Uma modificação significativa no tratamento para com os profissionais da segurança privada pode se iniciar após a tramitação de projeto de lei atualmente em andamento na Câmara dos Deputados. A proposta já chama a atenção e visa modificar a nomenclatura usada para se referir aos profissionais dessa área, substituindo o termo “vigilante” por “agente de segurança privada”.
Parágrafo Primeiro: A segurança privada e a segurança das dependências das instituições financeiras são matérias de interesse nacional. Parágrafo Segundo: A denominação “VIGILANTE” fica extinta, e o profissional de Segurança Privada passa a ser reconhecido como “Agente de Segurança Privada – AGESP”.
De acordo com a autora do projeto, Deputada Federal Rosângela Reis (PL/MG), a mudança reflete uma adequação às novas demandas do mercado e valoriza muito os trabalhadores do setor, que têm demonstrado grande importância na preservação da segurança em empresas, estabelecimentos comerciais e até em áreas públicas.
A alteração, se realmente for colocada em prática, chegará em um momento em que o setor de segurança privada ganha cada vez mais relevância no país. Um estudo da Revista Sociedade Militar mostra que, em 2022, o Brasil já contava com 597.136 profissionais atuando como vigilantes, um número superior ao efetivo das Forças Armadas, que soma cerca de 334 mil militares. O dado revela a magnitude do setor, que desempenha um papel fundamental na proteção de bens e pessoas em diversas frentes.
Mudança reflete modernização do setor
O novo termo, “agente de segurança privada”, busca refletir a modernização e a crescente profissionalização do setor. Dados coletados pela Revista Sociedade Militar revelam que a escolaridade dos profissionais da área tem aumentado, com mais de 15 mil vigilantes possuindo ensino superior completo em 2022, além de uma ampla maioria com ensino médio. Isso demonstra que a demanda por qualificação é crescente, o que poderia justificar a necessidade de uma designação mais abrangente e condizente com as responsabilidades e habilidades exigidas dos profissionais.
Inclusão e diversidade no setor
A proposta de mudança de nomenclatura também chega em um momento de transformações na composição do exérito de trabalhadores da segurança privada. De acordo com o anuário da categoria, a participação feminina no setor de segurança privada vem crescendo de forma consistente. Em 2016, havia cerca de 69 mil mulheres atuando como vigilantes, representando 11,7% do total. Já em 2022, esse número aumentou para 77.739 mulheres, com a participação feminina superando os 13%. Embora ainda haja uma predominância masculina, o aumento da presença feminina sinaliza uma tendência de inclusão e diversificação na força de trabalho, o que pode ter um impacto significativo nas dinâmicas internas e na imagem do setor.
Perfil etário e experiência de vida como diferencial muito importante
Outro aspecto relevante destacado na análise da Revista Sociedade Militar é a questão etária. Em 2022, mais de 101 mil vigilantes tinham acima de 50 anos, e a faixa dos trabalhadores com mais de 40 anos também aumentou significativamente entre 2016 e 2022. Isso demonstra que a experiência e a maturidade são características altamente valorizadas no setor, sobretudo em funções que exigem decisões rápidas e o manuseio de armamentos.
A mudança de nomenclatura para “agente de segurança privada” pode ainda contribuir para reforçar a percepção pública sobre a relevância desses profissionais. Este “exército silencioso”, como mencionado em análises anteriores, opera em áreas cruciais para a segurança pública, atuando em ambientes de grande circulação, como shoppings, parques e praças, e oferecendo uma sensação de segurança em locais onde a presença ostensiva das forças de segurança do Estado pode não ser constante.
O papel relevante dos ex-militares no setor
Uma parte significativa dos agentes de segurança privada no Brasil é composta por ex-militares da Marinha, Exército e Aeronáutica. Após deixarem o serviço ativo, muitos encontram no setor de segurança privada uma continuidade de suas atividades, aproveitando os treinamentos e prática com armamento, em técnicas de segurança patromonial e até os cursos de segurança e proteção de autoridades, bem como a disciplina e postura adquiridos durante suas carreiras militares. Inclusive, no próprio site oficial do Corpo de Fuzileiros Navais, é possível encontrar anúncios de vagas para vigilantes, reforçando a conexão entre os dois setores.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar