A Ilha de Trindade, administrada pela Marinha do Brasil, onde é mantida uma guarnição permanente de militares, guarda alguns dos maiores mistérios do Atlântico Sul: um deles é o o temido “chupa”. Esse fenômeno, cercado de lendas e grandes temores, que fazem com que militares sequer coloquem os pés na água perto de onde ocorreria, é um dos aspectos mais intrigantes desta remota ilha oceânica.
“Quem cai no chupa as vezes aparece do outro lado da ilha, jamais mergulhe por ali!”, é o aviso que ouvem os militares e cientistas ainda a bordo dos navios militares que os levam para o Posto Oceanográfico da Ilha de Trindade.
Uma história conta que mergulhadores amarrados em cabos de aço não conseguiram resistir a enorme força de um redemoinho que os puxou para baixo e jamais foram vistos de novo. Alguns militares, principalmente os mais jovens, alegam que algumas dessas histórias foram criadas para desestimular o mergulho no local, onde há muitos tubarões grandes e ondas repentinas e traiçoeiras, conhecidas como ondas camelo.
Em 17 de julho de 2010, por exemplo, o segundo sargento João Domingos, da Marinha do Brasil, desapareceu. Ele foi apanhado por uma onda Camelo e desapareceu no mar. Há vários casos registrados e um estudo feito pela Universidade Federal do Rio Grande, por Yuri Gomes Pinheiro, menciona vários obitos.
“características específicas de onda tem proporcionado a formação de um pico na altura de onda, denominada ‘Onda Camelo’ devido à semelhança com perfil de uma corcova de camelo, surpreendendo pela ocorrência súbita podendo causar acidentes. Relatos feitos por militares e pesquisadores desse tipo de formação têm sido comuns em pontos específicos da ilha, como na porção próxima ao Túnel, e a Pedra da Garoupa nas proximidades da Praia do Príncipe, por vezes envolvendo óbitos …”
O Enigma do chupa, o terrível túnel submerso que carrega pessoas e objetos
O “chupa” é descrito como um extenso túnel submerso, onde a pressão da água atinge níveis altíssimos, sugando tudo que se aproxima. Nascido nas profundezas, abaixo da montanha subaquática que dá origem à ilha, esse fenômeno é descrito pelos marinheiros mais antigos, que já passaram meses na ilha, como capaz de transportar corpos e detritos de um lado a outro da ilha.
Os relatos feitos por militares mais antigos, falam muito de desaparecimentos misteriosos e de corpos que, eventualmente, são encontrados em áreas distantes da ilha, geralmente na praia do Lixo, do outro lado da ilha principal do arquipélago.
História e significado estratégico para o Brasil
Descoberta em 1501 pelo navegador português João da Nova e batizada em homenagem à Santíssima Trindade, a ilha tem uma história rica e turbulenta. Foi confundida, no século XVI, com a Ilha de Ascensão e serviu como refúgio para piratas e traficantes de escravos nos séculos seguintes.
A sua relevância estratégica foi reconhecida durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, quando foi guarnecida para impedir o uso por navios inimigos. Um mineral raríssimo foi descoberto no local, a hauynita, encontrado também no vulcal Vesuvio, na Itália em outros locais e no Afeganistão, onde compõe o lapis lazuli, pedra preciosa de médio valor.
A Geografia, o clima no arquipélago e a rara vegetação
A Ilha da Trindade situa-se a 1.140 km de Vitória (ES) e 2.400 km do Rio de Janeiro (RJ), no extremo oriental da cadeia de montanhas submarinas Vitória-Trindade. Elevando-se a 5.500 metros do fundo oceânico, a ilha possui um perfil extremamente acidentado, com elevações que atingem até 625 metros, como o Pico São Bonifácio. Seu clima tropical oceânico é moderado pelos ventos alísios, com temperaturas anuais médias agradaveis, em torno de 24ºC.
O Posto Oceanográfico da Ilha de Trindade é retratado em vários livros, como o de Getúlio Reis, ouvido pela Revista Sociedade Militar, chamado:
A vegetação da ilha, composta por gramíneas, ervas e uma floresta de samambaias gigantes, proporciona um habitat único para diversas espécies. A fauna é rica, com grande número de aves, caranguejos e tartarugas marinhas. As águas ao redor são povoadas por peixes como badejos e garoupas, além de lagostas e do famoso Pufa, aglutinação das palavras “por favor me pegue”, pois um engradado com restos de carne é suficiente para puxar uns 10 quilos da espécie para dentro de um barco.
Desde a criação do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT) em 1957, a Marinha do Brasil tem garantido a presença do Estado brasileiro nesta porção longínqua do território nacional, embora não se perceba a criação de qualquer tipo de facilidade para o ingresso de visitantes no local. A força ecplica que “vinha recebendo uma quantidade crescente de solicitações para a realização de pesquisas em Trindade. Tais solicitações recomendaram a criação de um programa específico, sob a égide da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar”. O programa PROTRINDADE, criado em 2007, coordena as pesquisas científicas na ilha, contribuindo para a exploração sustentável e a preservação ambiental.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar