Todos nós já vimos carrascos medievais em filmes e desenhos animados: um homem enorme carregando um grande machado, usando um capuz como máscara, que trazia a morte aos condenados. Pouco mais é fornecido nessas produções sobre suas vidas além das execuções. No entanto, como era ser um carrasco de verdade no período medieval?
Não era tudo sol e arco-íris, isso é certo. O trabalho definitivamente tinha suas armadilhas, mas também tinha suas vantagens… Era um trabalho difícil, mas, afinal, alguém tinha que fazê-lo.
Ser um carrasco medieval: um destino, não uma escolha
As pessoas certamente não faziam fila para se tornarem carrascos durante o período medieval. Na verdade, era uma tarefa que era tipicamente imposta. A pena de morte era uma necessidade da época para manter a lei e a ordem, mas a realidade é que quase ninguém tinha disposiçaõ para assumir esse trabalho.
Embora carrascos contratados existiram no passado, o trabalho era geralmente imposto ao parente mais velho do sexo masculino de um criminoso condenado à morte, ou a um ex-criminoso. Essas pessoas recebiam mandados que os autorizavam a realizar as execuções. Além disso, as regras também estabeleciam que estavam isentos de acusações de assassinato e absolvidos do pecado aos olhos da igreja, pois estavam simplesmente cumprindo seu dever.
No entanto, isso não impedia que as massas no período medieval acreditassem que os carrascos estavam destinados a serem condenados na vida após a morte. Muitos também acreditavam que era preciso um certo tipo de pessoa para realizar tal tarefa, o que explica exatamente por que criminosos eram instruídos a realizar um trabalho tão horrível.
Vestimenta dos carrascos medievais: mito ou realidade?
As representações da mídia de carrascos medievais frequentemente os mostram vestidos com túnicas pretas com capuz, com uma máscara para esconder suas identidades. No entanto, isso não poderia estar mais longe da realidade para o carrasco médio da época. Na Escandinávia, por exemplo, os escolhidos para fazer o trabalho eram mutilados, tendo uma ou ambas as orelhas cortadas. Dessa forma, todos na comunidade sabiam exatamente quem eram.
Em outros países, os carrascos eram marcados em suas cabeças com ferros quentes, para que não pudessem ser separados de sua profissão – seu trabalho estava literalmente impresso em seus rostos.
Como todos na era medieval sabiam quem eram os carrascos em sua comunidade, era fácil ostracizá-los. Matar pessoas para viver era um dever social, mas isso não significava que os outros aceitavam isso. Os carrascos eram sobretudo impedidos de se envolver na vida cotidiana e, quando possível, também suas famílias eram forçadas a viver longe dos outros. Se isso não fosse possível, essas pessoas eram confinadas em residências perto de banheiros públicos, bordéis e colônias de leprosos. O público em geral considerava os carrascos impuros e os tratava como tal.
Os carrascos medievais também tinham a cidadania negada onde serviam e eram barrados de vários estabelecimentos, incluindo igrejas e casas de banho. Praticamente todos os locais públicos estavam fora de questão. Alguns lugares até promulgaram leis que delineavam o que os carrascos tinham ou não permissão para fazer.
O impacto na família dos carrascos
Esse tratamento ruim tinha um efeito retumbante nas famílias dos carrascos, pois sua proximidade com a profissão os lavava a serem rejeitados por suas comunidades. As únicas pessoas que se socializavam com os carrascos e seus parentes eram figuras questionáveis, como criminosos, bem como outros na mesma ocupação.
Infelizmente, e pra piorar, qualquer um forçado a fazer o trabalho acabava condenando o mesmo destino para seus filhos. Isso criou várias gerações de carrascos dentro de uma única família, gerando dinastias fortes ao longo do período medieval e além.
Riscos e consequências do trabalho
Vários carrascos medievais realizavam seu dever com muito profissionalismo, seriedade e eficiência. Em retrospecto, isso poderia ser considerado altamente respeitável. No entanto, os carrascos também tinham que se preocupar com os parentes vingativos das vítimas, pois, apesar de estarem apenas fazendo seu trabalho, eram de fato os responsáveis pela morte dos entes queridos desses indivíduos.
