O trigo, uma das principais culturas agrícolas globais, enfrenta uma ameaça crescente com o avanço das mudanças climáticas. O fungo Magnaporthe oryzae patótipo Triticum, responsável pela brusone do trigo, tem se expandido rapidamente em regiões tropicais e de clima úmido. Segundo um novo estudo publicado em fevereiro de 2024, o aquecimento global deve aumentar as condições favoráveis para esse fungo, com potencial de reduzir a produção mundial de trigo em até 13% até meados do século.
Originalmente identificado no Brasil em 1985, o fungo já se espalhou por países vizinhos e chegou a territórios distantes como Bangladesh e Zâmbia. Pesquisadores estimam que, sob as condições climáticas atuais, cerca de 6,4 milhões de hectares de terras aráveis no mundo são vulneráveis à brusone. Porém, com o aquecimento global, esse número pode mais que dobrar, alcançando 13,5 milhões de hectares até 2070, especialmente em áreas do hemisfério sul.
O impacto da brusone no trigo é devastador, afetando principalmente a espiga da planta e resultando em perda significativa de grãos. Segundo o estudo, essa doença já causa grandes prejuízos em países como Brasil, Argentina e Bangladesh. Em simulações realizadas com modelos climáticos, foi constatado que regiões atualmente sem relatos de infecção, como o sudeste dos Estados Unidos, Índia e partes da África, podem se tornar vulneráveis nas próximas décadas.
As projeções são alarmantes, principalmente para países que já enfrentam problemas com segurança alimentar. Na África e na América do Sul, estima-se que até 75% das áreas de cultivo de trigo possam ser afetadas pelo fungo em cenários futuros. A América do Sul, onde a brusone já é uma ameaça constante, deve continuar sendo uma das regiões mais atingidas, especialmente no Brasil e na Argentina.
No entanto, nem todas as áreas serão igualmente impactadas. Na Índia, por exemplo, os cenários climáticos futuros sugerem que algumas regiões podem se tornar menos suscetíveis à infecção pelo fungo, devido ao aumento das temperaturas extremas que, embora reduzam o risco de infecção, também diminuem o potencial de rendimento das plantações.
Os efeitos combinados das mudanças climáticas, como o aumento da temperatura e a maior variação na umidade, estão criando um ambiente ideal para a proliferação da brusone. O estudo mostra que, além de afetar diretamente a produção, as condições climáticas facilitam a sobrevivência e disseminação das esporas do fungo, exacerbando o risco de epidemias em novas áreas.
Para mitigar os danos, os cientistas recomendam a implementação de estratégias eficazes, como o desenvolvimento de variedades de trigo resistentes ao fungo e a alteração das datas de plantio para evitar períodos de maior risco de infecção. No Brasil, por exemplo, a antecipação da colheita pode reduzir as chances de infecção durante os meses mais úmidos e quentes.
A brusone também tem mostrado uma capacidade preocupante de adaptação, tornando-se mais resistente aos tratamentos com fungicidas e mais virulenta com o passar do tempo.
Com informações de: Nature