O economista e colunista Paulo Nogueira Batista Jr. causou rebuliço ao afirmar em um artigo, publicado na revista Fórum, que o general Ernesto Geisel, presidente durante o regime militar, foi um dos maiores presidentes da história do Brasil.
Conhecido por sua orientação à esquerda, Nogueira defendeu sua posição com base em análises econômicas, memórias pessoais e comparações com outros líderes históricos, como Lula, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. A declaração foi recebida com espanto por diversos setores da esquerda, que sempre associaram Geisel à repressão militar e à ditadura.
Polêmica na esquerda: Nogueira em defesa de Geisel
Paulo Nogueira Batista Jr., economista de longa carreira e colunista conhecido por suas posições críticas ao neoliberalismo, nunca escondeu sua posição política à esquerda. Em 2005, ele chegou a publicar um artigo na Folha de S.Paulo, tentando desfazer a “confusão” comum na época que o associava diretamente ao PT. Agora, em 2024, mais uma vez Nogueira voltou ao centro de uma polêmica, mas com um motivo ainda mais surpreendente: a defesa de Ernesto Geisel, quarto presidente militar (1974-1979), como um dos quatro maiores presidentes da história do Brasil.
Em sua análise, publicada na revista Fórum, Nogueira justificou a inclusão de Geisel ao lado de figuras como Getúlio Vargas, Lula e JK. A defesa de Geisel, amplamente reconhecido pela esquerda como um ditador, gerou críticas e perplexidade entre leitores da publicação e militantes de esquerda. O artigo, intitulado “Sobre Ernesto Geisel: os méritos do general e algumas comparações com Lula”, rapidamente se tornou foco de discussões e controvérsias no campo progressista.
A argumentação de Nogueira: economia, política e relações internacionais
A defesa de Geisel feita por Nogueira Batista Jr. não foi apenas uma provocação gratuita. O economista detalhou seus argumentos em três frentes: economia, política interna e relações internacionais. Em termos econômicos, Nogueira destacou o nacional-desenvolvimentismo do general, afirmando que seu governo, entre 1974 e 1979, foi fundamental para a retomada da industrialização brasileira. Geisel foi o responsável pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), que visava ampliar e diversificar o parque industrial do país, com forte apoio às empresas estatais e ao setor privado nacional.
Nogueira, inclusive, fez questão de compartilhar uma memória pessoal: enquanto ainda jovem, trabalhou como estagiário no BNDE (atual BNDES), durante a execução do II PND. Ele testemunhou, segundo seu relato, como o governo de Geisel fomentava o desenvolvimento econômico, buscando preservar a soberania brasileira e fortalecendo a indústria nacional, algo que, segundo ele, foi retomado apenas nos governos de Lula e Dilma.
Lembranças pessoais e comparações com Lula
Outro aspecto interessante do artigo foi a abordagem pessoal de Nogueira. Ele recordou um encontro que teve com Geisel já na década de 1970, quando o general, então ex-presidente, foi almoçar na casa de seu pai. Na ocasião, ele era um jovem de cerca de 25 anos, recém-formado, e limitou-se a fazer algumas perguntas enquanto Geisel discutia temas de política econômica com seu pai.
Essa proximidade com o ex-presidente, aliada à análise de suas políticas, levou Nogueira a traçar comparações diretas com o governo Lula. Ele destacou que tanto Geisel quanto Lula compartilham uma visão de desenvolvimento nacionalista e de intervenção do Estado na economia. Entretanto, Nogueira também ressaltou diferenças importantes, como a forma como Geisel promovia um debate mais plural dentro do governo, ouvindo diferentes pontos de vista antes de tomar decisões, algo que, segundo ele, Lula faz de maneira mais concentrada, confiando apenas em ministros como Fernando Haddad.
O impacto da “distensão” e a abertura política
Um dos pontos mais debatidos do artigo foi a defesa de que Geisel teve um papel decisivo no processo de abertura política que culminou no fim da ditadura militar. Nogueira argumentou que, embora Geisel fosse um ditador, ele promoveu a chamada “distensão lenta, gradual e segura”, que abriu o caminho para a redemocratização do país. Segundo Nogueira, a transição para a democracia foi, em grande medida, uma iniciativa “de cima para baixo”, liderada pelo próprio Geisel e não resultado de uma pressão popular massiva.
Ao final, Nogueira faz o questionamento: será que a história de Geisel não merece uma revisão mais justa e equilibrada? Seja como for, o artigo já cumpriu seu papel de acender um debate sobre o papel dos militares no Brasil e suas contribuições no desenvolvimento do país.