O Natal começou mais cedo na Venezuela. As festividades começaram após decreto do presidente Nicolás Maduro no último mês, que anunciou que a temporada este ano começaria em 1º de outubro.
A decisão, no mínimo inusitada, gerou um misto de curiosidade e polêmica entre os venezuelanos. Enquanto o presidente se regozija em suas declarações de que “setembro tem cheiro de Natal”, muitos cidadãos expressam preocupação com a banalização de uma data tradicional, que deveria ser celebrada em dezembro.
De acordo com Maduro, “este ano e para homenagear a todos, para agradecer a todos, vou decretar o início do Natal em 1º de outubro. O Natal chegou para todos, em paz, alegria e segurança!”.
Polêmica e reações da população
O anúncio de Maduro foi recebido com ceticismo e até ironia nas redes sociais. Com uma população que, em sua maioria, vive com dificuldades financeiras, a antecipação das festividades parece mais uma tentativa de controle social do que um genuíno gesto de celebração. De acordo com Desiré Aguiar, uma comerciante de Caracas, “acho que é terrível porque é outubro. O Halloween nem passou, e já é Natal? Vamos comemorar juntos?”.
Muitos compartilham esse descontentamento, acreditando que o ato seja uma forma de manipulação.
A Conferência Episcopal Venezuelana também criticou a decisão de Maduro. De acordo com o órgão, “o Natal começa em 25 de dezembro”, alertando que a festividade não pode ser utilizada para fins políticos ou de propaganda. Essa postura revela um aspecto crucial da situação: o Natal, que tradicionalmente simboliza união e celebração, está sendo apropriado em um momento de repressão política, onde o governo usa sua força para silenciar a oposição.
Crise econômica
Com a economia em colapso e a inflação desenfreada, a proposta de Maduro de antecipar o Natal é vista por muitos sobretudo como uma tentativa de distrair a população das dificuldades enfrentadas diariamente.
Além disso, os venezuelanos, que lembram das celebrações natalinas do passado, repletas de alegria, presentes e jantares em família, atualmente, sentem uma dolorosa discrepância com a realidade. Ainda de acordo com a comerciante, “se eles começarem a pagar… o bônus de Natal adiantado, não sobrará nada em dezembro”. Historicamente, os bônus de fim de ano, que sempre foram eram uma fonte de alegria e consumo, estão cada vez mais escassos.
A crise econômica é se torna ainda mais grave pelo recente clima de insegurança e repressão. Recentemente, o governo deteve mais de 2.400 pessoas após protestos relacionados às eleições de julho. As eleições, sem reconhecimento internacional, reelegeram Maduro para um terceiro mandato, em meio a acusações de fraude. Por isso, para os venezuelanos, as festas natalinas perdem seu significado, transformando-se em uma lembrança amarga da desilusão coletiva que permeia o país.
Repressão política
O decreto de Maduro e a resposta da população revelam principalmente um profundo abismo entre as intenções do governo e as realidades enfrentadas pelos venezuelanos. Enquanto o presidente tenta transformar o Natal em uma celebração de paz e alegria, a maioria das pessoas no país enfrenta um dia a dia repleto de incertezas e insegurança. As tradições natalinas, que deveriam ser um símbolo de esperança e união, se distorceram em um momento de crise e repressão. Atualmente, argumentam os críticos, tornaram-se apenas uma ferramenta nas mãos de um governo que luta para manter o controle da população.
Natal antecipado na Venezuela, em vídeo do jornal El País: entusiasmo do governo não reflete na população.