Em importantes instituições militares do Brasil, trabalhos acadêmicos que adotam ideologias alinhadas à direita política e cultural ganharam destaque.
Um estudo recente, aprovado em uma escola de prestígio do Exército (EsAO), reflete essa tendência. O trabalho polêmico propõe que as Forças Armadas atuem como “poder moderador” e justifica uma intervenção militar contra o governo do Partido dos Trabalhadores (PT), visto como uma “organização criminosa” associada ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Partidos políticos no Foro de São Paulo: uma ameaça à segurança nacional
Em 2020, um trabalho acadêmico apresentado na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) do Exército causou grande polêmica. Intitulado Partidos Políticos no Foro de São Paulo: Uma Ameaça à Segurança Nacional, o estudo foi elaborado por um capitão. Nele, o autor sugere que as Forças Armadas retomem o papel de “poder moderador” na política brasileira para enfrentar o PT, partido que ele descreve como uma “organização criminosa”.
O capitão afirma que o PT, durante seus governos, teria promovido intencionalmente a deterioração do Estado brasileiro, em alinhamento com os planos do Foro de São Paulo. Segundo o autor, o objetivo final seria a criação de uma “União das Republiquetas Socialistas da América Latina” (Ursal), uma teoria que ganhou força em círculos da direita.
O estudo vai além e afirma que o PT estaria ligado ao PCC e às Farc, duas organizações criminosas que, segundo ele, colaborariam para desestabilizar o Brasil.
O papel das Forças Armadas e a defesa da intervenção
Na visão do capitão, para evitar que o PT retorne ao poder, as Forças Armadas deveriam intervir politicamente, reassumindo um papel de “poder moderador”, como o que teriam exercido durante o regime militar de 1964 a 1985. Ele sugere que os militares formem civis alinhados com suas visões ideológicas para ocupar cargos no governo e supervisionar a implementação dessas ideias.
Essa tese foi criticada por Piero Leirner, professor de Antropologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Para Leirner, o fato de um estudo defendendo uma intervenção militar ter sido aprovado em uma escola militar é alarmante, mas não surpreendente. Ele argumenta que essa visão radicalizada é parte de uma tradição dentro das Forças Armadas brasileiras, que antecede a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência.
Segundo Leirner, o bolsonarismo não criou essa ideologia, mas sim foi produto dela. “Isso vem de dentro das Forças Armadas e vai se refletir no Bolsonaro depois. Esse negócio está lá dentro faz tempo”, afirma o professor, destacando que a politização dos militares é um processo duradouro, enraizado nas escolas militares, e que tem resistido às mudanças ao longo do tempo. Esta informação é da colunista da Ponte Jornalismo, Catarina Duarte.