Desde o início da guerra, milhares de soldados israelenses foram mortos ou feridos, muitos deles necessitando de reabilitação de longo prazo. As projeções indicam que até 2030, Israel pode ter cerca de 100.000 veteranos incapacitados, representando um fardo considerável para o sistema de saúde e previdência do país .
Além das baixas físicas, o impacto psicológico sobre os soldados é profundo, com inúmeros relatos de estresse pós-traumático, desânimo e até episódios de insubordinação e violência dentro das tropas. Essas questões evidenciam a exaustão das forças israelenses, especialmente os reservistas, que são o alicerce das operações militares.
A dependência de reservistas para manter o exército operante em tempos de crise revela outro problema. Israel, com uma população de menos de 10 milhões de pessoas, depende fortemente de sua força de reserva. Ao longo do conflito, cerca de 300.000 reservistas foram convocados, representando grande parte do efetivo israelense, mas o desgaste acumulado está levando muitos desses reservistas ao limite de sua resistência física e psicológica.
Deslocamento interno e tensões sociais
Além das baixas no campo de batalha, o conflito também deslocou internamente mais de 200.000 israelenses, principalmente no norte do país, uma região vulnerável a ataques de grupos como o Hezbollah. Esses deslocamentos aumentam a pressão sobre os serviços sociais e a infraestrutura das áreas que recebem essas pessoas, criando um desafio adicional para um país já sobrecarregado pelas demandas da guerra.
O impacto social, entretanto, não se restringe apenas aos deslocados. O conflito prolongado tem exacerbado divisões dentro da sociedade israelense, particularmente entre facções políticas, como as disputas relacionadas ao novo recrutamento de judeus ultraortodoxos, isentos do serviço militar até poucos meses atrás, grupo do qual boa parte da elite política israelense pertence.
A resistência de muitos reservistas em continuar suas missões, somada à crescente desconexão entre a elite política israelense e os anseios da população, tem gerado tensões internas que ameaçam a coesão social do país.
O fardo econômico
O impacto econômico da guerra é talvez o ponto mais crítico para Israel, com o custo direto e indireto estimado em até US$ 67,4 bilhões até 2025 . A economia israelense já está sentindo o peso desse fardo, com uma queda de 21,7% na produção econômica no último trimestre de 2023 em comparação com o ano anterior. Setores cruciais, como o de tecnologia, foram severamente impactados, com cerca de 10% a 15% da força de trabalho sendo convocada para o serviço militar.
Ainda, a suspensão de licenças de trabalho para mais de 130.000 palestinos que trabalhavam em Israel causou uma redução significativa na oferta de mão de obra barata, particularmente nos setores de construção e agricultura, que dependiam fortemente desses trabalhadores. A ausência de mão de obra, combinada com os custos crescentes do conflito, levou ao fechamento de cerca de 30.000 pequenas e médias empresas em todo o país.
Cálculos da Bloomberg indicam que os gastos com defesa este ano dobrarão para 9% do PIB, levando a uma maior dívida pública e inflação, com comparações ao ocorrido após a Guerra do Yom Kippur, em 1973, quando os gastos com defesa também aumentaram, resultado em um período conhecido como a “década perdida” para Israel. O aumento dos gastos militares significa uma redução ou estagnação nos investimentos em outros setores como saúde e educação.
Até agora, o governo fez pequenos cortes de despesas e introduziu novos impostos, mas principalmente depende da venda de títulos para cobrir o crescente déficit orçamentário. A sustentabilidade dessa estratégia é questionada por economistas. O país já está enfrentando a saída de mão de obra qualificada, e ainda perdendo investimentos estrangeiros, como o cancelamento dos investimentos bilionários da Intel em uma nova planta ali. Com isso, as perspectivas econômicas de Israel continuam a se deteriorar, com projeções futuras muito abaixo das expectativas anteriores.
Reservistas em problemas
A exaustão dos reservistas reflete de maneira direta no impacto econômico da guerra. Muitos deles, como Assaf Mor, lutaram por meses enquanto tentavam manter suas empresas funcionando. No entanto, para muitos, o fardo financeiro foi insuportável. Mor, que operava uma clínica de medicina holística, viu seu negócio colapsar enquanto ele lutava em Gaza, e agora enfrenta dívidas de US$ 250.000, sem previsão de recuperar sua empresa .
Essa situação é comum entre os reservistas, muitos dos quais tiveram que fechar negócios ou adiar investimentos devido à convocação militar. Cerca de 150.000 israelenses deixaram seus empregos para servir, afetando diretamente a produtividade de setores essenciais, como o de tecnologia e construção . Essa combinação de esgotamento físico, psicológico e financeiro está levando muitos reservistas a recusar convocações subsequentes, apesar das consequências legais.
Um futuro ameaçador
À medida que a guerra se prolonga, as projeções futuras para Israel são sombrias. A possibilidade de uma escalada para um conflito com o Hezbollah, uma força militar muito mais poderosa que o Hamas, coloca em risco não apenas a estabilidade do país, mas também a sua capacidade de manter uma defesa eficaz. A necessidade contínua de mobilizar reservistas exaustos para combater múltiplas frentes de batalha coloca uma pressão insustentável sobre as Forças Armadas de Israel.
Também devem ser considerados os potenciais danos em escala estratégica que Israel pode sofrer no conflito, não apenas por parte do Hezbollah, mas por outras facções da Resistência Islâmica, como o Ansar Allah (os Houtis) do Iêmen e o Kata’ib Hezbollah do Iraque, que já realizam ataques conjuntamente em Israel, seja com mísseis ou drones, e já causam danos significativos. Este potencial não pode ser desprezado ou negligenciado, já que pode inviabilizar o funcionamento e a própria existência de Israel, pois a Resistência Islâmica possui capacidades de destruir infraestruturas vitais como os portos, por onde chega grande parte dos insumos e mantimentos que mantém a sociedade israelense.
Revista Sociedade Militar