O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, se vê novamente no centro de uma polêmica jurídica e política. Esta semana, Evo Morales recebeu intimação para depor sobre acusações de estupro e tráfico de pessoas.
O caso, que ganhou ampla repercussão, levanta questões delicadas sobre o futuro político de Morales.
A investigação se desenrola em meio a um cenário de crescente tensão política na Bolívia. Além disso, suas consequências podem se estender para além das fronteiras do país, atraindo a atenção de líderes políticos da América Latina.
Acusações de estupro e tráfico humano
Evo Morales, que governou a Bolívia entre 2006 e 2019, está sendo acusado de ter mantido uma relação com uma menor de 15 anos em 2015, durante seu mandato. De acordo com o Ministério Público boliviano, Morales teria tido uma filha com a adolescente em 2016, configurando assim o crime de estupro de vulnerável. Além disso, também há uma acusação de tráfico de pessoas.
De acordo com o procurador-geral, Juan Lanchipa, Morales e os pais da jovem foram intimados a prestar depoimento no dia 10 de outubro, no Ministério Público, para esclarecimentos sobre o caso.
Em um ponto-chave da investigação, o ministro da Justiça, César Siles, destacou que o nome de Morales aparece na certidão de nascimento da filha da vítima. Esse fato reforça a gravidade das acusações. Apesar dessas evidências, o ex-presidente nega qualquer envolvimento. Além disso, Morales alega que já foi investigado anteriormente, em 2020, sem que nada tenha sido provado contra ele.
Morales fala em perseguição política
Evo Morales, por sua vez, afirma que as acusações fazem parte de uma perseguição política orquestrada por seu ex-aliado, o atual presidente Luis Arce. De acordo com Morales, o governo boliviano estaria usando o chamado “lawfare“. Trata-se de um termo que descreve o uso de processos judiciais como ferramenta de perseguição política, no caso, para tentar impedi-lo de disputar as eleições presidenciais de 2025.
“É uma perseguição permanente,” declarou Morales, comparando sua situação à prisão do ex-presidente brasileiro Lula e à condenação da ex-presidente argentina Cristina Kirchner. De acordo com Morales, em sua conta no X (antigo Twitter) “Assim como aconteceu com Lula e Cristina, eles querem tirar nossa participação dos processos eleitorais para abrir espaço para a direita”.
Morales também denunciou a existência de outros quatro processos abertos contra ele simultaneamente. De acordo com o ex-presidente, isso reforçaria a ideia de que sua prisão é parte de um plano mais amplo para afastá-lo do cenário político. Para seus apoiadores, essas ações são tentativas de criminalizar líderes de esquerda na região.
Implicações políticas e regionais
As acusações contra Morales repercutiram em toda a América Latina, principalmente entre os grupos de esquerda que o veem como uma liderança histórica na luta pela independência e soberania dos países da região. O Grupo de Puebla, que reúne líderes progressistas de todo o continente, manifestou preocupação com o que chamou de “campanha de lawfare” contra Morales.
Além disso, o episódio evidencia a fragilidade do sistema político boliviano, que vem sendo palco de sucessivas crises institucionais. As crises se intensificaram sobretudo após 2019, quando Morales renunciou em meio a alegações de fraude eleitoral. De acordo com analistas, a situação de Morales pode impactar as relações diplomáticas da Bolívia com outros países da região, principalmente se o ex-presidente for condenado e preso. Esse fato alimentaria ainda mais a narrativa de que líderes de esquerda estão sendo perseguidos judicialmente em toda a América Latina.