Além disso, havia a pressão adicional das leis, que declaravam que, caso os carrascos não conseguissem executar sua tarefa dentro de certos parâmetros, poderiam ser sentenciados à morte. Por exemplo, se fossem necessários mais de três golpes de espada para decapitar a vítima, poderiam sofrer o mesmo destino.
Mas nem tudo sobre ser um carrasco medieval era ruim. Tirando as inúmeras desvantagens, o trabalho também tinha, é claro, suas vantagens. Primeiro, os carrascos frequentemente recebiam subornos de criminosos ou de familiares dos condenados. Isso acontecia na esperança de tornar a morte o mais rápida e indolor possível ou fornecer conforto extra nos dias que antecediam a execução. Além disso, também recebiam quaisquer posses que estivessem com a vítima no momento de sua morte.
Os carrascos também eram encarregados de outros trabalhos que poderiam render-lhes uma bela grana. Eram frequentemente responsáveis por limpar todas as carcaças de animais de regiões específicas, o que significava que tinham acesso exclusivo a peles e dentes valiosos. Além disso, também eram responsáveis por expulsar os leprosos da cidade. Considerando que ninguém mais queria assumir essas tarefas, os carrascos podiam cobrar uma quantia considerável por seus serviços.
Quanto valia ser um carrasco?
Quando se tratava de pagamento, os carrascos medievais tinham uma vida muito boa. Embora seja difícil avaliar o custo por decapitação, enforcamento e açoitamento nos números de hoje, comparar seus preços aos de outras ocupações da época ajuda a apresentar um quadro mais claro. No século XIII, por exemplo, um carrasco podia ganhar cinco xelins por execução. Comparativamente, isso é cerca de 25 dias de trabalho para outros comerciantes qualificados do período. No século XV, eles podiam ganhar 10 xelins por morte, cerca de 16 vezes mais do que os comerciantes ganhavam em um único dia.
Uma coisa que muitos erram sobre o período medieval é a quantidade de execuções que ocorreram. Embora, sim, a pena de morte fosse um dos fundamentos da justiça na época, não havia muitas acontecendo no geral. Após décadas de trabalho, alguns carrascos registraram apenas algumas centenas de execuções, o que significa que tinham que aceitar outros empregos para sobreviver.
Além das tarefas mencionadas acima, os carrascos se desfaziam de cadáveres, coletavam impostos dos membros mais desagradáveis da sociedade e esvaziavam fossas. Surpreendentemente, os carrascos também trabalhavam como médicos. Servindo como cirurgiões, ajudavam a cuidar da comunidade que os rejeitava. Isso se devia ao seu conhecimento e experiência em tortura, o que lhes garantia sobretudo uma compreensão íntima da anatomia humana. Essas pessoas eram frequentemente chamadas para ajudar a tratar doenças e realizar cirurgias, se necessário.
O curioso caso de Franz Schmidt
Um carrasco singular chamado Franz Schmidt pinta uma história um pouco diferente da média do período medieval. Atuando na Alemanha dos séculos XVI e XVII, Schmidt estava destinado a assumir a profissão porque seu pai também já havia sido obrigado a isso.
Franz serviu como carrasco de sua comunidade por quase cinco décadas, realizando 394 execuções. Além disso, também torturou uma quantidade semelhante de pessoas.
Curiosamente, Schmidt encontrou trabalho em outro lugar como médico, tendo registrado o atendimento de mais de 15.000 pessoas nessa função. Isso lhe garantiu uma vida bem branda, pois tinha permissão para participar de muito mais atividades do que outros carrascos tinham no passado.
Graças não apenas ao seu próprio relato, mas também a uma carta fornecida por membros do conselho da cidade aplaudindo seu caráter e dever, Franz Schmidts recebeu a cidadania alemã aos 70 anos de idade. Ironicamente, foi sua dedicação à carreira de carrasco que limpou seu nome de família do estigma que carregava.