O Hospital de Guarnição do Exército em São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, está sendo alvo de uma série de denúncias de negligência por parte dos pacientes que buscam pelos serviços médicos.
Entre as denúncias estão casos de negligência médica e violência obstétrica. Inclusive, no mês passado, em 12 de agosto, a população local realizou um protesto pedindo justiça pela morte do músico e bioquímico, Vianney Pimenta Batista, faleceu na unidade. A morte do músico, de acordo com informações da família, evidenciam uma série de erros que podem ter culminado com a morte do paciente.
Segundo relatos dos familiares, Vianney procurou atendimento médico na unidade quatro dias antes de falecer queixando-se de fortes dores, vômitos e calafrios. O caso foi considerado “não urgente” e o paciente foi apenas medicado e retornou para casa. Os sintomas persistiram e, então, Vianney buscou ajuda médica mais uma vez quando foi internado em observação.
Retornou novamente para casa e quando voltou ao hospital um dos médicos detectou que o paciente estava com uma grave infecção provocada por uma apendicite que já havia estourado e estava necrosando. Mesmo assim, Vianney ainda precisou aguardar cerca de quatro horas para ser operado. Ao sair da cirurgia, o paciente ficou entubado e acabou não resistindo, vindo a falecer no mesmo dia. A família do paciente está movendo uma ação contra o hospital por meio da Defensoria Pública do Estado do Amazonas.
Negligência e discriminação no Hospital de Guarnição do Exército
Os casos de negligências denunciados contra o Hospital do Exército vêm desde a época da pandemia, quando a unidade ficou sem oxigênio para atender a população com COVID-19. Fora isso, o hospital ainda é denunciado por preconceito e discriminação com a população indígena. O hospital atende 23 etnias indígenas e o restante da população do Alto Rio Negro.
De acordo com informações apuradas pelo site Amazônia Real, uma das enfermeiras que atendem no hospital atuou durante sete anos no atendimento médico dos Yanomami. Segundo a profissional, a equipe médica frequentemente ignorava os pacientes indígenas por barreiras linguísticas ou apenas por uma visão etnocêntrica ao se considerarem “superiores”.
A enfermeira conta que em diversas situações precisou ser “tradutora” dos indígenas. Por outro lado, ela relata que muitos deles também falam português e, que, portanto, o descaso no atendimento se dava unicamente por preconceito e discriminação.
Outra denúncia envolvendo o hospital é a demora na realização de exames simples, como ultrassonografia, onde os pacientes são obrigados a esperar até dois dias ou mais no caso de finais de semana, uma vez que o local onde são realizados os exames ficam fechados aos sábados e domingos.
“Não há cuidado com o equipamento de proteção individual (EPI), que também protege o paciente de exposição à infecção, o paciente é tratado ali naquele lugar pela mesma equipe de emergência que cuida dos outros pacientes, isso aumenta o risco de infecções aos entubados que ali permanecem, porque não é um lugar adequado para pessoa”, alertou a enfermeira em entrevista ao Amazônia Real.
Violência obstétrica
Diversas pacientes ouvidas pela reportagem do site afirmaram terem sofrido violência obstétrica no Hospital de Guarnição do Exército. Em um dos casos, o bebê veio a falecer devido a demora na realização do parto. Outra situação de indicação de cesária que não foi atendida pelo médico também resultou na morte da criança. Os casos estão sendo investigados e acompanhados pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas.
O que diz o Exército?
A reportagem procurou o Comando Militar da Amazônia (CMA) que é o responsável pelo Hospital de Guarnição do Exército. Em nota, o CMA informou que não foram encontrados registros dos atendimentos denunciados, nem condutas que possam ser enquadradas como negligência ou violência obstétrica. O CMA disse ainda que possui entre suas ações estratégicas o respeito e apoio aos povos originários.
De acordo com o Hospital, uma pesquisa de satisfação informou que 80% dos usuários avaliam o atendimento de modo positivo.
“Contudo, informamos que o HGuSGC preza pela qualidade do atendimento a todos os seus usuários, em especial o atendimento obstétrico e pediátrico, observando as melhores práticas nos cuidados às gestantes e seus bebês. Reafirmamos nosso compromisso com a constante melhoria no atendimento e como forma de mitigar possíveis falhas no trato com os pacientes, o Hospital sempre envidará esforços para o afastamento de qualquer profissional que venha agir em não conformidade com padrões adequados de assistência às gestantes”, informa a nota.
Vale destacar que a unidade é mantida pelo Exército em conjunto com a Secretaria de Estado da Saúde. Procurada para dar detalhes sobre as denúncias, a Secretaria não retornou aos contatos. Já a Defensoria Pública do Amazonas disse que está recolhendo e apurando os casos que estão sendo levados a conhecimento.