pena de morte de suas sentenças.
O acordo, anunciado inicialmente em uma carta enviada pelos promotores às famílias das vítimas, detalha que os réus se declararam culpados de todas as acusações, incluindo o assassinato de 2.976 pessoas. A sentença será decidida por um painel de oficiais militares e deve ser proferida no verão de 2025. Além disso, os promotores afirmaram que as famílias poderão fazer declarações durante a audiência de sentença, proporcionando um espaço para expressar suas perdas e dores.
Os ataques de 11 de setembro, considerados os mais mortais em solo americano desde o ataque a Pearl Harbor em 1941, levaram ao início da “Guerra ao Terror” e às invasões do Afeganistão e do Iraque. Khalid Sheikh Mohammed, amplamente considerado o arquiteto dos ataques, foi capturado no Paquistão em 2003, juntamente com al-Hawsawi. Segundo os promotores, Mohammed propôs a ideia de sequestrar aviões e usá-los como armas contra edifícios nos EUA ao líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, e posteriormente ajudou a recrutar e treinar os sequestradores.
A notícia do acordo judicial gerou uma onda de indignação entre as famílias das vítimas. Brett Eagleson, presidente da organização 9/11 Justice, que representa sobreviventes e parentes das vítimas, declarou que as famílias estão “profundamente perturbadas” com os acordos de confissão. Ele criticou a falta de transparência no processo e pediu mais investigações sobre o envolvimento da Arábia Saudita nos ataques.
Terry Strada, que perdeu seu marido Tom nos atentados, também expressou seu descontentamento. Em uma entrevista ao programa Today da BBC, ela descreveu o acordo como uma “vitória” para os acusados e um golpe para as famílias das vítimas. Strada, presidente nacional do grupo 9/11 Families United, criticou o governo por conceder aos detidos de Guantánamo o que eles desejavam.
A decisão de chegar a um acordo após 12 anos de litígios pré-julgamento foi descrita pelos promotores como uma escolha difícil, mas necessária para alcançar uma resolução final e justiça no caso. Em uma carta, eles reconheceram que a decisão provavelmente provocaria “emoções intensas” e “reações mistas” entre os milhares de familiares que perderam entes queridos nos ataques.
Os detalhes específicos dos acordos judiciais não foram divulgados publicamente. Os homens são acusados de uma série de crimes, incluindo ataques a civis, assassinato em violação das leis de guerra, sequestro e terrorismo. O julgamento foi repetidamente adiado, em parte devido a preocupações de que as técnicas de interrogatório usadas contra os detidos, muitas das quais são criticadas como tortura, poderiam ter comprometido as provas.
A administração Biden, que supostamente rejeitou um acordo similar em setembro passado, foi informada sobre o novo acordo, mas não desempenhou nenhum papel nas negociações. O acordo provocou críticas de líderes republicanos, incluindo o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, que condenou a decisão como uma “abdicação revoltante” da responsabilidade do governo de defender a América e proporcionar justiça.
Os atentados de 11 de setembro, executados por 19 sequestradores, 15 dos quais eram cidadãos sauditas, levaram as famílias das vítimas a moverem ações judiciais contra a Arábia Saudita, que nega qualquer envolvimento nos ataques.
Fonte: BBC