Imagine um Brasil à beira de uma guerra com uma das maiores potências europeias, e, no meio dessa tensão, uma traição inesperada de um aliado que deveria estar ao nosso lado. Parece roteiro de filme, mas foi exatamente isso que aconteceu na chamada Guerra da Lagosta em 1963. Neste artigo, vamos revelar como os Estados Unidos, em um momento crucial, viraram as costas para o Brasil, e como a marinha do Brasil respondeu com uma determinação que surpreendeu o mundo.
Prepare-se para conhecer os bastidores do dia em que os Estados Unidos traíram a Marinha do Brasil, tentando prejudicar a defesa do nosso país contra a França na chamada Guerra da Lagosta de 1963, uma das histórias mais impactantes e pouco conhecidas da nossa história militar.
Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira impediram, com poderosos porta-aviões, caças e corvetas, em uma operação real, a invasão militar da França na chamada Amazônia Azul, no Nordeste brasileiro
Na década de 60, o comércio mundial de lagosta estava em alta e gerava uma riqueza de milhões de dólares para os países exportadores. A França era uma das maiores exportadoras mundiais de lagosta, e mesmo que os pescadores franceses já tivessem exaurido esse crustáceo em suas águas, todo o grande volume pescado por eles vinha principalmente da costa africana e asiática, além das ex-colônias. Entretanto, as lagostas também começaram a desaparecer devido à pesca industrial e predatória dos navios franceses. Foi quando os olhos da indústria de pesca francesa se voltaram para o litoral nordeste do Brasil, onde a lagosta era uma das principais fontes de renda dos pescadores brasileiros.
A partir de 1961, houve uma intensa batalha diplomática entre os governos do presidente brasileiro João Goulart e do presidente francês Charles de Gaulle para discutir se os pescadores franceses tinham ou não direito de pescar nas águas internacionais da plataforma continental brasileira. Devido ao impasse, a França teve a ousadia de enviar uma força-tarefa naval, capitaneada por um porta-aviões, para garantir que os navios pesqueiros franceses entrassem nas águas da plataforma continental brasileira. O governo francês ainda teve a audácia de alertar a Marinha do Brasil, via imprensa francesa, afirmando que a França possuía tecnologia nuclear, enquanto o Brasil não.
No entanto, o que Charles de Gaulle não esperava era que João Goulart responderia à altura, enviando para a região uma poderosa força-tarefa aeronaval da marinha do Brasil e da Força Aérea brasileira para impedir a entrada dos navios franceses na plataforma continental brasileira, a chamada Amazônia Azul.
Estados Unidos traíram gravemente a Marinha do Brasil durante este enfrentamento bélico contra a França
Entrando agora mais especificamente no assunto deste artigo, o que pouca gente sabe é que os Estados Unidos traíram gravemente a Marinha do Brasil durante este enfrentamento bélico contra a França. Naquela ocasião, o Brasil havia recebido, como contrato de empréstimo dos Estados Unidos por cinco anos, quatro contratorpedeiros da classe Fletcher.
Em 21 de fevereiro de 1963, João Goulart se reuniu em Brasília com os comandantes das Forças Armadas, onde foi tratada a grave situação de uma esquadra francesa em direção ao litoral nordestino. Já em 22 de fevereiro de 1963, uma sexta-feira de carnaval, aeronaves e navios da marinha do Brasil partiram do Rio de Janeiro em direção ao nordeste, inclusive dois navios emprestados pelos Estados Unidos. Em pleno feriado, todos os setores das Forças Armadas Brasileiras estavam mobilizados para patrulhar e defender o litoral nordestino. Uma guerra contra a França estava prestes a começar.
Enquanto isso, no consulado dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, a movimentação era atípica para uma noite de carnaval. O adido militar dos Estados Unidos no Brasil era, até então, o capitão Vernon Walters, um militar que posteriormente se tornou muito respeitado nos Estados Unidos, chegando ao posto de general, ocupando o cargo de vice-diretor da CIA e tendo entrado, inclusive, para o Hall da Fama da Inteligência Militar dos Estados Unidos.
Pois bem, Vernon Walters solicitou naquela madrugada uma audiência urgente com o chefe do Estado-Maior da Marinha do Brasil, o almirante José Luiz da Silva Júnior. Mesmo contrariado devido ao horário e à data, o almirante atendeu ao pedido, acreditando ser realmente uma emergência, já que o Brasil estava prestes a entrar em uma guerra. O almirante recebeu o militar norte-americano numa audiência curta e pouco amistosa.
O adido militar americano foi logo indagado sobre o real motivo da audiência no meio da madrugada. Ele trazia uma importante mensagem do embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon. O presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, do Partido Democrata, ordenou que fosse informado ao governo brasileiro de João Goulart que os dois contratorpedeiros que partiram do Rio de Janeiro com destino ao nordeste deveriam regressar imediatamente. Segundo a mensagem do embaixador, a lei do Senado norte-americano, que concedeu o empréstimo desses navios, proibia o uso dos mesmos contra qualquer aliado dos Estados Unidos, como era o caso da França.
A resposta épica do Almirante brasileiro ao condecorado General americano que ecoou no mundo
Diante de tal disparate, afronta e traição de um antigo aliado da Segunda Guerra Mundial, que havia terminado menos de 20 anos antes, a Marinha do Brasil deu ao condecorado militar norte-americano uma resposta épica: “Peço ao capitão que solicite ao Excelentíssimo Senhor Embaixador dos Estados Unidos que comunique ao seu governo em Washington que o Brasil cortou relações diplomáticas com o Japão em virtude da agressão ao território americano sofrida no ataque a Pearl Harbor. O Brasil honrou seu compromisso assumido por ocasião da Conferência de Havana em 1940, onde se declarou que um ataque por um estado não americano contra qualquer estado americano seria considerado como um ataque contra todos os estados americanos. Sabemos que os Estados Unidos têm compromissos políticos e militares com a França, em virtude do Tratado do Atlântico Norte, firmado em 1949. Entretanto, antes desse tratado, em 1947, nesta cidade do Rio de Janeiro, os Estados Unidos lideraram a assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que teve como propósito prevenir e reprimir as ameaças e os atos de agressão a qualquer dos países da América. Assim sendo, se confirmada a agressão francesa, como anunciado em Paris, o Brasil espera que os Estados Unidos honrem seus compromissos de defesa coletiva do continente americano, declarando guerra contra a França, assim como o Brasil honrou seus compromissos ao declarar guerra contra os japoneses na Segunda Guerra Mundial, mesmo sem nunca ter sido agredido por eles. Está dispensado e pode se retirar.”
É isso aí, combatentes! Comente aqui embaixo o que você achou da resposta do chefe do Estado-Maior da Marinha do Brasil, o almirante José Luiz da Silva Júnior ao condecorado general americano. Se você gostou desse artigo, curte as Forças Armadas e as polícias do seu país, inscreva-se para receber as notificações do Sociedade Militar, diretamente no seu Whatsapp.