A França recentemente se tornou o primeiro país da União Europeia a acolher desertores militares russos sem passaporte, que decidiram fugir da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Esses ex-soldados, agora em busca de asilo político, arriscaram suas vidas para escapar do conflito militar. Alexander, um jovem russo que preferiu manter o sobrenome em anonimato, compartilha que “a deserção foi a única saída sensata” para quem se opõe à guerra.
Após uma longa jornada de fuga pelo Cazaquistão, ele e outros desertores chegaram à França entre 2022 e 2023, buscando proteção contra as consequências de se recusar a lutar em uma guerra de agressão.
A busca por segurança e a proteção na França
De acordo com a associação Pro Asyl, que defende direitos humanos e a proteção de refugiados, estima-se que 250.000 soldados russos fugiram da Rússia desde o início da guerra contra a Ucrânia em fevereiro de 2022. A maioria deles encontrou refúgio em países como Cazaquistão, Geórgia, Armênia, Turquia, Sérvia e Israel. No entanto, relatos indicam que alguns desertores foram deportados de volta para a Rússia por países como Cazaquistão e Armênia, expondo-os a graves riscos.
Entrar nos países do Espaço Schengen, que abrange grande parte da Europa, se mostrou extremamente difícil devido às rígidas restrições de visto, deixando muitos desses ex-militares russos sem opções seguras para fugir.
França lidera acolhimento de ex-militares russos
A decisão da França de abrir suas portas para ex-militares russos que se opõem à guerra reflete uma mudança significativa no cenário europeu. Os desertores, que já haviam passado por avaliações rigorosas no Cazaquistão, foram recebidos sob a condição de monitoramento de suas trajetórias, minimizando preocupações sobre segurança.
Alexander afirma compreender as precauções tomadas pela França, que teme que agentes de serviços secretos russos ou criminosos de guerra possam estar entre os desertores.
Desafios da fuga e o papel da União Europeia para os desertores
Os seis desertores russos, agora em solo francês, tiveram suas identidades e trajetórias cuidadosamente verificadas pela organização investigativa Conflict Intelligence Team (CIT). Alexei Alshansky, ex-membro do exército russo e integrante da CIT, ajudou na transferência desses soldados para a França, organizando a documentação e colaborando com ativistas de direitos humanos. Ele relata que o processo de defensoria desses desertores durou um ano e envolveu verificações rigorosas para garantir a segurança tanto dos ex-soldados quanto dos países que os acolhem.
Dos seis desertores, apenas Alexander estava diretamente envolvido na invasão da Ucrânia em 2022. Ele serviu como oficial na Península da Crimeia e, inicialmente, acreditava que estava participando de um exercício militar. No entanto, no dia 24 de fevereiro de 2022, ele e seus companheiros de exército foram repentinamente deslocados para a Ucrânia, sem qualquer aviso ou instrução específica. “Fiquei chocado e sem entender por que estávamos na Ucrânia”, relembra Alexander, que, posteriormente, buscou formas legais de se desvincular do exército russo antes de finalmente conseguir escapar para o Cazaquistão.
O longo caminho para a liberdade e asilo na França
Após a mobilização parcial decretada pela Rússia em setembro de 2022, Alexander viu-se diante de um dilema: permanecer e enfrentar a prisão ou arriscar a vida na linha de frente. Fugir para o Cazaquistão foi sua única alternativa viável, uma vez que o país permite a entrada de cidadãos russos sem passaporte. Lá, ele passou dois anos buscando apoio de ativistas de direitos humanos e visitando embaixadas ocidentais em busca de refúgio. Embora não tenha obtido status de refugiado no Cazaquistão, conseguiu prolongar sua estadia até conseguir a permissão de entrar na França.
A decisão de acolher Alexander e outros desertores russos reflete o apoio da França àqueles que se opõem à guerra da Rússia. Para Alexander, a entrada na França foi concedida não apenas por ser um desertor, mas por sua postura ativa contra o conflito.