Em várias ocasiões, durante audiências parlamentares, o ministro das Forças Armadas da França, Sébastien Lecornu, fez questão de desmentir os rumores sobre uma possível transferência de aviões Mirage 2000D para Kiev, assegurando que as Forças Aéreas ucranianas haviam expressado outras necessidades.
Isso era lógico, dado que a Força Aérea ucraniana deveria concentrar-se antes de tudo na aquisição dos caças F-16 prometidos pela Holanda, Dinamarca, Noruega e Bélgica. Ainda mais porque uma eventual doação de aviões franceses só poderia acarretar dificuldades adicionais, especialmente em termos de disponibilidade operacional e logística.
A importância dos Mirage 2000-5 para a Força Aérea Ucraniana
Daí a surpresa causada pelas declarações do presidente Macron à margem das comemorações do 80º aniversário do Desembarque da Normandia, em 6 de junho passado.
“Vamos anunciar […] a venda de aviões Mirage 2000-5 […] que permitirão à Ucrânia proteger seu solo e seu espaço aéreo. […] Vamos lançar um programa de treinamento de pilotos e depois entregaremos esses aviões. O fator chave é o tempo necessário para treinar os pilotos. Então, vamos propor ao presidente Zelensky que os pilotos sejam treinados já neste verão. Normalmente, leva de 5 a 6 meses. Para que, até o final do ano, ele possa dispor de pilotos e aviões”, declarou Macron na ocasião.
No dia seguinte, o ministro Lecornu confirmou que os Mirage 2000-5F seriam retirados dos equipamentos do Groupe de Chasse 1/2 Cigognes, a unidade da Força Aérea especializada em defesa aérea.
Desde então, com a dissolução da Assembleia Nacional francesa e o consequente bloqueio político, o projeto de venda dos Mirage 2000-5 para a Ucrânia não voltou a ser mencionado. Até que o jornal Sud Ouest trouxe o assunto à tona novamente, em um artigo dedicado ao 80º aniversário do Centro de Testes e Ensaios em Voo da DGA (DGA EV) em Cazaux.
“Alguns dos Mirage 2000-5 que a França planeja entregar à Ucrânia serão ‘transformados’ em Cazaux. O objetivo é dotá-los de capacidades de tiro contra alvos terrestres”, afirma o jornal em sua edição de 19 de setembro.
Modificações dos Mirage 2000-5 para capacidades ar-terra
O Mirage 2000-5F “Cigognes” não tem capacidade ar-terra, já que sua missão é puramente de defesa aérea. Ele está armado com um canhão de 30 mm e mísseis ar-ar MICA IR e MICA EM.
No entanto, o Mirage 2000C RDI, atualmente retirado de serviço, podia carregar bombas simples como a Mk82, ou até mesmo munições guiadas a laser, desde que seu alvo tivesse sido previamente “iluminado” por uma cápsula de designação implantada por outro avião, nesse caso o Mirage 2000D.
Além disso, enquanto o Mirage 2000-5F não tem capacidade de ataque terrestre, seu equivalente grego, o Mirage 2000-5EG, está “preparado” para carregar o míssil de cruzeiro SCALP EG, que a França forneceu à Ucrânia. Daí, provavelmente, as modificações introduzidas no avião prometido por Macron a Zelensky. Também é possível que o objetivo seja equipá-los com a capacidade de disparar armas modulares ar-terra [AASM].