O 9º Batalhão de Engenharia (9º BE), primeira unidade brasileira a atuar na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, organizou uma homenagem aos 80 anos da participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em Aquidauana, Mato Grosso do Sul. O evento, que tinha o objetivo de rememorar o papel dos soldados brasileiros no conflito, acabou sendo alvo de críticas por erros históricos e, principalmente, por uma piada fora de contexto com o time de futebol Palmeiras.
“Palmeiras não tem mundial”
O ponto mais controverso da homenagem foi a inclusão de uma frase escrita em alemão em um dos cenários da encenação: “Palmen haben keine Welt“, que significa “Palmeiras não tem mundial”. A frase, que faz alusão à conhecida provocação no futebol brasileiro sobre o Palmeiras não possuir um título mundial, foi considerada completamente fora de lugar e desrespeitosa em um evento que tinha como foco homenagear os pracinhas da FEB.
Especialista critica o evento
O historiador, mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade e doutor em Comunicação e Cultura, Wilson de Oliveira Neto, analisou o evento e destacou a importância de retratar corretamente as efemérides militares. “Estamos tratando de eventos históricos ligados a momentos sensíveis da história do país, como os conflitos militares, nos quais vidas humanas foram perdidas. O mínimo de respeito com a memória desses mortos é retratar o evento de maneira historiograficamente e materialmente correta”, afirmou Wilson.
Ele também ressaltou que o Exército possui os recursos necessários para realizar boas encenações, como museus militares e profissionais qualificados. “Nós temos no Exército, no seu quadro de carreira, graduados e oficiais que são egressos dos cursos de História, que possuem pós-graduação em História e experiência em pesquisa, e que podem muito bem, serem mobilizados para produzir conteúdo e fazer uma curadoria dessas encenações”, comentou o pesquisador.
Wilson também criticou a inclusão de elementos caricatos, e alertou que esse tipo de abordagem “desrespeita o passado e a memória das pessoas que participaram dos eventos retratados”. Referindo-se a homenagens importantes, diz o historiador que “não basta fazer algo, é preciso fazer bem feito. Se for para fazer malfeito, então não se faça.”
Nota oficial do Comando Militar do Oeste
Após as críticas, o Comando Militar do Oeste emitiu uma nota oficial justificando o evento. Segundo o comunicado, “a ambientação foi cuidadosamente elaborada para proporcionar uma maior imersão do público no contexto histórico”. A nota ainda defendeu o uso dos uniformes e materiais, afirmando que “buscou-se uma representação que capturasse a essência do tema, mesmo com algumas variações”.
O Comando também informou que a montagem levou três meses para ser finalizada e destacou a presença de autoridades civis e militares, além de familiares de veteranos da FEB, durante o evento. Para o general Anísio David de Oliveira Junior, a homenagem foi uma “aula ao vivo” sobre a memória dos pracinhas.
Críticas à gestão dos recursos públicos
Wilson de Oliveira Neto também destacou a questão financeira, afirmando que o mau uso de recursos públicos é um problema recorrente em eventos desse tipo. “Fala-se tanto em mau uso de verba pública, e vemos a aquisição de uniformes que não têm nada a ver com os utilizados pelos expedicionários brasileiros na campanha da Itália. É preciso muito cuidado com os materiais usados nessas reencenações”, disse o historiador.