Para muitos profissionais, responder à simples pergunta “onde você trabalha?” não carrega maiores implicações. Entretanto, para os agentes de segurança privada, conhecidos como vigilantes, seguranças ou outros, essa resposta pode trazer riscos consideráveis, forçando-os a serem evasivos. Tanto no trabalho quanto em casa, esses profissionais vivem uma rotina de constante alerta, similar à de agentes de segurança pública.
Por força do oficio, o profissional do ramo da segurança tem acesso a informações sensíveis, como o nome de funcionários de agências bancárias ou casas lotéricas, horários de chegada e saída destes, localização de equipamentos de vigilância ou rotas de carros-fortes. Esse tipo de conhecimento pode ser extremamente valioso para criminosos, o que obriga o profissional a estar atento até nas suas horas de descanso, cuidando do que diz, dos locais que frequenta e de quem faz parte do seu círculo social.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, o número de vigilantes com vínculos ativos está na casa dos 530 mil. Entretanto, dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar Contínua (PNADc) apontam que o número pode chegar a mais de 1.1 milhão de pessoas, levando-se em consideração também os que atuam à margem da regulação estatal e do controle da Polícia Federal. Fica evidente – portanto – a necessidade de se proporcionar melhor condições de trabalho e qualidade de vida para esses profissionais, que respondem pela maior parte dos serviços de segurança no país, que – ao contrárioo do que poderia-se crer, são gerados pelo setor privado.
Uma rotina de extremo perigo
Em outubro de 2023, em Franca (SP), dois vigilantes realizavam uma inspeção de rotina no telhado de uma agência bancária quando se depararam com dois criminosos escondidos no compartimento do ar-condicionado. Já preparados para invadir o local, os bandidos abriram fogo. Infelizmente, um dos vigilantes, Adriano, foi baleado e perdeu a vida.
Outro episódio marcante ocorreu no Rio de Janeiro, em 24 de maio de 2023. Um vigilante, chefe de equipe de carro-forte, foi sequestrado ao sair de casa por dois homens encapuzados. Eles o obrigaram a seguir até a base da empresa, enquanto sua esposa e filhas foram levadas para um cativeiro, em uma comunidade controlada por traficantes. Ao chegar à base, o vigilante denunciou o sequestro, e a polícia foi acionada. Ao perceberem que o plano havia falhado, os sequestradores libertaram a família nas proximidades do Shopping Guadalupe, na capital carioca.
Os exemplos acima, amostras de situações – infelizmente – cada vez mais comuns, atestam que a vida desses profissionais é marcada por situações de risco extremo, tanto dentro quanto fora do horário de serviço, exigindo uma vigilância constante e sacrifício da própria segurança e das famílias.
Remuneração baixa, status baixo. Visão dos próprios profissionais
Algumas propostas legislativas sobre a profissão abordam aspectos considerados importantes, como a SUG 13 de 2024, gerada no próprio Conselho Nacional da Segurança Privada, o Projeto de lei 3655 de 2024, da deputada Rosângela Reis (PL-MG) e o PL 3112 de 2024, de Dr. Fernando Máximo (UNIÃO – RO) que autoriza o uso de armamento de calibre restrito pelos vigilantes. Mas, ainda assim a categoria permanece reticente em alguns pontos. Opiniões expressas por diferentes profissionais em todo o país e uma análise do sentimento em relação ao que está em andamento nas instâncias legislativas federais no momento é importante para se conhecer mais a fundo a situação.
