Em uma manhã de primavera no início do século XX, o mergulhador grego Elias Stadiatis desceu ao fundo do mar em busca de esponjas, em uma rotina que já era parte de seu cotidiano. Vestido com um pesado traje de mergulho de cobre e uma rede de tubos de respiração, ele se aventurou na escuridão do oceano. Porém, algo inesperado o aguardava nas profundezas: silhuetas assustadoras de partes de corpos humanos, espalhadas ao seu redor.
Ao retornar à superfície, Stadiatis relatou ao capitão, horrorizado, o que havia visto. Mas, ao investigar mais a fundo, percebeu-se que não eram cadáveres, e sim uma coleção de antigas estátuas de bronze e mármore, preservadas pelo oceano por mais de dois mil anos. Este era o navio romano conhecido como Antikythera, um tesouro submerso com relíquias que datam do primeiro século a.C. Essa descoberta revelou ao mundo uma das primeiras cápsulas do tempo do fundo do mar, repleta de obras de arte e objetos históricos.
Mergulhadores e tecnologia avançada unem forças para explorar os mistérios dos oceanos
Mais de um século após a descoberta do Antikythera, a curiosidade sobre o que os oceanos escondem só aumentou. Atualmente, a Unesco e outras organizações investem em expedições científicas para explorar e mapear o leito marinho em busca de outros naufrágios. Um exemplo recente é a expedição ao Banco Skerki, uma área traiçoeira entre o leste e o oeste do Mediterrâneo, onde centenas de navios afundaram ao longo dos séculos. Com a ajuda de sonares de última geração e robôs subaquáticos, cientistas de oito países mapearam a área e descobriram três novos destroços datados de períodos que vão do primeiro século a.C. até o século XIX.
Essas descobertas ressaltam o imenso potencial das tecnologias modernas em desbravar o desconhecido. Sonar de múltiplos feixes, câmeras de alta precisão e o trabalho de mergulhadores facilitam a exploração de áreas antes inacessíveis, revelando naufrágios em regiões de grandes profundidades. Estima-se que o número de navios afundados ainda a serem descobertos possa ultrapassar três milhões, segundo a Unesco, sendo uma grande parte concentrada em cemitérios marítimos ao longo de rotas populares, como o Banco Skerki e o arquipélago de Fourni, onde foram encontrados 58 naufrágios em uma única temporada de buscas.
San José, um galeão espanhol que afundou em 1708, avaliado em cerca de US$ 17 bilhões
Muitos dos destroços submersos são verdadeiras cápsulas do tempo, preservando não apenas objetos, mas também histórias sobre a vida de séculos passados. No entanto, essa fascinação por naufrágios também esconde riscos. Em 2015, a marinha colombiana localizou os destroços do San José, um galeão espanhol carregado de tesouros que afundou em 1708 durante uma batalha no Caribe. Avaliado em cerca de 17 bilhões de dólares, o San José ainda desperta disputa por sua posse e preocupação quanto ao risco de saques.
Desafios e riscos na preservação de tesouros submersos
A preservação de tais relíquias, seja para estudo arqueológico ou conservação histórica, enfrenta desafios. Por um lado, a tecnologia atual permite que qualquer explorador, equipado com sonares avançados, consiga localizar naufrágios antes inacessíveis. No entanto, essa mesma facilidade pode incentivar o saque de tesouros submersos. Com a crescente facilidade de acesso a esses locais, as questões sobre a proteção de sítios arqueológicos submersos se tornam ainda mais relevantes.