Enquanto a Europa lida com a alta nos preços dos combustíveis fósseis e a escassez de energia, a Islândia destaca-se como um exemplo global de práticas ambientais inovadoras. Com uma geologia única, o país tem aproveitado com sucesso a energia geotérmica para alimentar residências, indústrias e alguns dos destinos turísticos mais famosos do mundo. Esse compromisso com as energias renováveis não só representa um marco tecnológico, mas também oferece uma lição valiosa para outras nações em busca de reduzir suas emissões de carbono.
A transição da Islândia para as energias renováveis começou há quase um século, com a substituição dos combustíveis fósseis pela energia geotérmica. Hoje, mais de 70% da energia do país provém de fontes geotérmicas, o que reduziu a dependência de importações e gerou uma economia anual de cerca de 3,5% do PIB, em um país com menos de 400 mil habitantes. O sucesso dessa mudança pode ser visto em todo o território islandês.
Atualmente, cinco usinas geotérmicas fornecem aproximadamente um quarto da eletricidade da Islândia e cerca de dois terços do aquecimento das residências, com 90% das casas aquecidas por essa fonte de energia. No entanto, o crescimento populacional e a crescente demanda energética, especialmente nas áreas urbanas como Reykjavik, têm gerado preocupações sobre a sustentabilidade desse modelo a longo prazo.
O projeto de perfuração profunda da Islândia, iniciado na década de 1990, desempenhou um papel crucial na exploração dos reservatórios geotérmicos mais profundos. Poços foram perfurados a até 15 mil pés, permitindo o acesso a fontes mais poderosas de energia. O ex-presidente Olafur Ragnar Grimsson relembra quando a capital Reykjavik estava coberta de fumaça de carvão, em contraste com a realidade atual de uma economia baseada em energia limpa.
Além de utilizar a energia geotérmica, a Islândia também está promovendo uma economia circular, onde a eficiência no uso dos recursos é maximizada. Um exemplo notável é o Parque de Recursos em HS Orka, onde empresas de setores como aquacultura, biotecnologia e cosméticos reaproveitam subprodutos das usinas geotérmicas. Um caso emblemático é o da Blue Lagoon Spa, que reutiliza a água geotérmica usada para gerar eletricidade, transformando-a em um atrativo turístico lucrativo.
Apesar das conquistas, a Islândia enfrenta desafios que podem comprometer a sustentabilidade de sua energia geotérmica. As mudanças nos padrões de precipitação, o aumento da população e o crescimento do consumo individual pressionam a capacidade de geração de água quente. Relatórios da mídia local apontam que as empresas de energia podem ter que racionar água quente durante os meses mais frios, à medida que a demanda continua a superar a oferta.
Para lidar com esses desafios, as autoridades islandesas estão se comprometendo a expandir a produção de energia geotérmica nos próximos anos. Estima-se que a demanda por água quente em Reykjavik possa aumentar 3% ao ano, e os especialistas afirmam que será necessário dobrar a produção das atuais infraestruturas geotérmicas até 2060. Esse esforço exigirá grandes investimentos e inovação.
Atualmente, a construção de novas instalações geotérmicas leva cerca de quatro anos, o que pressiona ainda mais o sistema, dado o ritmo acelerado de crescimento da demanda. As complexidades na descoberta de novas fontes geotérmicas também apresentam desafios adicionais, mas o histórico do país em energia renovável sugere que soluções viáveis podem ser encontradas por meio de pesquisas contínuas e financiamento.
Com sua dedicação à energia geotérmica, a Islândia consolidou-se como líder em práticas ambientais e inovação. Embora enfrente obstáculos, o país continua a desenvolver modelos que equilibram crescimento econômico e sustentabilidade. Como o mundo busca soluções para a crise climática, a experiência islandesa demonstra que, com os recursos e estratégias corretas, é possível alcançar independência energética e proteger o planeta ao mesmo tempo.
Por fim, a Islândia mira a neutralidade de carbono até 2040, servindo como inspiração para que outras nações também adotem um futuro mais verde e sustentável.
Com informações de: Ecoticias