Israelenses e europeus vieram novamente oferecer artilharia antiaérea para o Exército Brasileiro
Três empresas fabricantes de material de emprego militar fizeram uma recente visita à ESAI (Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea), na cidade do Rio de Janeiro, com o objetivo de apresentarem os seus portfólios de material de defesa, sobretudo no que diz respeito a baterias de artilharia antiaérea da faixa de média altitude e alcance. O Exército Brasileiro está em busca de um modelo que será essencial para proteger instalações militares e infraestruturas estratégicas do Brasil, e certamente a ESAI (OAI) é parte importante neste processo decisório.
A primeira empresa a apresentar os seus materiais, em 11 de setembro, foi a estatal israelense Rafael Advanced Defense System. Compareceram à ESAI o coronel da reserva do Exército Brasileiro Edson Ferreira Carneiro, que é o representante da Rafael no Brasil, e os senhores Eran Knan e Avi Krengel, gerente e consultor da empresa israelense, respectivamente. A Rafael é a produtora do famoso sistema de artilharia antiaérea de baixa altitude e alcance Iron Dome, ou Domo de Ferro, projetado especificamente para defender Israel contra ataques de foguetes de curto alcance e projéteis de artilharia.
Entretanto, a foto acima, da apresentação, nos dá uma pista de que não foi o Iron Dome que a Rafael veio oferecer ao Exército Brasileiro. Na foto, está claramente um sistema de artilharia antiaérea David’s Sling (ou Estilingue de Davi), produzido pela Rafael em parceria com a empresa norte-americana RTX, que é uma gigante de capital aberto.
David’s Sling é um sistema de artilharia antiaérea que pode engajar e destruir alvos voando na faixa de até 150.000 pés de altitude
O David’s Sling é um sistema de artilharia antiaérea que pode engajar e destruir alvos voando na faixa de até 150.000 pés de altitude, o equivalente a 45 km na vertical, e a uma distância de até 300 km na horizontal. Isso o classifica como um sistema de artilharia antiaérea de grande altitude e alcance, embora ele seja o mais versátil sistema de artilharia antiaérea da atualidade.
Por isso, ele cumpre a missão de artilharia antiaérea de média altitude e alcance dentro do sistema de camadas de artilharia antiaérea das Forças de Defesa de Israel. Até o momento, Israel é o único operador do sistema, que custa em torno de 336 milhões de dólares por bateria, mas já tem pedidos firmes das Forças Armadas da Finlândia e grande interesse das Forças Armadas da Austrália.
Dentro daquilo que o Exército Brasileiro está buscando na atualidade, que é um sistema dedicado à faixa de média altitude e alcance, nos parece que a Rafael também veio renovar a oferta do seu sistema de artilharia aérea Spyder, que, embora ainda não seja usado pelas próprias Forças de Defesa de Israel, é operado por oito países ao redor do mundo, como Azerbaijão, República Tcheca, Índia, Etiópia, Vietnã e Emirados Árabes Unidos. O Spyder pode engajar e destruir alvos a uma altitude de até 52.000 pés, o equivalente a 15 km na vertical, e até 50 km na horizontal. Uma bateria custaria aproximadamente 105,56 milhões de dólares.
Multinacional europeia MBDA ofereceu ao Exército Brasileiro o sistema de artilharia antiaérea de médio alcance e altitude EMADS, também conhecido como Land Ceptor:
Já no dia 25 de setembro, foi a vez da apresentação da empresa multinacional europeia com sede em Paris, MBDA. Compareceram à ESAI, representando a MBDA, o general de divisão da reserva Márcio Holland Rey, antigo comandante da própria ESAI, o engenheiro da MBDA Massimo Stini e o executivo comercial da MBDA para a América Latina, Ricardo Mantovani. Por essa fotografia divulgada, ficou evidente que a empresa europeia ofereceu ao Exército Brasileiro o sistema de artilharia antiaérea de médio alcance e altitude EMADS, também conhecido como Land Ceptor.
O EMADS já está em operação nas Forças Armadas britânicas e é o pacote terrestre de artilharia antiaérea da família de mísseis CAMM, produzidos pela filial britânica da MBDA. Esses mísseis são amplamente conhecidos por fornecerem proteção antiaérea em diversos navios de guerra ao redor do mundo, entre eles nas futuras fragatas brasileiras da classe Tamandaré.
Os mísseis antiaéreos CAMM podem engajar e destruir um alvo voando a uma altitude de até 33.000 pés, o equivalente a 10 km na vertical, e a uma distância de até 45 km na horizontal. Uma bateria custaria aproximadamente 111 milhões de dólares.
Durante o governo Dilma Rousseff, a MBDA chegou a oferecer ao Brasil uma parceria com a Avibras para produzir um sistema de artilharia antiaérea que dispararia os mísseis CAMM a partir do sistema brasileiro de lançamento de mísseis e foguetes ASTROS, mas a proposta não avançou na ocasião.
Apresentação da empresa privada alemã Diehl Defence, produtora do sistema de artilharia antiaérea de média altitude e alcance IRIS-T SL
Por fim, em 26 de setembro, foi a vez da apresentação da empresa privada alemã Diehl Defence, produtora do sistema de artilharia antiaérea de média altitude e alcance IRIS-T SL, que é a versão terra-ar do famoso míssil ar-ar IRIS-T, já empregado pelos caças F-39 Gripen da Força Aérea Brasileira. A empresa foi representada pelo coronel da reserva da FAB Dante Brandão e pelo senhor Roland Greiner, que fizeram a apresentação sobre o sistema IRIS-T SL, capaz de engajar e destruir uma ameaça aérea voando a uma altitude de até 65.000 pés, aproximadamente 20 km na vertical, e a uma distância de até 40 km na horizontal. O custo de uma bateria seria por volta de 120 milhões de dólares.
Essas apresentações vêm em um momento em que o Exército Brasileiro também está analisando a proposta indiana pelos sistemas Akash NG, que parece ser a proposta que tem a preferência do comando do Exército. O sistema Akash NG pode engajar e destruir um alvo voando a uma altitude de até 59.000 pés, aproximadamente 18 km na vertical, e a uma distância de até 80 km na horizontal. Uma bateria custaria ao redor de 111 milhões de dólares.
A oferta indiana está sendo negociada diretamente governo a governo e viria, a princípio, com transferência de tecnologia para o Brasil poder produzir e manter, no todo ou em parte, os mísseis Akash em nosso território, com software aberto para que o Exército Brasileiro possa usar no sistema indiano radares de produção nacional e um sistema IFF nacional de identificação de aeronaves aliadas e inimigas. Também haveria, como compensação, a compra indiana de até 80 aeronaves brasileiras Embraer KC, que seriam construídas na Índia com transferência de tecnologia.
Brasil tem tudo o que precisa para conduzir um sistema de artilharia antiaérea nacional
Brasil tem tudo o que precisa para conduzir um sistema de artilharia antiaérea nacional. Temos o lançador ASTROS, temos um sistema IFF nacional, que é o sistema de identificação de aeronaves aliadas e inimigas, temos o radar SABER M200 e temos uma parceria firmada com a África do Sul para a produção no Brasil de mísseis ar-ar A-Darter, para serem lançados pelo Gripen.
A África do Sul já está na fase final de desenvolvimento deste míssil, que poderia ser adaptado para ser disparado do solo pelos ASTROS. Falta apenas vontade política e iniciativa empresarial para juntar todos esses componentes em um sistema binacional do Brasil e África do Sul.