A recente ofensiva militar da Ucrânia na região de Kursk, localizada no território russo, está sendo considerada um ponto de virada significativo na guerra que já dura dois anos entre os dois países. O ataque, que resultou na captura de 1.240 quilômetros quadrados de território russo, não apenas chocou o Kremlin, mas também colocou o presidente russo, Vladimir Putin, em uma posição constrangedora. Com essa ação, a Ucrânia conseguiu desestabilizar a segurança que os russos acreditavam possuir em suas próprias fronteiras.
Segundo especialistas, a operação de Kursk não foi apenas uma vitória territorial, mas também um golpe estratégico para Moscou. George Barros, um especialista militar do Instituto para o Estudo da Guerra, sediado nos Estados Unidos, destacou que a Ucrânia tinha duas opções: reforçar suas defesas no leste, onde as forças russas têm atacado continuamente, ou lançar uma ofensiva no nordeste, em direção a Kursk. A escolha pela ofensiva, de acordo com Barros, foi uma tentativa calculada de recuperar a iniciativa e evitar que a Ucrânia ficasse presa em uma postura defensiva indefinidamente.
A decisão de atacar Kursk, apesar dos riscos envolvidos, reflete uma mudança na estratégia militar ucraniana. Ao invés de apostar tudo em uma única grande ofensiva, como foi feito em 2023, que acabou fracassando, a Ucrânia optou por uma série de ofensivas menores, visando pontos fracos nas linhas russas. Essa abordagem visa, ao longo do tempo, degradar a moral e os recursos russos, forçando-os a lidar com múltiplas ameaças em diferentes frentes.
Embora seja cedo para determinar o sucesso total da operação em Kursk, já é possível ver seus efeitos no campo de batalha e na estratégia russa. A ofensiva não deve ter infligido perdas catastróficas às forças russas, mas certamente abalou a confiança de Putin e seus comandantes. Além disso, a operação obrigou os militares russos, conhecidos por sua rigidez, a improvisarem em um cenário que não esperavam enfrentar tão cedo.
Atualmente, parece que as forças ucranianas estão consolidando suas posições na região de Kursk, em vez de expandir ainda mais suas operações. No entanto, essa consolidação traz novos desafios para Kyiv. A Ucrânia agora precisa equilibrar a manutenção desse avanço estratégico com a defesa de áreas críticas, como Kharkiv e o sul do país. Isso exigirá uma gestão cuidadosa dos recursos limitados, enquanto continua a pressionar a Rússia.
George Barros apontou que, para manter a iniciativa, a Ucrânia deve continuar atacando a linha de frente russa, seja em Kursk ou em outras áreas. Isso forçaria a Rússia a lidar com dilemas constantes, desgastando suas forças e recursos. Para isso, a Ucrânia precisará de mais tempo, mão de obra, munição de artilharia e, idealmente, regras de engajamento mais flexíveis, permitindo o uso de foguetes de campo de batalha dentro do território russo.
Além de complicar a situação estratégica para Moscou, a operação em Kursk também expôs a vulnerabilidade das longas fronteiras da Rússia. Até então, a Rússia não se sentia compelida a defender com força grande parte dos 965 quilômetros da linha de frente, o que permitia concentrar suas forças em setores como Donetsk. Mesmo que a ofensiva em Kursk não avance muito mais, o simples fato de forçar a Rússia a defender suas próprias fronteiras já é um feito significativo.
A próxima movimentação da Ucrânia ainda é incerta, com relatos de ataques ucranianos em várias partes do teatro de operações, incluindo Polohy, na linha de Zaporizhia, e Zabrama, perto de Bryansk. Essas ações têm mantido o comando russo em alerta, dificultando a coordenação das forças e a execução de sua estratégia original. Com o cenário mudando rapidamente, o mundo aguarda para ver os próximos desdobramentos dessa guerra que não dá sinais de trégua.
Com informações de: Businness Insider