O Relatório Final da Comissão sobre a Estratégia de Defesa Nacional dos Estados Unidos (National Defense Strategy-NDS), elaborado por especialistas especialmente nomeados pela liderança do Congresso, traz à tona graves e pouco mencionadas ameaças que o país enfrenta e demanda medidas urgentes. Publicado recentemente, em julho de 2024, o documento é considerado um dos mais graves e enfáticos dos últimos anos.
Baseado na Estratégia de Segurança Nacional apresentada pelo governo Biden, o texto – preocupante e aparentemente colocado de lado de forma proposital pela grande imprensa – revela que os Estados Unidos nunca estiveram tão vulneráveis desde a Segunda Guerra Mundial, apontando para desafios extremamente significativos à sua liderança global.
No prefácio do relatório, o presidente e o vice-presidente da comissão emitem um chamado direto aos cidadãos americanos, alertando que “a população não está sendo convenientemente informada por seus líderes a respeito da ameaça que sobre eles pesa.” Eles enfatizam que os EUA estão perdendo sua hegemonia global e que é essencial agir imediatamente para reverter essa situação. O documento reforça que as recomendações são fruto de consenso bipartidário e que ações decisivas podem ser inevitáveis: “as conclusões e recomendações do Relatório são unânimes e refletem o bipartidário chamamento para uma ação urgente.”
As Principais ameaças que pairam sobre os EUA
Segundo o relatório, as principais ameaças à segurança dos Estados Unidos vêm de China e Rússia. A China, com seu rápido avanço tecnológico e militar, é considerada a maior ameaça. Seu controle potencial sobre Taiwan é visto como um ponto de inflexão, já que isso poderia conferir uma vantagem irreversível à China, especialmente no setor de semicondutores. A estimativa é que uma invasão chinesa a Taiwan poderia causar um impacto de até 10 trilhões de dólares, ou cerca de 10,2% do PIB global, devido às interrupções na cadeia de suprimentos de semicondutores . Além disso, o simples bloqueio econômico de Taiwan por parte da China já teria um impacto devastador, com custos estimados em 5 trilhões de dólares, o equivalente a 5% do PIB global .
A Rússia, embora tenha uma economia menos robusta, é considerada uma ameaça formidável devido ao seu elevado investimento militar e capacidades cibernéticas. Sob a liderança de Vladimir Putin, o país busca se consolidar como uma potência global, o que gera preocupação para os EUA. Ambos os países, China e Rússia, têm formado alianças com outros Estados autoritários, como Irã e Coreia do Norte, ampliando ainda mais o risco para a influência global dos Estados Unidos.
Ação urgente necessária
Diante dessa realidade alarmante, o relatório propõe uma série de medidas para fortalecer a defesa americana. Entre as recomendações estão:
- Mobilizar todo o poder nacional para fortalecer o sistema de defesa;
- Adaptar a base industrial de defesa para um ritmo de produção em estado de guerra;
- Aumentar o orçamento de defesa;
- Integrar as Forças Armadas e a diplomacia para reforçar alianças estratégicas;
- Estreitar laços com a OTAN e países da Bacia do Pacífico para conter as expansões de Rússia e China.
O relatório também sublinha a necessidade de os EUA adotarem uma nova abordagem estratégica, chamada “Multiple Theater Force Construct”, que prevê a capacidade de enfrentar conflitos simultâneos em várias frentes diferentes. Esse modelo se diferencia da estrutura usada durante a Guerra Fria, quando os Estados Unidos preparavam-se para dois conflitos distintos, geralmente um na Ásia e outro no Oriente Médio. A nova estratégia sugerida reflete o atual ambiente de segurança, no qual os adversários americanos já podem atuar simultaneamente em múltiplos teatros de guerra.
A Sociedade americana e os sacrifícios necessários
Um dos pontos centrais do relatório é o apelo à sociedade americana. Os especialistas alertam que o público em geral não tem plena consciência dos perigos que o país enfrenta, nem dos custos, tanto financeiros quanto sociais, para se preparar adequadamente. O documento afirma que os cidadãos não estão preparados para os impactos potenciais de um conflito, que poderiam incluir interrupções no fornecimento de energia, água e bens essenciais. A perda da posição dos Estados Unidos como superpotência global traria consequências profundas para a vida cotidiana de todos .
É feito um apelo claro para um “chamado às armas” bipartidário, com o objetivo de mobilizar a nação antes que um novo ataque surpresa, semelhante ao de Pearl Harbor ou ao 11 de setembro, ocorra. O apoio público será crucial para que os EUA possam fazer os investimentos e mudanças significativas necessários para proteger o país. “O público tem sido insuficientemente informado pelos líderes do governo sobre as ameaças aos interesses dos EUA”, afirma o relatório, que também sugere a necessidade de considerar uma mobilização mais ampla da sociedade, inclusive com incentivos ao serviço militar e público.
O papel do poder legislativo na unidade do país
Além de fazer um apelo à população, o enfático relatório critica a falta de ação efetiva de alguns líderes políticos. Ele enfatiza que “muito pouco progresso será possível sem o Congresso” e denuncia que disputas políticas internas têm comprometido a capacidade do país de enfrentar seus adversários de forma eficaz. A comissão reforça a necessidade de um trabalho conjunto e sugere que o Congresso retome a postura de colocar os interesses nacionais acima das disputas partidárias.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar