Declarações recentes do Ministro da Defesa, José Múcio o colocaram em uma posição delicada, culminando em um grave documento com solicitação de explicações feito pelo parlamento, iniciado pelo deputado federal Marcel van Hattem (NOVO-RS) sobre a condução da política externa brasileira. Durante um evento da CNI em 08 de outubro de 2024, Múcio expressou preocupação com a situação das Forças Armadas no quesito equipamentos, especialmente o atraso na aquisição de 36 veículos blindados com tecnologia de ponta do grupo israelense Elbit Systems.
O site cafezinho transcreveu a fala do Ministro da Defesa
“Qual é o nosso grande desafio? O absoluto desconhecimento do que somos e do que queremos ser. Nos últimos anos nós tivemos um retrocesso nos investimentos de defesa da ordem de 47%. Por quê? Ainda existem muito, por componentes ideológicos, por queixas políticas, por variações programáticas, que acham que a Defesa não. Funciona” (cafezinho)
A licitação
A licitação, vencida em abril pelo valor de R$ 1 bilhão, ainda não teve o contrato assinado, levantando indignados questionamentos sobre a influência de fatores políticos em decisões estratégicas para as Forças Armadas. O requerimento de Van Hattem (nº 3781/2024) solicita esclarecimentos ao Ministro das Relações Exteriores sobre a coerência da política externa brasileira em relação a países em conflito. Jornalistas especializados em política chegaram a especular que as declarações de Múcio poderiam criar atrito entre ele e o presidente Lula, colocando o ministro em uma situação delicada dentro do governo.
Mais de dez dias se passaram desde a declaração e, aparentemente, a relação entre ambos permanece inabalada. Em declaração publicada pelo G1 em 11 de outubro, o presidente Lula minimizou o episódio: “— O ministro José Múcio me ligou apavorado porque achava que falou alguma coisa que não deveria ter falado. Eu falei ‘José Múcio não se preocupe, aquilo que a gente falou já está falado, já foi explorado, esqueça, toca o barco para frente’ […] ‘Você não vai perder um centímetro de importância comigo por causa disso’. Sou muito amigo dele. Não abalou em nada a permanência dele no Ministério da Defesa”.
Pressão sobre o ministro
A fala de Múcio, na qual ele sugere que “questões ideológicas” impedem a concretização da compra, gerou forte repercussão e o colocou sob pressão. Conforme registrado no requerimento de Van Hattem, Múcio afirmou: “A questão diplomática interfere na Defesa. […] Venceram os judeus, o povo de Israel, mas por questões da guerra, o Hamas, os grupos políticos, nós estamos com essa licitação pronta, mas por questões ideológicas não podemos aprovar”.
A declaração, agora formalmente questionada, até hoje está ecoando e gera a necessidade de explicações não apenas para a cúpula das Forças Armadas, mas também para a base militar e a sociedade.
Declarações contraditórias
Enquanto Múcio alega interferência ideológica, o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, nega essa influência. Em entrevista ao O Globo em setembro de 2024, Amorim atribuiu o atraso a “questões políticas” relacionadas à situação de conflito em Israel. Van Hattem, em seu requerimento, destaca essa contradição e questiona: “Como o Itamaraty avalia o impacto da suspensão da compra de equipamentos israelenses na segurança e modernização das Forças Armadas brasileiras?”. As declarações divergentes, somadas ao questionamento formal, aumentam a pressão sobre Múcio.
Questionamentos do Congresso
O requerimento de Van Hattem aprofunda a polêmica. O documento questiona o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, sobre a coerência da política externa brasileira. O deputado argumenta: “Se o Brasil alega suspender contratos com Israel devido à guerra com o Hamas, como justifica a manutenção e ampliação de relações comerciais com a Rússia, envolvida em um conflito com a Ucrânia?”.
A indagação reforça que há entre os deputados suspeita de que fatores ideológicos e políticos estejam influenciando as decisões do governo e – pior ainda – as suspeitas são ligadas a questões de defesa nacional, que poderia estar sendo prejudicada por conta da visão de mundo de membros do governo. Van Hattem questiona ainda: “Há elementos de natureza ideológica influenciando a política comercial e de defesa externa do Brasil?”.
Impactos na credibilidade
A falta de transparência e as declarações contraditórias geram desgaste na credibilidade do Ministro da Defesa e do governo. Van Hattem, em seu requerimento, expressa a preocupação de que “um viés ideológico esteja prejudicando o relacionamento com Israel, em detrimento dos interesses econômicos e de defesa nacional”.
A situação levanta dúvidas sobre a capacidade do governo em tomar decisões estratégicas para a segurança nacional. Múcio terá que apresentar explicações convincentes para evitar maiores danos à sua imagem e à credibilidade do governo.