Elon Musk aposta que a energia solar pode abastecer os Estados Unidos por completo. Em uma declaração recente, o CEO da Tesla e SpaceX sugeriu que uma planta fotovoltaica gigantesca, ocupando cerca de 160 x 160 quilômetros no espaço, seria suficiente para atender à demanda energética do país. Segundo Musk, não precisaríamos de um reator nuclear ou de um investimento incalculável para realizar essa façanha, pois já temos um “reator” natural há bilhões de anos: o Sol.
A ousada proposta de Musk
A afirmação de Musk veio durante sua participação no podcast The Joe Rogan Experience, onde o bilionário detalhou o potencial da energia solar para suprir as necessidades energéticas americanas. Ele explicou que uma área de 100 milhas por 100 milhas (aproximadamente 160 x 160 quilômetros) coberta com painéis solares poderia fornecer energia para todo o país. Surpreso com a magnitude do projeto, o apresentador Joe Rogan pediu mais detalhes. Musk respondeu que, com painéis e baterias, esse cenário seria absolutamente viável, já que contamos com um “reator de fusão gigante no céu” em referência ao Sol.
Estrutura e armazenamento de energia solar
Musk acredita que, para que essa ideia funcione, é essencial um sistema robusto de armazenamento de energia, que poderia ser viabilizado com o uso de baterias de alta capacidade. Sua empresa Tesla já investe nesse campo, produzindo soluções como o Powerwall e o Powerpack, que são sistemas de armazenamento em larga escala. A aposta do empresário na energia solar é clara: em 2016, a Tesla comprou a SolarCity, uma empresa especializada em energia fotovoltaica, por 2,6 bilhões de dólares, consolidando seus esforços no setor de energias renováveis. A Tesla Energy Operations, divisão de energia da empresa, também tem projetos para ampliar o acesso a tecnologias de armazenamento de energia solar em grande escala.
Crescimento da indústria solar nos EUA
A visão de Musk vai ao encontro do momento de crescimento do setor de energia solar nos Estados Unidos. Em uma análise recente, a Solar Energy Industries Association e a consultoria Wood Mackenzie estimaram que a capacidade de geração de energia solar no país crescerá em 32 gigawatts (GW) até o final deste ano, um aumento de 53% em comparação a 2022. As projeções indicam que, até 2028, a capacidade operacional de energia solar dos EUA poderá atingir 375 GW, ilustrando o forte avanço do setor e o crescente interesse por fontes de energia renovável, tanto no país quanto na Europa.
O conceito SBSP e a exploração da energia solar espacial
Embora a proposta de Musk seja impressionante, ela não é a única visão ambiciosa para o aproveitamento da energia solar. A Agência Espacial Europeia (ESA) também tem desenvolvido uma estratégia para captar energia solar no espaço, conhecida pela sigla SBSP (Space-Based Solar Power ou “Energia Solar Baseada no Espaço”). A ideia envolve satélites de grande porte em órbita geoestacionária, que captariam a energia solar e a transmitiriam para a Terra em forma de micro-ondas de baixa intensidade. O projeto, no entanto, enfrenta desafios consideráveis, como o desenvolvimento de antenas receptoras de grande escala, a construção de estruturas complexas no espaço e o estudo dos efeitos de micro-ondas de baixa potência no ambiente terrestre.
A ESA já lançou a iniciativa SOLARIS, um programa dedicado a investigar a viabilidade da SBSP. A intenção é determinar se o conceito pode se transformar em uma solução prática e eficiente para suprir as necessidades energéticas de longo prazo.
Outras agências e o interesse global no SBSP
O conceito de SBSP também atraiu a atenção de outras potências espaciais. A Agência Espacial Japonesa (JAXA) tem analisado o potencial dessa tecnologia há décadas. Nos anos 90, o precursor da JAXA desenvolveu o projeto SPS2000, um sistema de geração de 10.000 kW, e na década de 2000, a agência japonesa e o governo trabalharam no conceito SSPS, projetado para alcançar uma capacidade de um milhão de quilowatts. Além disso, a NASA iniciou um estudo em 2022 para avaliar a viabilidade do SBSP e entender se a tecnologia merece investimentos significativos no futuro. Segundo Nikolai Joseph, do Escritório de Tecnologia, Política e Estratégia da NASA, com o avanço da tecnologia, a viabilidade desses sistemas pode mudar com o tempo. Recentemente, uma pesquisa das Universidades de Surrey e Swansea apontou que painéis solares leves e de baixo custo poderiam ser fabricados para geração de energia no espaço, reforçando o potencial da ideia.
Megaprojetos solares na Terra
Além dos projetos espaciais, muitos países também investem em grandes instalações solares aqui na Terra. A China, por exemplo, desenvolveu uma gigantesca fazenda de painéis solares na Mongólia Interior, cobrindo uma área de 1,4 milhão de metros quadrados com 196.000 painéis. Essa instalação se tornou uma das maiores do mundo em uma região desértica, e seu tamanho e capacidade mostram o potencial de geração de energia solar em terra. A própria Tesla tem se envolvido em projetos de grande porte para expandir a geração de energia solar, fortalecendo sua presença nesse mercado crescente.
A teoria da Esfera de Dyson
Se o projeto de Musk e as instalações de painéis solares na Terra parecem grandiosas, eles ainda ficam aquém de uma das ideias mais radicais de captação de energia solar: a Esfera de Dyson. Criada pelo físico Freeman Dyson nos anos 60, a Esfera de Dyson é uma estrutura teórica que envolveria uma estrela inteira para capturar sua energia. Segundo Dyson, uma civilização altamente avançada, em algum momento, precisaria aumentar drasticamente sua capacidade de geração energética, e a Esfera de Dyson seria uma forma de cobrir sua estrela com uma estrutura que absorveria toda a sua energia. Embora essa ideia seja impossível com a tecnologia atual, ela exemplifica até onde pode chegar a busca por fontes de energia quase ilimitadas e sustentáveis.
Essas propostas refletem o esforço contínuo de diferentes países, agências espaciais e empresas privadas em buscar soluções inovadoras para a demanda energética global. Elon Musk, com sua abordagem visionária, continua a estimular o debate sobre o futuro energético, mostrando que a exploração da energia solar – seja na Terra ou no espaço – pode ser uma das respostas para um mundo mais sustentável.