Na semana passada, um vídeo promocional do Kremlin deixou especialistas e analistas de defesa perplexos. O clipe mostrava soldados russos disparando um obus D-74, uma arma desenvolvida pela União Soviética no final da década de 1940, contra posições ucranianas em Donetsk. A questão que paira no ar é: como uma arma que deveria ter sido aposentada há décadas, uma verdadeira peça de museu, reapareceu no campo de batalha?
O D-74 e seu contexto histórico
O D-74, um obus de 122 mm, foi amplamente substituído por sistemas mais modernos, como o M-46, que oferecia maior alcance e eficácia. Com o tempo, a União Soviética exportou a maioria de suas unidades para aliados como Vietnã e China, o que faz sua recente utilização pelas forças russas ainda mais intrigante.
Possíveis origens do armamento
Especialistas levantam a hipótese de que o armamento pode ter sido importado da Coreia do Norte, país que ainda mantém esse sistema em seu arsenal. O Tenente-coronel aposentado Michael Purcell sugere que, diante das dificuldades logísticas enfrentadas pela Rússia, a munição e até mesmo os D-74 podem estar vindo diretamente da RPDC.
“Não é segredo que a Rússia tem dificuldades significativas com material e mão de obra”, disse o Tenente-coronel aposentado do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA Michael Purcell, que dá aulas sobre Rússia e Segurança Internacional na Universidade George Washington, ao site Business Insider. “E é seguro assumir que esses sistemas, ou pelo menos a munição, vêm da República Popular da Coreia do Norte.”
A estratégia de Moscou
Mas por que Moscou está recorrendo a tecnologias tão antigas? Jennifer Kavanagh, analista militar, aponta que a Rússia, ao divulgar o uso do D-74, pode estar tentando sinalizar sua capacidade de resistir e se adaptar em meio às duras sanções ocidentais.
“Dada a atenção às perdas russas nas últimas 6 semanas, divulgar o uso do D-74 pode ser a maneira da Rússia sinalizar sua resistência e capacidade de continuar lutando por mais algum tempo”, disse ela.
Implicações da presença norte-coreana
Em um momento em que as perdas russas têm sido amplamente discutidas, mostrar que ainda há recursos disponíveis pode ser uma estratégia para manter a moral. Além disso, as informações sobre a presença de soldados norte-coreanos na Ucrânia, bem como a possibilidade de eles estarem apoiando as operações russas, adicionam uma nova camada à complexidade do conflito. Autoridades em Seul confirmaram que relatos sobre baixas entre soldados norte-coreanos são “altamente prováveis”.
A utilização de um obus soviético da década de 1940 não apenas revela as dificuldades da Rússia em manter seu arsenal moderno, mas também enfatiza a natureza crítica da dinâmica de alianças em tempos de guerra. À medida que a Rússia busca novos suprimentos e apoio, o cenário no front continua a se desdobrar de maneiras inesperadas, mostrando que, na guerra, até os antigos podem encontrar um novo propósito.