A península coreana tem sido um dos pontos de maior tensão geopolítica desde o fim da Guerra da Coreia em 1953, quando foi assinado um armistício que interrompeu temporariamente o conflito entre as forças da ONU, lideradas pelos Estados Unidos, e a Coreia do Norte. Esse armistício, que tinha como objetivo criar um ambiente propício para futuras conversações de paz e reunificação da península, nunca se transformou em um tratado de paz definitivo. A forte influência da China e da antiga União Soviética sobre o regime norte-coreano foi determinante para o impasse que já se estende por mais de 70 anos.
Apesar do apoio recebido de seus aliados comunistas, Kim Il-sung, o primeiro ditador norte-coreano, compreendeu que a única maneira de garantir a perpetuação do regime seria por meio do desenvolvimento de armas nucleares. Em 1963, ele solicitou à União Soviética assistência para criar um programa nuclear militar. Nikita Khrushchev, líder soviético na época, recusou o pedido, mas propôs a construção do Centro de Pesquisa Nuclear Yongbyon, onde, anos mais tarde, a Coreia do Norte iniciaria seu programa nuclear militar.
O avanço do programa nuclear norte-coreano e suas implicações regionais
A partir do final dos anos 1980, o programa nuclear da Coreia do Norte ganhou novo impulso, principalmente após a aquisição de tecnologias nucleares do Paquistão. Essa parceria, que envolveu a troca de tecnologias ligadas a foguetes balísticos, acelerou significativamente o progresso norte-coreano. Em outubro de 2006, a Coreia do Norte realizou seu primeiro teste nuclear, marcando a entrada do país no clube das potências nucleares. Desde então, o regime de Pyongyang conduziu outros cinco testes nucleares, incluindo a detonação de uma bomba termonuclear de hidrogênio miniaturizada, um feito que consolidou sua capacidade de lançar armas de destruição em massa a grandes distâncias. Estados Unidos
O desenvolvimento de mísseis balísticos também foi uma prioridade para os líderes norte-coreanos. Desde os primeiros anos de seu regime, Kim Il-sung iniciou o programa de mísseis do país, e seu filho, Kim Jong-il, deu continuidade a esse projeto. Sob o comando de Kim Jong-un, neto do fundador do regime, a Coreia do Norte intensificou os testes de mísseis, realizando 12 vezes mais testes do que seus antecessores em quase 60 anos. O esforço de Kim Jong-un resultou em um arsenal impressionante de mísseis balísticos, como o Hwasong-15, capaz de carregar ogivas nucleares de até 1 tonelada e atingir alvos a 13.000 km de distância.
A capacidade militar da Coreia do Norte representa uma ameaça direta não apenas para seus vizinhos próximos, como a Coreia do Sul, mas também para países mais distantes. Seul, uma metrópole de quase 10 milhões de habitantes, está localizada a apenas 30 km da fronteira com a Coreia do Norte, o que a torna especialmente vulnerável a um ataque nuclear. Além dos mísseis de longo alcance, Pyongyang desenvolveu mísseis balísticos táticos de curto e médio alcance, muitos dos quais podem ser equipados com ogivas nucleares. Isso significa que um ataque contra a capital sul-coreana poderia ocorrer em questão de minutos, deixando poucas ou nenhuma chance de defesa eficaz.
O futuro incerto da dissuasão nuclear na Coreia do Sul e a dependência dos Estados Unidos
Diante das ameaças crescentes do regime norte-coreano, o debate sobre o desenvolvimento de armas nucleares na Coreia do Sul tem ganhado força. Oficialmente, o governo sul-coreano, liderado por Yoon Suk-yeol, é contra essa ideia. Em 2023, a Coreia do Sul firmou um acordo com os Estados Unidos, no qual se comprometeu a não desenvolver armas nucleares em troca do destacamento de submarinos americanos armados com ogivas nucleares em suas bases navais. Além disso, o país assinou e ratificou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e opera atualmente quatro centrais nucleares, todas voltadas para fins pacíficos.
No entanto, a crescente desconfiança sobre a confiabilidade do “guarda-chuva nuclear” dos Estados Unidos tem levado muitos sul-coreanos a reconsiderar sua postura. Embora Washington garanta que um ataque nuclear contra a Coreia do Sul será visto como um ataque contra o próprio território americano, a resposta norte-americana pode vacilar dependendo do contexto global e das garantias dadas à Coreia do Norte por seus aliados, China e Rússia. Esse cenário incerto tem alimentado o apoio popular à ideia de que a Coreia do Sul deve desenvolver seu próprio arsenal nuclear como uma medida de dissuasão independente. Estados Unidos
Especialistas como Cheong Seong-chang, que lidera um grupo de 50 analistas favoráveis ao desenvolvimento de armas nucleares na Coreia do Sul, argumentam que o país não pode se tornar refém das ameaças norte-coreanas, nem depender exclusivamente dos Estados Unidos para sua defesa. Para eles, a única maneira de garantir a segurança nacional é dar a Kim Jong-un a certeza de que qualquer ataque contra a Coreia do Sul será revidado na mesma moeda. Estados Unidos
O futuro da península coreana permanece incerto, com a tensão nuclear em alta e as alternativas de dissuasão se tornando cada vez mais limitadas. A Coreia do Sul enfrenta uma difícil escolha: confiar plenamente nas garantias dos Estados Unidos ou seguir o caminho da proliferação nuclear, arriscando-se a uma nova corrida armamentista na região. Seja qual for a decisão final, o impacto geopolítico será profundo e duradouro, afetando não apenas o equilíbrio de poder na Ásia, mas também a segurança global. Estados Unidos