Questionados sobre o motivo de prestar concurso público para forças de segurança mesmo após ter alcançado várias graduações na Marinha do Brasil, militares apontam como primeiro motivo os baixos salários, em segundo lugar as condições de trabalho com escalas de serviço muito apertadas e em terceiro lugar o baixo status na instituição, que dificulta direitos considerados básicos para um militar. As imagens de uam fila de militares ingressando em um quartel da Polícia carioca, divulgadas na internet, causaram forte impacto nas redes sociais de militares, que dialogam sobre as razões de sargentos e outros graduados abdicarem de suas divisas conquistadas.
Escalas de serviço extenuantes
Uma fala do ex-comandante da marinha, Almirante de Esquadra Almir Garnier, mencionou claramente uma questão que afeta diretamente a vida de militares de baixa patente na marinha do Brasil, a escala de serviço e jornada de trabalho. O oficial, enquanto comandante, determinou que não houvessem escalas menores que 3 x 1 na força. O oficial general mencionou que a escala de serviço tem relação com a qualidade de vida das famílias dos militares.
Para se ter uma ideia mais clara, um militar que trabalha em uma escala 2×1 passa cerca de 104 horas por semana dentro de uma instituição militar. Considerando que uma semana tem 168 horas, isso significa que esse militar dedica aproximadamente 62% de seu tempo à vida na caserna. Em comparação, especialistas em medicina do trabalho afirmam que a jornada de 40 horas semanais é o limite máximo recomendado para o ser humano, o que representa cerca de 25% das horas de uma semana.
Um artigo publicado pela Universidade de São Paulo, com base em texto da Science Direct, menciona os riscos à saúde para o ser humano que em jornadas de trabalho excessivsa: “… Os dados foram organizados em idade, sexo, região e em grupos de duração de jornada (até 48 horas; de 49 a 54 horas; e igual ou superior a 55 horas), entre os anos de 2000, 2010 e 2016. Em 2016, 398 mil pessoas tiveram mortes relacionadas ao AVC e 347 mil a doenças cardíacas, aumento de 19% e 42%, respectivamente. O fator de risco compartilhado por essas pessoas era a exposição a jornadas de trabalho iguais ou superiores a 55 horas por semana, 11 horas por dia, sem contar os finais de semana. Esses e outros resultados foram publicados em 17 de maio deste ano, na revista científica Environment International.”
Essa diferença bastanet significativa levanta questionamentos sobre os impactos dessa carga excessiva sobre a saúde física e mental dos militares. Tempo com a família é qualidade de vida, conforme coloca o almirante Almir Garnier, na mensagem acima.
Militarem mencionam que suportariam de boa vontade qualquer escala em situações excepcionais. Mas, explicam que esse tipo de escala ocorre em situações normais, sem guerra, sem GLO, sem emergências,sem nada que justifique.
Baixo status na instituição
Um livro pouco divulgado ainda disponível na Amazon, com o nome “Casa de Agonia”, escrito por Mário Lima Júnior, ex-militar da Marinha do Brasil, narra por um prisma bastante interessante algumas situações que deixam militares extremamente insatisfeitos, principalmente por se tratarem de “obrigações” estranhas à atividade militar que se aplicam a regalias nada compatíveis com o ambiênte militar concedidas para militares de alta patente enquanto, segundo a obra, militares de baixa patente são tratados como se não merecessem a mesma alimentação, o mesmo período de descanso, o mesmo tratamento humano.
“… das relações entre senhores e servos. Oficiais-generais, no topo da hierarquia, saboreiam pratos especiais, vinhos sofisticados, uísque, queijos e frutas selecionadas. Na outra ponta, servem carne de hambúrguer …”
“oficiais transformam navios de combate em hotéis com empregados dedicados a eles, gostam de ser bem servidos… um cabo arrumador me orientou a descascar as laranjas antes de servi-las e limpar as impressões digitais dos copos de vidro porque “os tenentes não gostam das marcas… Por aversão às frescuras na Força Armada mais antiga do Brasil, não por falta de compaixão, deixei a função de babá.”
O salário do militar da Marinha ou do Exército e o do policial militar no Rio de Janeiro e no Brasil, questões de segurança
A atividade policial no Brasil é considerada de alto risco, mas para quem ingressou em uma força armada por meio de concurso público isso não é problema. Militares juram dar sua vida para defender a nação e com frequência são convocados para missões arriscadas. Em cidades como o Rio de Janeiro obviamente a situação é mais complicada. Mas, “estamos preparados e a parte militar vai ser mais fácil ainda”, diz um militar da MB.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro confirmou à Revista Sociedade Militar que é verdadeira a fotografia que circulou nas redes sociais de militares nos últimos dias, mostrando sargentos, cabos e marinheiros entrando no centro de preparação da Polícia para verificação de documentos após aprovação no concurso para a instituição. Todos os militares aprovados no concurso sofrerão uma espécie de regressão hierárquica, voltando a ser recrutas.
Enquanto na Marinha, Exército e Força Aérea um oficial general, que passa todo o seu tempo em atividades burocráticas, pode receber um salário que equivale a 42 vezes o que ganha o soldado que está na ponta da linha, garantindo a execução da atividade fim da instituição, nas polícias militares, onde os militares de fato durante 100% do seu tempo – do comandante ao soldado – correm risco de morte – um oficial no último posto dificilmente recebe mais do que 10 vezes o salário de um soldado.
Essa situação leva a questões complicadas e que chegam a envolver a segurança das instalações, furto de armamento e divulgação de informações privilegiadas. Enquanto no Exército, por exemplo, um general mora em uma casa de alto padrão, em área nobre, fornecida pela força, com segurança particular etc. O soldado, cabo ou sargento, que faz a sua segurança, reside em uma comunidade que fica a duas ou três horas de ônibus ou trem, na periferia de algum grande centro e estão sujeitos a tido tipo de pressão por parte de membros do crime organizado que controlam algumas regiões, o que faz com que alguns até ocultem sua condição de militar
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar