O incidente com o avião presidencial “Aerolula” nesta terça-feira, 1º de outubro, durante o retorno de uma viagem oficial ao México, trouxe à tona uma movimentação no governo que já vinha sendo discutida nos bastidores: a compra de uma nova aeronave para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com o susto causado por uma pane no motor, o governo parece decidido a acelerar esse processo. Mas será que essa compra é realmente necessária ou apenas mais uma despesa que pode pesar nos cofres públicos?
O Incidente
O “Aerolula“, um Airbus A319CJ em uso desde 2005, enfrentou uma situação de emergência logo após decolar da Cidade do México. Um barulho incomum alertou a tripulação sobre um possível problema técnico, obrigando o avião a sobrevoar a cidade por várias horas antes de retornar ao aeroporto. O incidente reacendeu a discussão sobre a troca da aeronave, uma demanda que Lula já havia colocado em pauta anteriormente. Lula alega que o atual modelo, adquirido também por sua gestão 18 anos atrás, está ultrapassado.
Diante desse cenário, o governo brasileiro começou a se mobilizar para adquirir um novo avião presidencial, mais moderno e com maior autonomia de voo. Desde o início de seu terceiro mandato, Lula defende a necessidade de substituir o “Aerolula” por um modelo maior e mais confortável, que permita longos voos sem escalas e acomode mais passageiros, incluindo ministros e autoridades.
O incidente gerou comoção dentro do governo, mas é válido questionar se a compra de uma nova aeronave é, de fato, a solução mais adequada. O “Aerolula” tem 18 anos de uso. No entanto, para padrões de aviação, não o torna obsoleto. Embora a aeronave tenha passado por situações como a falha recente, é importante considerar se os problemas não poderiam ser resolvidos com manutenção e modernização dos sistemas já existentes, em vez de uma troca completa, que certamente demandará um alto investimento público.
O custo de um novo avião
O governo avalia duas opções: a adaptação de um dos Airbus A330-200 adquiridos durante a gestão de Jair Bolsonaro, ou a compra de um avião completamente novo. Independentemente da escolha, o custo dessa operação não será baixo. Adaptações de aeronaves para uso presidencial incluem reformas extensas para acomodar sistemas de comunicação especiais, suítes privadas e reforços de segurança, o que pode tornar a operação tão cara quanto comprar uma nova aeronave.
Em tempos de restrição fiscal, uma despesa dessa magnitude inevitavelmente levanta questionamentos. Um novo avião presidencial pode custar centenas de milhões de reais, além de todos os custos associados à manutenção e operação de longo prazo. O governo chegou a citar a cifra de R$ 400 milhões.
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, já interrompeu suas férias nos Estados Unidos para retornar ao Brasil e iniciar os estudos sobre a possível compra. José Múcio deverá discutir o assunto com Lula e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno, nos próximos dias. De acordo com fontes do Palácio do Planalto, o presidente está decidido a não mais expor sua segurança a riscos desnecessários. Contudo, a decisão de adquirir uma nova aeronave não é apenas técnica, mas política.
A compra de um novo avião presidencial pode gerar críticas e afetar a imagem de Lula, principalmente em um momento em que a opinião pública está atenta aos gastos do governo. Qualquer aquisição desse porte será examinada de perto. O presidente precisará justificar com clareza os motivos que levam à substituição, especialmente em um contexto de incerteza econômica e demandas urgentes por investimentos em áreas como saúde, educação e infraestrutura.
Compra necessária ou despesa exagerada?
Embora a segurança do presidente seja uma questão de grande relevância, a compra de um novo avião levanta debates sobre prioridades e gastos públicos. O “Aerolula” ainda tem capacidade operacional, e a modernização da atual frota poderia ser uma alternativa menos onerosa para os cofres públicos. O governo precisa ponderar se, em meio a tantas demandas, a troca do avião presidencial é realmente a melhor escolha.
A mobilização para essa compra, após o incidente no México, pode ser vista sobretudo como uma precipitação. A decisão de substituir uma aeronave avaliada em meio bilhão de reais deve ser feita principalmente com cautela. É preciso levar em consideração tanto a segurança quanto o impacto fiscal e político. Resta saber se essa troca será bem aceita pela população e pelo Congresso Nacional, que precisará aprovar qualquer despesa dessa magnitude.