Artigo exclusivo publicado na Revista Fórum aponta omissões operacionais e gravíssima negligência no GSI, ligando as gestões de Gonçalves Dias e Augusto Heleno ao colapso da segurança na Praça dos Três Poderes
O episódio conhecido como o 8 de janeiro de 2023 foi quando manifestantes invadiram prédios públicos em Brasília, incluindo o Palácio do Planalto. O evento é considerado como um momento crítico para a democracia brasileira, mas também foi preponderante para uma profunda crise no prestígio e na confiabilidade dos altos escalões militares do país, especialmente os oficiais generais do Exército, Marinha e Força Aérea.
A queda dos generais
O relatório sigiloso da PET 11.119 DF, elaborado pela Polícia Federal, lança luz sobre uma série de falhas operacionais e estratégicas do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que culminaram na vulnerabilidade do Palácio do Planalto.
“… uma série de erros que culminaram na vulnerabilidade do Palácio do Planalto. Entre os nomes centrais no documento estão Alexandre Santos de Amorim e Saulo Moura da Cunha, ambos ingressos na Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) durante a gestão do general Augusto Heleno, ex-chefe do GSI e agora investigado pela Polícia Federal por suspeita de envolvimento na tentativa de golpe.” (Trecho do artigo de Cleber Lourenço – jornalista)
Principais figuras envolvidas:
- General Augusto Heleno: Ex-chefe do GSI, agora investigado por suspeita de envolvimento em tentativa de golpe.
- General Gonçalves Dias: Então chefe do GSI, acusado de falhar no repasse de informações críticas.
- General Carlos José Russo Assunção Penteado: Secretário-executivo do GSI, criticado por não mobilizar tropas adicionais mesmo diante de alertas.
- General Carlos Feitosa Rodrigues: Responsável pela Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial, não elevou o nível de segurança apesar dos riscos.
O Impacto na imagem dos militares
A revelação dessas falhas e possíveis omissões intencionais teve e ainda tem um impacto devastador na imagem dos generais e, por extensão, das Forças Armadas brasileiras. O prestígio militar, que historicamente gozava de certa reverência na sociedade brasileira, sofreu um golpe significativo. Militares de baixa patente hoje reclamam da falta de reajustes salariais por conta de um ‘ajuste de contas” feito pela classe política contra a cúpula armada.
Fatores que contribuíram para o declínio do status dos generais
- Incompetência Operacional: A incapacidade de prever e responder adequadamente a uma ameaça clara à segurança nacional levantou sérias dúvidas sobre a competência dos líderes militares em funções estratégicas.
- Suspeitas de Conivência: As investigações sobre possível envolvimento de figuras como o general Augusto Heleno em tentativas de desestabilização democrática mancharam severamente a reputação dos militares como guardiões da ordem constitucional.
- Politização das Forças Armadas: A percepção por muitos de que altos oficiais estavam alinhados com interesses políticos específicos, de um lado e de outro do espectro políticos, em detrimento de seu papel constitucional como membros de órgãos de estado, erodiu a confiança pública na neutralidade militar.
- Falha na Cadeia de Comando: A aparente ruptura no fluxo de informações e na tomada de decisões revelou fragilidades alarmantes na estrutura hierárquica militar, tradicionalmente vista como um pilar de eficiência e organização.
Consequências e reestruturação do GSI
O escândalo resultou em uma série de exonerações e em uma tentativa de reestruturação do GSI sob a liderança interina de Ricardo Capelli. Essa movimentação sinalizou um esforço para desarticular redes de influência que comprometeram a segurança presidencial e, por extensão, a estabilidade democrática do país.
Impactos de Longo Prazo:
- Revisão do Papel Militar: Há um crescente debate sobre a necessidade de reavaliar o papel dos militares em funções civis e de segurança não diretamente relacionadas à defesa nacional.
- Perda de Confiança Pública: A imagem dos generais como líderes competentes e confiáveis sofreu um golpe significativo, possivelmente levando anos para ser reconstruída.
- Maior Escrutínio Civil: É provável que haja um aumento no controle e na supervisão civil sobre as atividades militares, especialmente em funções que intersectam com a administração pública.
- Reforma Institucional: O episódio pode catalisar reformas profundas nas estruturas de segurança e inteligência do país, com ênfase em maior transparência e accountability.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar