As mudanças climáticas estão no foco dos noticiários e na agenda política de todo o mundo, no entanto, para alguns parlamentares os efeitos da crise climática são apenas fruto da imaginação de cientistas e pesquisadores.
De acordo com um levantamento realizado pelo Farol Verde, do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), 70% dos deputados e 75% dos senadores se mostram contrários as pautas socioambientais. Para o climatologista Carlos Nobre, um dos mais respeitados cientistas brasileiros, o negacionismo parlamentar deve contribuir para piorar o cenário ambiental.
“Não podemos aceitar mais o negacionismo climático. A população brasileira é muito pouco negacionista, mas quando a gente vai na classe política aumenta muito. O nível de políticos que não querem aprovar orçamentos que vão nessas medidas de aumentar muito a resiliência dos brasileiros com relação aos extremos climáticos é alto. Então, nós temos realmente muito a mudar essa postura política”, disse Carlos Nobre em uma entrevista concedida em maio deste ano ao portal Congresso em Foco durante as enchentes do Rio Grande do Sul.
Confira a seguir alguns dos parlamentares que possuem baixa adesão nas pautas ambientais e que estão na lista do Farol Verde:
O agro é pop
Deputados e senadores da bancada ruralista negam os efeitos devastadores que a pecuária tem sobre o planeta, como é o caso do deputado Ricardo Salles (Novo-SP), ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro e um dos parlamentares que mais se opõe as pautas ambientais.
Na época em que era ministro, Salles questionou a “parcela de contribuição humana” nas mudanças climáticas. Durante a Conferência Mundial sobre o Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 26, em 2021, ele disse: “Os (países) ricos querem convencer o mundo de que o problema dos gases de efeito estufa está no peido de boi e não nos combustíveis fósseis que eles queimam loucamente há 200 anos”.
A fala do então ministro diz respeito a produção de gás metano produzido pelo gado durante a digestão e que possui efeito cientificamente comprovado sobre o efeito estufa. No Brasil, cerca de 70% da emissão de metano acontece no setor agropecuário.
Outro ruralista conhecido pelas posições favoráveis ao agronegócio, o senador e agrônomo Luis Carlos Heinze (PP-RS), é categórico em afirmar que não acredita no aquecimento global. “A agricultura brasileira não é responsável pelo aquecimento global. A causa desse problema não está no arroto, nos gases emitidos pelas nossas vacas, nosso gado. Ninguém fala da contribuição da China, dos Estados Unidos, da União Europeia, dos automóveis, que são os maiores emissores”, disse ao compartilhar opinião muito semelhante a Salles.
Teoria da Conspiração
Já para o filho do ex-presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), as mudanças climáticas são falsas e servem apenas para tirar o foco da população para que pessoas autoritárias tomem conta da liberdade da sociedade. “A tal mudança climática é apenas um pano de fundo para que pessoas autoritárias como Lula se apossem da sua liberdade. Essa é a única maneira, na cabeça dele, do socialismo dar certo”, afirmou o parlamentar em um post nas redes sociais.
É quente ou frio?
O deputado gaúcho Osmar Terra (MDB), ex-ministro da Cidadania de Bolsonaro, questionou em janeiro deste ano a veracidade do aquecimento global. “O que aconteceu com o aquecimento global?”, perguntou o deputado. “Noruega : Acabou de ter o dia MAIS FRIO do século em -49,7C. Suécia : Acabou de ter o dia MAIS FRIO do século em -43,8C. Finlândia : Acabou de ter o dia MAIS FRIO do século em -44,3C”.
Entretanto, o deputado fez uma pequena confusão em sua fala, ao citar as temperaturas dos países nórdicos. Isso porque, ao contrário do que disse o deputado, o aquecimento global envolve extremos de temperatura, seja frio ou calor, não apenas necessariamente o calor.
O deputado Alceu Moreira (MDB – RS) fez uma alegação parecida ao mencionar invernos rigorosos ao redor do mundo. Mas o parlamentar vai além das afirmações negacionistas. O deputado protocolou um projeto de lei que pretende alterar o Código Florestal e permitir o uso do solo de campos nativos para agricultura, pecuária e outros fins.
Até que se prove o contrário
O deputado Giovani Cherini (PL-RS) não apenas nega o aquecimento global como deseja provar que a pauta é uma “grande farsa” durante a COP-30, prevista para acontecer em Belém. Para isso, ele protocolou em maio deste ano, um pedido para a criação de subcomissão, na Comissão de Agricultura, para tratar do impacto das mudanças climáticas para a atividade agropecuária.
“Este fenômeno global que estamos vivenciando para alguns é impulsionado pelas atividades humanas, para outros é um resultado da variação climática natural. Fato é que a bandeira do aquecimento global atende a interesses políticos e econômicos que em muito afetam a nossa agropecuária”, escreveu Giovani no requerimento.
O parlamentar cita ainda que as “narrativas” das mudanças climáticas são tão irreais como a COVID-19. “Estão fazendo as mesmas narrativas que fizeram na covid. Venderam a ideia da máscara, venderam a ideia da vacina. Tudo narrativa, e agora caiu tudo por terra. A mesma coisa vai acontecer na questão do clima”, disse.
A culpa é de quem?
Carla Zambelli (PL-SP), Zequinha Marinho (Podemos-PA) e Paulo Bilynskyj (PL-SP) também estão na lista dos que não veem interferência humana na crise climática. Para Bilynskyj esse é um tema que não dá para ter certeza. “Quem acompanha o debate sobre mudanças climáticas não tem capacidade de afirmar com certeza nenhuma de que existe alguma participação dos seres humanos nas alterações climáticas”.
Fique de olho
No site Farol Verde é possível acompanhar o quão comprometido um parlamentar está em relação as pautas socioambientais. Basta acessar o endereço eletrônico e ficar de olho na atuação do seu candidato https://viradaparlamentar.org.br/parlamentares/?
Com informações do Congresso em Foco (UOL)