Milhares de explosões simultâneas atingiram Beirute, capital do Líbano, nesta terça-feira, e podem ter sido causadas por aparelhos de comunicação sabotados, utilizados pelo grupo terrorista Hezbollah. De acordo com especialistas em segurança entrevistados pelo jornal britânico The Telegraph, os pagers, que eram usados para comunicações internas do grupo, explodiram repentinamente, ferindo milhares de pessoas, incluindo civis e combatentes.
O ataque não foi reivindicado por nenhuma organização, mas especialistas levantam a hipótese de que a ação foi uma sabotagem realizada por Israel, com a inserção de explosivos nos dispositivos durante sua fabricação ou distribuição. Segundo a mesma fonte, essa estratégia teria permitido que os pagers explodissem de maneira coordenada, algo que um ciberataque não seria capaz de fazer com tanta precisão e intensidade.
Entre as teorias sobre como as explosões ocorreram, uma das mais debatidas pelos especialistas envolve o uso de explosivos de pequeno porte, como C4, escondidos nos pagers. Um ataque cibernético, que poderia causar o superaquecimento das baterias de lítio, foi descartado por muitos, já que os danos causados por fogo não condizem com a intensidade das explosões vistas nas imagens divulgadas nas redes sociais.
O professor Alan Woodward, especialista em cibersegurança da Universidade de Surrey, afirmou ao The Telegraph que o cenário mais provável seria uma “armadilha clássica”, onde os pagers foram sabotados antes de serem entregues ao Hezbollah. O dispositivo explosivo, segundo ele, poderia ser ativado por um simples comando remoto ou um temporizador programado nos aparelhos.
Imagens que circularam nas redes sociais mostraram dezenas de pessoas sendo atendidas com ferimentos nas mãos, dedos e tórax. As explosões teriam ocorrido por volta das 15h45 no horário local, em diferentes partes da cidade, de acordo com a mesma reportagem. Acredita-se que os pagers utilizados pelo Hezbollah foram fabricados por uma empresa taiwanesa e eram modelos novos adquiridos pelo grupo nos últimos meses.
Outro especialista ouvido pela reportagem, Ken Munro, fundador de uma empresa de cibersegurança, também descartou a hipótese de um ataque puramente digital. Ele apontou que explodir remotamente baterias de lítio seria um grande desafio tecnológico, tornando mais plausível a teoria de sabotagem no momento da fabricação ou distribuição dos dispositivos.
O Hezbollah reconheceu o ataque como uma grave falha de segurança e afirmou que Israel será punido. O grupo tem uma longa história de evitar o uso de telefones celulares, considerados perigosos por serem vulneráveis a interceptações. Em uma de suas falas anteriores, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, alertou seus combatentes sobre os riscos dos smartphones, descrevendo-os como “agentes de vigilância nos bolsos”.
Com a crescente tensão na região, o episódio pode desencadear novas represálias entre Israel e o Hezbollah, que já vêm trocando ataques desde outubro do ano passado. O uso de pagers, uma tecnologia considerada antiquada, era a solução do Hezbollah para se esquivar das sofisticadas táticas de inteligência de Israel.