A Rússia tem demonstrado seu poder nuclear repetidamente este ano, em uma tentativa clara de impedir o Ocidente de fornecer apoio contínuo à Ucrânia. O presidente Vladimir Putin não hesita em destacar que o país possui o maior arsenal nuclear do mundo, uma verdadeira “máquina do Juízo Final“, usada como contrapeso à superioridade militar convencional da OTAN. Desde exercícios nucleares realizados em parceria com a Bielorrússia até a fabricação de novos mísseis de alcance intermediário, a mensagem é clara: o Kremlin está preparado para escalar a situação se necessário.
Segundo a Federação de Cientistas Americanos, a Rússia detém atualmente 5.580 ogivas nucleares, enquanto os Estados Unidos possuem 5.044. Juntas, essas duas nações concentram 88% das armas nucleares globais. O arsenal russo é constituído principalmente de armamento estratégico, incluindo mísseis intercontinentais balísticos (ICBMs), bombardeiros de longo alcance e submarinos nucleares armados.
Rússia tem investido fortemente na modernização, embora mantém em operação bombardeiros estratégicos Tu-95 e Tu-160
Desde que Putin assumiu o poder em 2000, a Rússia tem investido fortemente na modernização de sua tríade nuclear. O exército russo tem implementado os novos ICBMs móveis Yars e também o Sarmat, apelidado no Ocidente de “Satan II”, substituindo antigos mísseis R-36M. Apesar de alguns testes falhos, o Sarmat representa um avanço significativo na capacidade de ataque do país. Paralelamente, a Marinha russa incorporou sete submarinos da classe Borei, cada um equipado com 16 mísseis nucleares Bulava, e planeja adicionar mais cinco dessas embarcações à frota.
A força aérea russa mantém em operação bombardeiros estratégicos Tu-95 e Tu-160, ambos com capacidade de transportar mísseis de cruzeiro armados com ogivas nucleares. A Rússia também retomou a produção do supersônico Tu-160, com novas versões modernizadas, em resposta à necessidade de renovar sua capacidade de dissuasão.
Rússia dispõe de 2.000 armas nucleares táticas e novas doutrinas
Além de seu impressionante arsenal estratégico, a Rússia também dispõe de até 2.000 armas nucleares táticas, conforme estimativas dos Estados Unidos. Essas ogivas são menos potentes que as estratégicas, mas ainda assim capazes de causar devastação em escala local, especialmente no campo de batalha. Mísseis como o Iskander, que têm alcance de até 310 milhas, podem ser equipados com ogivas nucleares, assim como o míssil hipersônico Kinzhal, lançado por caças MiG-31. Ambos foram utilizados em suas versões convencionais no conflito com a Ucrânia, destacando sua versatilidade e eficiência.
A recente mudança na doutrina nuclear da Rússia marca uma virada preocupante. O novo documento permite o uso de armas nucleares em caso de um ataque aéreo massivo ou em resposta a ações convencionais que ameacem a própria existência do Estado russo. A ambiguidade deliberada nesta formulação visa criar uma camada adicional de dissuasão contra o Ocidente, ao mesmo tempo em que aumenta a tensão global. Putin já advertiu que qualquer ataque à Rússia com armas de longo alcance fornecidas pela OTAN pode desencadear uma resposta nuclear, levando o mundo a um estado de incerteza constante.
Controle de armas pelo Tratado New START e o futuro incerto
O Tratado New START, de 2010, atualmente limita a Rússia e os Estados Unidos a um máximo de 1.550 ogivas nucleares e 700 mísseis e bombardeiros implantados. No entanto, em fevereiro de 2023, Putin suspendeu a participação da Rússia no tratado, citando as tensões crescentes com o Ocidente como justificativa. Em uma manobra que intensifica ainda mais a disputa, a Rússia anunciou a retomada da produção de mísseis de alcance intermediário, anteriormente proibidos pelo Tratado INF de 1987. Esses mísseis, com alcance entre 310 e 3.410 milhas, são uma resposta direta à instalação de armamentos semelhantes pelos Estados Unidos na Alemanha.
Mesmo com o clima de tensão entre as duas superpotências nucleares, os Estados Unidos continuam a buscar o diálogo para a renovação dos acordos de controle de armas. Contudo, o Kremlin não demonstra interesse, pois, segundo Putin, os Estados Unidos estão determinados a infligir uma derrota estratégica à Rússia no contexto da guerra da Ucrânia, o que torna as negociações de controle de armas fúteis na visão russa.
Kremlin pedem o retorno dos testes nucleares como uma demonstração de força para o Ocidente
Nos bastidores, falcões do Kremlin pedem o retorno dos testes nucleares, suspensos desde o fim da URSS, como uma demonstração de força para o Ocidente. Em resposta, Putin afirmou que a Rússia retomaria esses testes caso os Estados Unidos fossem os primeiros a fazê-lo, ameaçando encerrar a moratória global que vigora há décadas.
A Rússia continua a exibir sua força nuclear em um cenário geopolítico tenso, com o objetivo de dissuadir o Ocidente de interferir no conflito com a Ucrânia. A modernização de seu arsenal e as mudanças em sua doutrina nuclear ressaltam a disposição do país em usar suas armas de dissuasão em uma estratégia que mistura poder e imprevisibilidade. Enquanto o mundo observa as movimentações de Moscou, a tensão entre as grandes potências nucleares não mostra sinais de alívio, e o futuro do controle de armas parece cada vez mais incerto.