A busca pelo termo “fui chamado para servir o exército mas não quero” disparou recentemente no Google, com um aumento de 4.350% em um único dia, conforme dados do Google Trends. Esse aumento repentino reflete o crescente desespero dos jovens brasileiros em evitar o serviço militar obrigatório, que exige o alistamento de todos os homens ao completarem 18 anos. O serviço militar, previsto na Constituição Federal, continua sendo motivo de angústia para muitos jovens que preferem seguir outros caminhos, como o acadêmico ou profissional.
A falta de interesse pela carreira militar entre os homens tem sido uma das razões apontadas para o aumento dessas buscas. De acordo com especialistas, há um notável desinteresse dos jovens em servir nas Forças Armadas, uma tendência que motivou a abertura de novas vagas para mulheres, conforme declarações da psicóloga da FAB (Força Aérea Brasileira), Wildyrlaine Cristina Pretko. Ela afirmou que muitos homens tentam se esquivar a todo custo do alistamento, o que levou o Ministério da Defesa a implementar mudanças, incluindo o alistamento militar feminino opcional, previsto para 2025.
Casos como o de Samuel*, um jovem, com 19 anos na época segundo a BBC News, que entrou na Justiça em 2022 para ser dispensado do serviço militar, ilustram a crescente resistência ao alistamento. Samuel, que se declarou pacifista e contrário ao uso de armas, solicitou a prestação de um serviço alternativo ao militar. No entanto, devido à demora do Exército em responder ao pedido, ele acabou sendo convocado e precisou lutar judicialmente para garantir seu direito à objeção de consciência, previsto na Constituição.
O caso de Samuel não é único. O movimento “Livres”, que defende o fim do serviço militar obrigatório, já ajudou mais de 1.600 jovens a solicitarem a dispensa através do requerimento de serviço alternativo. Embora muitos desses pedidos sejam aprovados sem grandes problemas, o caso de Samuel enfrentou um entrave burocrático que levou a uma disputa judicial. O advogado de Samuel destacou que a objeção de consciência é um direito garantido pela Constituição e não deve ser negada, mesmo se o jovem já estiver matriculado no serviço militar.
Além de questões ideológicas, o alistamento também pode ser evitado por razões de saúde ou por condições socioeconômicas. Jovens que são os únicos provedores da família ou que enfrentam problemas físicos ou mentais podem ser dispensados, embora essas dispensas dependam de uma avaliação criteriosa por parte do Exército. Outro fator que contribui para a alta taxa de dispensas é o excesso de contingente, situação em que há mais alistados do que vagas disponíveis.
Apesar das alternativas oferecidas, o serviço militar ainda gera incertezas e receios entre os jovens brasileiros, que temem as consequências de não comparecer ao alistamento. De acordo com as regras vigentes, quem não regulariza sua situação militar pode enfrentar dificuldades para emitir documentos, como o passaporte, e também para ingressar em empregos públicos ou privados.
Com a inclusão de mulheres no serviço militar a partir de 2025, o cenário pode mudar nos próximos anos, trazendo uma nova dinâmica para as Forças Armadas. Atualmente, as mulheres representam apenas 9,5% do efetivo total nas três forças, mas espera-se que esse número cresça à medida que novas vagas sejam abertas, tanto para alistamento quanto para carreiras especializadas.
O aumento na busca por formas de evitar o serviço militar reflete o descontentamento de muitos jovens com a obrigatoriedade de servir, enquanto outras opções, como o serviço alternativo, começam a ganhar mais visibilidade.