O Brasil está prestes a aderir à Nova Rota da Seda, um megaprojeto chinês que financia obras de infraestrutura em todo o mundo, segundo informação do site chinês South China Morning Post. O anúncio pode ser feito em novembro, durante a visita do presidente chinês, Xi Jinping, para a cúpula do G20 no Rio de Janeiro. No entanto, as eleições nos EUA, que ocorrem dias antes, podem mudar o cenário. Se Donald Trump vencer, a parceria com a China pode provocar um atrito com Washington, trazendo dilemas geopolíticos e econômicos para o governo Lula.
Acordo à vista, mas há incertezas
O governo brasileiro montou um grupo de trabalho para avaliar a adesão à Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês). A expectativa é que o Brasil assine o acordo ainda este ano, mas a eleição presidencial nos EUA, marcada para 5 de novembro, pode atrasar o anúncio. Lula já deixou claro que prefere uma vitória da democrata Kamala Harris. Caso Trump vença, o ingresso do Brasil na iniciativa chinesa pode ser visto como uma sinalização de alinhamento com Xi, o que traria complicações nas relações com os Estados Unidos.
A possibilidade de o país assinar o memorando de adesão à BRI já havia sido ventilada em abril, quando da visita do presidente Lula à China. Na oportunidade, no entanto, a questão não foi debatida com o líder chinês Xi Jinping, idealizador da iniciativa. O assunto voltou à pauta em julho, após Lula admitir que a questão seria debatida novamente em breve.
A BRI e seu impacto global
A Nova Rota da Seda, lançada pela China em 2013, já financiou grandes obras em todo o mundo, como rodovias, portos e ferrovias. A ideia é aumentar a influência chinesa no comércio global, especialmente em países do Sul Global, como os da América Latina, incluindo o Brasil, África e Ásia.
A Nova Rota da Seda, porém, vem perdendo força na Europa. Isso porque a adesão ao projeto gerou alguns problemas bem sérios como grandes dívidas, obras problemáticas e muita crítica.
Um bom exemplo é o da Itália, maior economia europeia a aderir ao projeto, que deixou a iniciativa em 2023, alegando que os benefícios foram poucos e que as relações comerciais com a China não avançaram como esperado.
Riscos financeiros e problemas ambientais
Além da questão geopolítica, o Brasil precisa avaliar os riscos financeiros de participar da BRI. Muitos países que aderiram ao projeto enfrentam dificuldades para pagar as dívidas com bancos chineses.
Na América do Sul, o Peru é um exemplo de como esses projetos podem enfrentar obstáculos, segundo informa o site Diálogo Américas. O porto de Chancay, megaprojeto construído com financiamento chinês, teve obras interrompidas por problemas ambientais e deslizamentos de terra, além de questionamentos sobre o impacto na soberania peruana.
A “armadilha da dívida”
Nos últimos anos, a BRI tem sido acusada de criar uma “armadilha da dívida” para os países participantes. A China oferece financiamento para grandes obras. Até aí, ok. Mas, com o tempo, essas nações enfrentam dificuldades para pagar os empréstimos. E o que acontece com um país endividado? Cede à pressão do país financiador, podendo sofrer interferência externa na política e economia pelo país credor, comprometendo sua soberania.
É o que aponta um estudo da Universidade William and Mary, divulgado em 2023, que mostrou que a inadimplência está crescendo entre os membros da BRI. Isso tem prejudicado a imagem da China em muitos países, enquanto os EUA e seus aliados do G7 tentam oferecer alternativas de financiamento.
O que está em jogo para o Brasil?
Para o Brasil, aderir à BRI pode trazer oportunidades de investimentos em infraestrutura, mas também envolve riscos financeiros e diplomáticos. Com a crescente polarização entre China e EUA, o governo brasileiro precisa avaliar se essa parceria é o melhor caminho para o país. South China Morning Post alerta que o anúncio pode ser apenas uma jogada estratégica, mas também tem potencial para gerar tensões internacionais, principalmente se Donald Trump voltar ao poder nos Estados Unidos.
Será que o Brasil vai seguir o caminho da China, ou manterá uma postura de equilíbrio entre as potências? Novembro promete ser decisivo para essas respostas.