“Será permitido ao Agente de Segurança Privada – AGESP, devidamente registrado na Polícia Federal, adquirir equipamento de uso pessoal tais como: Placa balística ou colete balístico, cassetete de madeira ou de borracha, tonfa, armamento não letal, faca, câmera corporal, spray de pimenta ou lacrimogêneo, fardamento tático, Equipamentos de Proteção Individual.” (Trecho da SUG 13 de 2024)
- Há muitos anos que nós vigilantes aguardamos um legislação que nos traga mais valorização e direitos como segurança jurídica , autonomia, extensão do porte de arma, melhores equipamentos, qualificação, melhores condições de trabalho, aposentadoria especial, valorização salarial entre outros , parabéns CONASEP. R. . SILVA 21/09/2024
- Olá! Eu sou vigilante há 8 anos , está sendo bom o reconhecimento da nossa área. Mais precisávamos de alguém tbm quê ajudasse a nossa asse na parte do salario. O salário está defasado, lutamos muito pra sustentar uma casa com o baixo salário quê recebemos. Muitas das vezes temos quê trabalhar em dois empregos pra conseguir sustentar nossa família. Obrigada! M. BRITO.R. 03/10/2024
- Vai ser muito bom para a categoria de Agente de Segurança Privada, só tem que ser sério para não ficar armando pessoas despreparadas, já tive amigos que faleceram depois de um dia de trabalho. G. ROCHA NETTO 19/09/2024
- Acredito que ninguém pensou que o vigilante esta exposto a risco de acordo com art 193 da clt, e ninguém dos legisladores pensou na aposentadoria especial para nossa categoria que ao meu ver deve permanecer 25 anos de profissão sem limite de idade. Até porque muitos vigilantes trabalham como SPP para essas autoridades, ou seja arriscam suas vidas por eles entretanto não reconhecem esse serviço como especial. Lamentável – F. SOUZA 19/09/2024
- Reconhecimento dos profissionais da categoria perante sociedade, são positivos a mudança da nomenclatura, porte de arma estendida, proteção jurídica, aposentadoria especial, prisão especial, piso salarial, aumento da escolaridade, são mudanças necessárias e obrigatórias, devido a responsabilidade, e complexidade da profissão, pois atuamos com ímpeto, seriedade e profissionalismo na execução da missão com o risco da própria VIDA o que é um valor inestimável. Agradecemos a Câmara dos Deputados. J. AMERICO 01/10/2024
- Aspectos Negativos e Preocupações 1. Aumento de responsabilidades. 2. Pouca clareza sobre aumento real de benefícios. 3. A previdência não apresenta detalhes claros sobre como a aposentadoria seria ajustada. 4. Sem uma revisão periódica de salários e uma implementação concreta dos benefícios, é possível que essa lei seja vista mais como um “discurso político”. A ideia pode ser boa, mas a execução e o comprometimento é que definirá se a lei é boa. CAMPOS SANTOS 29/09/2024
- Eles focam muito no nível da escolaridade e esquece do psicológico. Muitos vigilantes não estão preparados para portar um armamento fora do trabalho, pois não tem atenção necessária ou psicológico por parte dos empregadores ou dos cursos profissionalizantes. E também, a porcentagem na prova prática de tiro deve ser de no mínimo 80% S. GOMES 26/09/2024
Análise de sentimentos e visão geral sobre propostas e perspectivas de mudança
Uma análise de sentimentos realizada por um IA Premium contratada pela Revista Sociedade Militar, com base em comentários de profissionais de segurança privada sobre os projetos de lei e propostas em andamento mostra a expectativa e preocupações principais da categoria.
Para realizar uma análise de sentimento dos comentários fornecidos, considerando as técnicas mais recentes, como análise de sentimento baseada em palavras-chave e análise de polaridade (positiva, negativa ou neutra), o sentimento geral dos profissionais de segurança privada em relação aos projetos de lei (PLs) que visam melhorar suas condições pode ser avaliado da seguinte forma:
Sentimento Geral
A maioria dos comentários apresenta um sentimento predominantemente positivo, expressando esperança e apoio às propostas legislativas que buscam valorizar e melhorar a situação dos vigilantes. Muitos profissionais destacam o reconhecimento da categoria, o aumento de benefícios, como aposentadoria especial, melhores condições de trabalho, salários e porte de armas, como aspectos muito positivos.
Principais Expectativas
- Reconhecimento da Profissão: Um dos pontos mais mencionados é a valorização dos vigilantes como parte essencial da segurança pública. O desejo por uma mudança de nomenclatura (de “vigilante” para “agente de segurança privada”) reflete essa expectativa de maior reconhecimento.
- Melhoria nas Condições de Trabalho: A maioria dos vigilantes vê a proposta de lei como uma oportunidade para finalmente receber um piso salarial adequado, seguro de vida, assistência jurídica, aposentadoria especial e proteção jurídica.
- Qualificação e Porte de Armas: A exigência de ensino médio para exercer a função e o porte de arma fora do horário de trabalho são temas frequentemente mencionados. Há uma expectativa de que o aumento na qualificação trará melhorias para a segurança da sociedade e para os próprios profissionais.
Principais Preocupações
- Implementação: Embora muitos vejam o projeto de lei como positivo, há uma preocupação generalizada com a efetiva implementação das propostas, com temores de que elas fiquem no papel ou sejam mal executadas. Alguns participantes apontam que as mudanças podem ser apenas “discursos políticos”.
- Impacto Psicológico: Outro ponto importante destacado é a falta de atenção à saúde mental dos vigilantes. Muitos acreditam que não estão preparados psicologicamente para portar armas fora do trabalho, o que representa um risco adicional.
- Demora nas Tramitações: Há uma frustração com a lentidão das aprovações e com o fato de que muitas empresas não seguem as regulamentações, pagando salários baixos e não oferecendo os benefícios prometidos.
Com base em tudo que foi colocado acima percebe-se que os vigilantes, em uma posição incômoda diante dos altíssimos índices de criminalidade, enxergam as propostas como uma oportunidade essencial para melhorar suas condições de trabalho e receber o reconhecimento que acreditam merecer. Entretanto, o ceticismo quanto à implementação e as preocupações com questões psicológicas e de segurança também são fortemente presentes.
Robson Augusto. Militar RRm, especialista em Inteligência e marketing, jornalista – Revista Sociedade Militar
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