Após anos de cortes, os países europeus membros da OTAN voltam a intensificar seus investimentos militares. Em 2024, os gastos coletivos em defesa na Europa atingirão US$ 380 bilhões, uma marca expressiva após décadas de contenção orçamentária. No entanto, essa reviravolta orçamentária levanta desafios financeiros para países que já lidam com dívidas elevadas e economias fragilizadas.
O aumento exponencial dos gastos com defesa é um reflexo direto das tensões geopolíticas globais. Em 2023, os orçamentos militares somaram impressionantes US$ 2,44 trilhões, representando um aumento de quase 7% em relação ao ano anterior. Esse salto foi o mais acentuado desde 2009 e se deu em meio à guerra em curso entre Rússia e Ucrânia, além de outras tensões no Oriente Médio e na Ásia. Por habitante, os gastos militares globais atingiram o recorde de US$ 306 por pessoa, o maior valor desde o fim da Guerra Fria.
Europa aumenta investimentos em defesa após anos de cortes diante do cenário de insegurança
Essa escalada de investimentos se explica, em parte, pela necessidade de reforçar as defesas em face de uma Ucrânia inicialmente despreparada para um conflito de larga escala. A ajuda militar ocidental a Kiev aumentou, e outros países também viram a necessidade de modernizar suas forças armadas, diante do cenário de insegurança global.
Os Estados Unidos continuam a liderar essa corrida com US$ 886 bilhões alocados para defesa, um aumento significativo de mais de 8% em dois anos. No entanto, pela primeira vez, os parceiros europeus da OTAN devem atingir a meta de gastar o equivalente a 2% do PIB em defesa, eliminando uma antiga fonte de tensão com os Estados Unidos, particularmente durante o governo de Donald Trump.
Desafios orçamentários: como países europeus financiam os gastos com guerra?
Entre os membros europeus da OTAN, a Polônia se destaca, destinando 4,2% do PIB para defesa, o maior valor proporcional da aliança. Em contrapartida, a Alemanha, que ficou para trás nesse quesito, tenta recuperar o tempo perdido com um fundo especial de 100 bilhões de euros, anunciado pelo chanceler Olaf Scholz, para modernizar suas Forças Armadas.
Impacto econômico: Alemanha corta verbas de Ministérios para priorizar defesa
A crescente pressão por mais gastos militares cria dilemas econômicos. Muitas economias europeias estão debilitadas por crises internas e efeitos inflacionários. Isso força os governos a optar entre aumentar os impostos, cortar outros setores do orçamento ou recorrer a mais endividamento. Especialistas apontam que, a curto prazo, os compromissos militares são frequentemente financiados com dívidas. Contudo, a longo prazo, a solução pode envolver decisões políticas mais dolorosas, como o aumento de tributos ou a redução de verbas em áreas cruciais, como saúde e educação.
Na Alemanha, por exemplo, a maioria dos ministérios, exceto o da Defesa, enfrentou cortes significativos em 2024. A pasta de ajuda internacional ao desenvolvimento perdeu quase 2 bilhões de euros, destacando o impacto financeiro dessa nova estratégia de defesa.