Seis anos após o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro condenou, nesta quarta-feira (30), os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz pelo crime. Lessa, acusado de disparar os tiros fatais, recebeu uma pena de 78 anos e 9 meses de prisão, enquanto Queiroz, que dirigiu o carro usado na execução, foi sentenciado a 59 anos e 8 meses. A decisão trouxe um misto de alívio e emoção para as famílias das vítimas, que se abraçaram e aplaudiram a sentença no tribunal.
Apesar das penas elevadas, a redução das sentenças é uma possibilidade devido ao acordo de delação premiada firmado pelos réus, que colaboraram com as investigações sobre os mandantes do crime. Com essa colaboração, Élcio Queiroz pode sair da cadeia em 2031, enquanto Ronnie Lessa poderia alcançar o regime semiaberto em 2037, sendo libertado por completo até 2039. A delação, no entanto, pode ser anulada se for provado que houve falsidade ou omissão nas informações fornecidas.
A juíza Lúcia Glioche, ao proferir a sentença, enfatizou o longo caminho para a obtenção de justiça e reforçou o comprometimento do Tribunal em punir os responsáveis, mesmo que o processo tenha sido complexo e demorado. “A Justiça chega para aqueles que acham que jamais serão atingidos”, afirmou a juíza em um discurso que emocionou os presentes, incluindo os pais e familiares de Marielle, que se abraçaram em meio às lágrimas no tribunal.
Durante o julgamento, que começou às 10h30 e durou até quase meia-noite, oito testemunhas foram ouvidas, entre familiares, peritos, e agentes de segurança que participaram da investigação. Os depoimentos foram intensos e trouxeram à tona o sofrimento das famílias, principalmente quando Lessa, o atirador confesso, relatou friamente os detalhes do crime. A filha de Marielle, Luyara Franco, chegou a se retirar da sala durante o depoimento de Lessa, claramente abalada pelas palavras do réu.
Os dois réus também foram responsabilizados financeiramente, devendo pagar uma indenização total de R$ 3,5 milhões aos familiares das vítimas. Ambos, no entanto, foram transferidos para penitenciárias estaduais, deixando os presídios federais de segurança máxima onde estavam, e Lessa teve a casa de sua família na Zona Oeste do Rio desbloqueada pela Justiça.
O Ministério Público do Rio de Janeiro, responsável pela acusação, destacou que ambos os réus não confessaram os crimes espontaneamente e só colaboraram por temerem ser descobertos, o que, segundo a promotoria, coloca em dúvida a sinceridade de seu arrependimento. “Eles pediram algo em troca para contar o que sabiam, não se arrependeram de verdade”, declarou o promotor Eduardo Morais, que insistiu na condenação máxima e criticou o suposto arrependimento dos réus.
A composição do júri, formado por sete homens brancos, foi alvo de questionamentos da defesa e também gerou repercussão nas redes sociais. Os advogados dos réus utilizaram o direito de substituir três jurados e optaram por dispensar as únicas duas mulheres selecionadas, gerando controvérsias sobre a imparcialidade do processo.
Ainda que o caso de Lessa e Queiroz tenha sido julgado, a investigação dos mandantes do crime continua sob análise do Supremo Tribunal Federal (STF), uma vez que os nomes de deputados federais foram citados nas delações. A expectativa agora gira em torno do julgamento dos supostos mandantes, incluindo os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, apontados como responsáveis por ordenar o assassinato.
A condenação de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz representa um marco na luta por justiça para Marielle Franco e Anderson Gomes, trazendo uma sensação de alívio, mas também de que o caso ainda não foi completamente encerrado.
Fonte: G1