Hoje será revelada a história de Marcolino José Dias, um soldado do exército brasileiro que, sozinho, enfrentou dezenas de soldados paraguaios, tomou um forte paraguaio e hasteou a bandeira do Império do Brasil. Infelizmente, sua história foi esquecida, mas juntos podemos dar voz a esse grande herói nacional. No final de 1864, Solano López cometeu o maior erro da história paraguaia: apreendeu o navio brasileiro Marquês de Olinda e invadiu o Mato Grosso.
Começava assim a maior guerra da América do Sul. Durante intermináveis seis anos, o Império do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai se viram entranhados em uma guerra catastrófica que mudaria para sempre a história sul-americana.
O SOLDADO BRASILEIRO que, SOZINHO, enfrentou e dezenas de soldados paraguaios
A Guerra do Paraguai, um dos maiores conflitos do século XIX, testemunhou feitos heroicos de homens e mulheres. Infelizmente, muitos desses feitos foram esquecidos, e pior, de forma proposital. O soldado do exército Marcolino José Dias foi vítima desse esquecimento. Há poucos registros sobre a origem desse herói brasileiro esquecido. Acredita-se que ele tenha nascido por volta de 1830. Ele também foi escravo, assim como seus pais. Seus donos seriam o casal Manoel José Dias e Maria Angélica Dias. Segundo algumas fontes, Marcolino conseguiu sua liberdade por volta de 1845.
A historiografia indica que Marcolino, mesmo sendo um negro ex-escravo, conseguiu seguir a carreira militar no exército, se tornando Sargento da Guarda Nacional na Bahia. Quando eclodiu a Guerra do Paraguai, Quirino Antônio do Espirito Santo, veterano da guerra de Independência da Bahia, propôs a criação de uma companhia militar formada apenas por voluntários negros. Essa companhia foi batizada de “Zuavos Baianos”. Esse nome era uma referência aos soldados franceses de infantaria que serviram na Argélia e em outros territórios árabes, nos séculos 19 e 20. Inclusive, o uniforme dos “Zuavos Baianos” era igual aos dos franceses: calça bombacha vermelha, paletó azul bordado com galões dourados e pequeno boné vermelho.
A criação dos “Zuavos Baianos” se deu no mesmo momento que a criação dos Voluntários da Pátria, que por sua vez, não fazia distinção de cor de pele. De acordo com alguns estudos, onze companhias de “Zuavos” reuniram um efetivo total de 638 homens. Entre esses 638 bravos soldados brasileiros que foram lutar contra as tropas de Solano Lopez, estava Marcolino José Dias, que assumiu o comando do 2º regimento dos “Zuavos Baianos”. Em março de 1865, todos eles partiram para o sul do império, para o epicentro da Guerra do Paraguai.
A tomada do forte paraguaio foi uma das batalhas mais intensas da guerra Brasil x Paraguai e ficou conhecida como Batalha de Curuzu.
Esses bravos soldados do exército brasileiro lutaram em batalhas importantes da Guerra do Paraguai, como a “Batalha de Uruguaiana”, “Batalha do Avaí”, a tomada do “Forte de Itapiru”, a “Batalha de Tuiuti” e a trágica “Batalha de Curupaty”, onde foram quase dizimados. Foi na “Batalha de Curupaty” que o famoso canhão paraguaio “El Cristiano” foi usado contra as tropas brasileiras. Esse canhão foi recolhido pelo Império do Brasil como troféu de guerra e atualmente está localizado no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Há uma grande controvérsia com esse canhão. Os paraguaios querem que ele seja devolvido.
Mas de todas essas batalhas do exército, Marcolino José Dias, um negro ex-escravo em um país escravocrata, entrou para a história militar do Império do Brasil como herói após seu feito na Batalha de Curuzu. Na manhã do dia 1º de setembro de 1866, as tropas aliadas iniciaram a operação de tomada do Forte Curuzu, que localizava-se à margem esquerda do Rio Paraguai, em território paraguaio. Esse forte era muito bem protegido por canhões pesados de artilharia e por linhas de atiradores. Mas as tropas aliadas contaram com milhares de soldados e navios da esquadra brasileira. A tomada desse forte foi uma das batalhas mais intensas da guerra e ficou conhecida como Batalha de Curuzu.
No meio da intensa batalha, tiro, explosões, Marcolino, em um ato de bravura e destreza, simplesmente subiu sobre as costas de um de seus soldados e pulou a muralha para o lado de dentro do forte, onde havia dezenas de soldados do exército paraguaio. Os paraguaios não entenderam nada. Marcolino então iniciou uma luta corporal de vida ou morte com os paraguaios e acabou sendo ferido gravemente no braço. Ele se rendeu? Ele parou? Não. Movido por um amor à pátria, amor à liberdade, movido a ideais, Marcolino José Dias derrotou sozinho os paraguaios, tirou a bandeira do Paraguai do forte, hasteou a bandeira do Brasil e gritou aos quatro cantos: “Está aqui o negro zuavo baiano”.
Soldado do Exército brasileiro foi honrosamente mencionado pelo Comandante Geral das Forças Armadas Brasileira, General Osório, como o “Herói Negro”.
O feito heroico de Marcolino foi honrosamente mencionado pelo Comandante Geral das Forças Armadas Brasileira, General Osório, como o “Herói Negro”. Sua coragem foi notícia na imprensa do Rio de Janeiro e Salvador. Em 1867, Marcolino foi servir no 8º Corpo de Voluntários da Pátria. Ainda naquele ano, por meio do decreto de 15 de junho, foram concedidas a ele honras de posto de Capitão do Exército e Alferes da Guarda Nacional. Após a Guerra do Paraguai, Marcolino José Dias foi recebido como herói na Bahia, onde passou a exercer a Função de Comando da Guarda Municipal. Em 1869, foi condecorado com a Medalha Imperial Ordem do Cruzeiro, a mais alta honraria concedida a um dos Zuavos Baianos.
Anos mais tarde, Marcolino José Dias, junto de seus companheiros de guerra, participou ativamente da Campanha Abolicionista, comprando a alforria de escravos e colaborando com a imprensa abolicionista da Bahia. Nos anos finais do Império, foi lembrado pelo poeta e orador abolicionista Vicente de Souza, em um discurso público na presença do Barão de Cotegipe e da Princesa Isabel, dias antes da Assinatura da Lei Áurea: “Em Curuzá, foi um negro, o glorioso Marcolino José Dias, o primeiro a plantar entre os Canhões do Inimigo, a Nossa Gloriosa Bandeira!”