Em 8 de agosto, um dia antes de o presidente Lula lançar a Fragata Tamandaré em Itajaí (SC), o almirantado da Marinha se reuniu no Cofamar (Conselho Financeiro e Administrativo da Marinha) a bordo do Navio multipropósito Atlântico.
A informação foi divulgada nesta segunda-feira, 19 de agosto, pelo colunista de política do Estadão, Marcelo Godoy.
Segundo o colunista, o tema da reunião foi a maior crise da história recente da Marinha, agravada ainda mais pelos novos cortes do orçamento da Força anunciados pela equipe econômica do governo federal em 30 de julho.
O clima foi classificado por interlocutores como desolador e dramático, acompanhado da certeza de que o cenário desfavorável da última década alcançará níveis de obsolescência ainda maiores.
A previsão é de que a Força Naval tenha que demitir 1.000 trabalhadores dos estaleiros de Itaguaí, no Rio, que cuidam do Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha), além dos 200 já demitidos em maio após os primeiros cortes orçamentários.
Também deve haver atrasos no programa nuclear da Marinha, responsável pela construção do submarino à propulsão nuclear Álvaro Alberto, em parceria com a França, e no desenvolvimento do míssil antinavio Mansup.
De acordo com dados divulgados pela própria Marinha, desde a década de 1980 a Força Naval já perdeu 50% dos meios que integravam a Armada. A baixa prevista para os próximos 4 anos é de 40% da frota, uma vez que 43 embarcações vão atingir a idade limite.
Não foi a primeira vez que o governo Lula agiu desta forma com a Marinha. Em 27 de março, o presidente reuniu os almirantes e o presidente da França Emmanuel Macron pra entrega do submarino Tonelero. Um dia depois, o governo bloqueou R$ 240 milhões da Força Naval, dos quais 83% seriam destinados ao próprio Prosub.
Segundo Godoy, os almirantes rejeitam medidas como venda de imóveis das Forças Armadas, pois não garantem recursos suficientes nem previsibilidade.
Diante da tendência de piora nos próximos anos, a Marinha estaria próxima de uma incapacidade de cumprir sua missão constitucional de defender a Pátria nos mares e rios. O colunista do Estadão aproveitou seu espaço para desabafar.
“E assim, enquanto bilhões do orçamento são sequestrados por emendas parlamentares de eficiência duvidosa, a Marinha naufraga. O País deve decidir se quer asfaltar estradas nas fazendas de deputados e irrigar os bolsos de empresários amigos ou pôr o dinheiro do contribuinte em projetos estratégicos para o desenvolvimento da Nação”.