O aumento da chegada de venezuelanos ao Brasil, especialmente após as recentes eleições com suspeitas de fraudes e a intensificação das tensões políticas na Venezuela, com perseguição contra opositores de Nicolás Maduro, traz implicações significativas para a fronteira norte, particularmente para o estado de Roraima. João Carlos Jarochinski Silva, professor da Universidade Federal de Roraima, aponta que a repressão política crescente no país vizinho, aliada à deterioração das condições sociais e econômicas que lá ocorre, pode resultar em um novo fluxo migratório intenso. Esse cenário impacta diretamente na eficácia da Operação Acolhida, principal resposta humanitária brasileira à crise venezuelana.
Em agosto de 202 já observou-se um aumento de mais de 25% no número de venezuelanos entrando no Brasil em comparação ao mês anterior. Entretanto, pára o especialista, que publicou artigo no periódico Fonte Segura, ligado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ainda é cedo para afirmar se esse fluxo elevado persistirá, dado que o mês de agosto costuma registrar maior migração devido ao término das férias escolares.
O retorno não é uma opção viável
Apesar disso tudo, o número de retornos à Venezuela pela fronteira está em claro declínio, sugerindo que os migrantes não enxergam o retorno como uma opção viável a curto prazo. Pesquisas do Projeto Moverse reforçam essa percepção, indicando que mais de 90% dos entrevistados em abrigos brasileiros não desejam retornar à Venezuela.
Caso o fluxo migratório continue a aumentar, haverá pressão sobre os serviços públicos em Roraima, como sistemas de documentação e abrigamento. A Operação Acolhida será testada, especialmente diante das dificuldades enfrentadas pelo programa de interiorização, que tem como principal destino a região Sul, recentemente afetada por enchentes que prejudicaram a economia local.
Possibilidade de agravamento das tensões sociais
O aumento da permanência de venezuelanos em Roraima poderá agravar as tensões sociais, com o risco de intensificação de práticas xenofóbicas e preconceituosas. A Operação Acolhida tem desempenhado um papel crucial na mitigação dessas tensões, mas a sobrecarga dos serviços públicos e a possível saturação da capacidade de abrigamento exigirão uma resposta coordenada por parte das autoridades.
“Se essa tendência se consolidar como um reflexo direto da intensificação da repressão política na Venezuela, o Brasil precisará adaptar suas estratégias para lidar com uma chegada mais numerosa e demandante de proteção“, diz o especialista.
Se o fluxo migratório continuar crescendo, poderá ser necessária a adoção de medidas excepcionais, como as implementadas durante o fechamento das fronteiras na pandemia e há o risco de que o grande número de venezuelanos demandem mais dos serviços públicos “elevando o risco de tensões sociais, incluindo a intensificação de práticas xenofóbicas e preconceituosas”, situações que haviam diminuído por conta da ação dos militares na operação Acolhida
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar
Dados de: https://fontesegura.forumseguranca.org.br/quais-os-impactos-na-fronteira-norte-em-caso-do-aumento-das-chegadas-de-venezuelanos-ao-brasil/